Formada em Psicologia pela Universidade de Brasília, com pós-graduação em Gestão de Pessoas e em Terapias Integrativas e...
iRedatora especialista em bem-estar, família, beleza, diversidade e cuidados com a saúde do corpo.
Apesar do crescimento dos produtos voltados para cabelos texturizados e da maior aceitação das curvaturas naturais, o padrão de beleza eurocêntrico segue enraizado no Brasil. Assim, quem não se encaixa nesse padrão pode sofrer discriminação - e o impacto disso pode ser ainda maior em crianças.
“É na infância que a nossa percepção a nosso próprio respeito está sendo formada. Por isso, os comentários negativos nessa fase impactam muito na autoestima e na autoimagem”, fala a psicóloga Ediane de Oliveira Ribeiro.
Pedido de mudança
Querer mudar o cabelo, o tipo de roupa ou acrescentar acessórios no visual podem ser pedidos comuns durante a infância e a adolescência.
“Os pedidos de mudança na aparência nessa fase estão, em geral, muito relacionados com a busca de pertencimento e aprovação. Por isso, partem do desejo de ser o mais ‘igual’ possível às outras crianças dos grupos que fazem parte”, explica Ediane.
Porém, quando a vontade de mudar tem como base o bullying, é preciso ter o dobro de cuidado e atenção ao lidar com a situação. Isso porque, segundo a psicóloga, esse tipo de atitude ajuda a concretizar o sentimento de rejeição e de vergonha de ser quem é.
Lidando com o problema
A infância é uma fase de alta vulnerabilidade para a construção da autoimagem e da autoestima. Ediane ressalta a importância em compreender e dar espaço para os sentimentos que estão por trás do pedido de mudança. O ponto principal é ajudar a criança a lidar com esses sentimentos através da conversa.
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“Principalmente quando o bullying tem origem em preconceitos arraigados em nossa sociedade, como o racismo. É muito importante ajudá-la a compreender que o problema não está nela e que ela não só tem direito de ser como é, como é belo ser como ela é”, diz.
Atitudes que ajudam
Além da conversa, alguns cuidados ajudam no processo de autoaceitação da criança. Confira alguns pontos importantes que devem ser levados em consideração listados por Ediane:
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1. Os pais são a primeira referência de uma criança. Logo, o modo como eles lidam com a própria imagem e com a autoestima vai ser transmitido aos filhos de forma natural. Por isso, o primeiro cuidado dos pais é com a autopercepção.
2. Vivemos em uma sociedade racista e isso impacta na educação de crianças pretas. Trazer o máximo de referências em que a criança possa se reconhecer é fundamental. A representatividade no universo infantil ainda não é forte como deveria, por isso, é preciso buscá-la intencionalmente: livros, brinquedos e filmes que tenham personagens que se pareçam com a criança ajudam a formar essa autoimagem positiva.
3. Busque espaço na relação com a criança para que ela expresse seus sentimentos e para ajudá-la a compreender as experiências que está passando e a sociedade em que ela vive. O cuidado e afeto dentro de casa são fortalecedores para a autoestima da criança.
4. A escola também tem um papel fundamental, pois é lá que essas interações estão acontecendo. Os pais precisam cobrar das escolas que suas diretrizes pedagógicas incluam atividades que promovam o respeito às diferenças e o combate aos preconceitos.