Marilene é pós-graduada em Psicossomática e Psicopatologia, Geriatria e Gerontologia Social, com aprimoramento em Psicol...
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Além da preguiça e da falta de tempo disponível para praticar atividades físicas, o sentimento de ansiedade é uma das principais barreiras que impedem algumas pessoas de frequentarem uma academia — seja por não se adaptarem aos exercícios, por medo de cometerem erros e mesmo pelo julgamento.
“A pessoa se sente observada, julgada, com vergonha do corpo e das roupas que vai usar para treinar. A maior intimidação vem do medo da comparação, do julgamento e de ser observada por outras pessoas”, explica Rejane Sbrissa, psicóloga cognitiva especialista em compulsões.
Independente da origem, o medo de ir à academia é uma barreira que pode impactar diretamente a qualidade de vida. Praticar menos exercícios está associado a um aumento nos níveis de depressão, ansiedade e estresse, conforme apontou um estudo publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health.
O que causa o medo de ir para a academia?
A ansiedade de frequentar a academia está associada ao nervosismo e à preocupação antes de começar os treinos. Existem vários fatores que podem colaborar com esse sentimento, entre eles a baixa autoestima e a insegurança, conforme aponta Marilene Kehdi, psicóloga e especialista em atendimento clínico.
“Geralmente, as pessoas que têm baixa autoestima são muito inseguras, não confiam em si, têm medo de passar vergonha e problemas com a autoimagem. A baixa autoestima prejudica e deixa a pessoa mais vulnerável”, explica a especialista.
Além desses, existem outros fatores que contribuem para o problema. São eles:
- Não saber usar os equipamentos corretamente;
- Sentir-se desconfortável em roupas de treino;
- Sentir-se excluído ou intimidado por outros frequentadores da academia;
- Pensar nas críticas que pode receber das outras pessoas;
- Sentir-se desconfortável com o próprio corpo;
- Trocar de roupa na frente de estranhos;
- Suar muito e ficar com o rosto vermelho.
Impacto do isolamento na pandemia da COVID-19
Em virtude dos protocolos sanitários e das medidas de restrição da circulação social, a pandemia da COVID-19 provocou a redução de atividades físicas da população em geral. Mesmo existindo a possibilidade de adaptação das atividades em casa, algumas pessoas deixaram de ser fisicamente ativas.
Um estudo publicado no Journal of Clinical Sport Psychology apontou que, quando as academias fecharam no início da pandemia, houve um aumento significativo de estresse e de ansiedade — demonstrando que, embora possível, a rotina da academia é muito difícil de reproduzir.
“Com a pandemia, muitas pessoas engordaram, se descuidaram do visual, das roupas, da alimentação. E mesmo os que se cuidaram acabaram por se habituar a fazer tudo sozinhos, sem o julgamento e os olhos atentos de outros”, aponta Rejane Sbrissa.
Com o retorno gradativo das atividades em ambientes sociais, conforme acrescenta a especialista, ocorre o aumento da ansiedade, pois há o retorno da preocupação com as comparações e opiniões alheias, além da necessidade de satisfazer as cobranças sociais.
Como superar o medo de ir para a academia?
Independente da causa, o medo de frequentar a academia e de iniciar ou retornar aos treinos pode ser contornado a partir de algumas estratégias. Segundo Marilene, a calma é fundamental para superar o obstáculo.
“Com a prática de exercícios físicos, vai aumentando a motivação. A pessoa vai começar a produzir hormônios no cérebro que causam a sensação de bem-estar, que vão diminuir o estresse, a ansiedade e a depressão”, acrescenta a especialista.
A partir disso, conheça a seguir alguns métodos para retomar a autoconfiança e estabelecer uma rotina mais saudável e ativa.
1. Pesquise o local com antecedência
O medo do desconhecido pode provocar o aumento da ansiedade. Portanto, obter o máximo de informações sobre o local e sobre os profissionais que trabalham lá pode ajudar a obter mais confiança.
Uma dica interessante nesses momentos, segundo Rejane, é buscar informações on-line sobre as instalações, comodidades e ofertas de aula. Em algumas academias, também é possível ver a opinião de outros frequentadores sobre a própria experiência.
Depois de pesquisar o máximo de informações sobre a academia, você pode fazer um tour pelo espaço — familiarizando-se com o prédio e com os funcionários que trabalham lá.
2. Vá com calma
Perder o medo de frequentar a academia é um objetivo que requer calma e paciência. Por isso, é importante respeitar os próprios limites e não pegar pesado logo no início.
Comece devagar, definindo pequenas metas das quais você se sinta mais confortável. Vá aumentando o treino com o passar do tempo e com o aumento da autoconfiança.
3. Evite horários de muita lotação
A prática de exercícios em um ambiente como a academia é, para muitas pessoas, uma atividade um tanto quanto opressiva — especialmente quando o local está lotado e a pessoa fica mais suscetível ao olhar alheio.
Ainda que possa ser difícil para muitos conciliar o treino com o trabalho, existem horários com maior e menor concentração de pessoas. Então, basta procurar, seja na recepção ou com o instrutor, qual horário o local costuma estar mais vazio. Isso pode ajudar a ter mais tranquilidade no momento de fazer as atividades.
4. Faça uma aula experimental
Muitas academias oferecem a possibilidade de realizar uma aula experimental antes de fechar o plano de treinos. Assim, você pode se familiarizar com os equipamentos e com o clima do ambiente — além das pessoas que frequentam o lugar naquele determinado horário.
5. Vá com um amigo
Frequentar a academia com um amigo ou parente que já está habituado ao ambiente pode proporcionar conforto e orientação na hora de praticar os exercícios.
“Ter uma uma companhia agradável e que goste de estar junto, que estimule, que incentive e que goste da prática da atividade física e do ambiente ajuda muito aquele que tem dificuldade de ir para academia”, esclarece Marilene.
6. Contrate um personal trainer
Trabalhar com um profissional é uma excelente opção para aprender quais exercícios fazer e como executá-los, o que traz mais tranquilidade e confiança durante a atividade. Além disso, o personal também pode dar dicas de como configurar o treino e até programar os exercícios, dependendo do objetivo da pessoa.
7. Busque ajuda psicológica
A ansiedade é uma reação normal do ser humano e pode nos ajudar a enfrentar alguns eventos rotineiros. Mas quando ela vem acompanhada de sintomas mais graves e que interferem nas atividades do dia a dia, ela deixa de ser natural e passa a ser um problema que deve ser tratado com um especialista.
Por isso, fique atento aos sinais que indiquem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), como:
- Há preocupação excessiva, a ponto de interferir no trabalho, nos relacionamentos em outras partes de sua vida;
- Há sintomas de depressão, de alcoolismo ou de dependência a drogas;
- Há pensamentos ou comportamentos suicidas;
- Há sintomas que afetam o bem-estar físico, como fadiga, dor de cabeça e dificuldade de concentração.
Leia também: Crise de ansiedade: 12 sintomas que o corpo dá antes dela
8. Explore novas alternativas de treino
Com a pandemia, muitas pessoas precisaram se reinventar para manter os exercícios físicos regulares, a partir de treinos on-line e aplicativos fitness que permitem a prática em casa.
Se o ambiente de academia realmente não for confortável para você, procure algumas dessas alternativas que sejam mais práticas. Alguns aplicativos permitem alcançar uma rotina de exercícios com treinos guiados e até planos de treinos, sem a necessidade dos equipamentos da academia.
Além da musculação, existem outras alternativas que podem contribuir para o bem-estar físico e mental, como ioga, pilates e natação, por exemplo. O ideal é encontrar uma atividade que proporcione prazer e que seja agradável de ser praticada.