Clínico geral especialista em Medicina Preventiva. Formado pela Escola Paulista de Medicina, na Universidade Federal de...
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A mastectomia é um procedimento cirúrgico que consiste em remover uma (unilateral) ou duas mamas (bilateral) para tratar ou até mesmo prevenir o câncer de mama. A segunda opção, também conhecida como mastectomia dupla, é a menos utilizada; mas é a que tende a causar mais dúvidas e inseguranças em pacientes.
Afinal, receber a indicação de retirar as duas mamas pode soar um pouco agressivo, mesmo que isso aconteça apenas em casos específicos. “Essa cirurgia só é indicada se a paciente possuir alto risco de desenvolver câncer de mama, especialmente quando já apresenta mutação dos genes BRCA1 e BRCA2”, explica Carlos Machado, clínico geral especialista em Medicina Preventiva.
Isso significa que a mastectomia dupla costuma ser recomendada quando o tumor já atingiu as duas mamas ou se há grandes chances de se espalhar para a outra mama - nesse segundo caso, também é considerada uma mastectomia preventiva.
Apesar de ser uma decisão difícil, segundo o National Cancer Institute, a mastectomia reduz em 90% a 95% o risco de pessoas com mutação genética ou forte histórico familiar desenvolverem câncer de mama. E existem diferentes maneiras de realizar esse procedimento, sendo que a mais comum envolve a retirada do mamilo, da aréola, do músculo peitoral maior e da pele.
Mastectomia dupla aos 33 anos
Em junho de 2019, a biomédica Lorena Soares viveu uma situação, no mínimo, desafiadora. Diagnosticada com câncer de mama do subtipo hormonal, ela precisou passar por uma mastectomia dupla com apenas 33 anos.
O tumor, de tamanho já avançado, estava em apenas uma das mamas. Porém, a outra mama acabou sendo retirada de forma preventiva, para evitar que a doença voltasse a se desenvolver mesmo após o tratamento.
Por trabalhar com saúde, Lorena conta que receber o diagnóstico de câncer de mama não foi a parte mais difícil. “Como eu sou da área, a descoberta da doença me fez entender que era possível me tratar e me cuidar. Então, não foi tão chocante”, lembra a biomédica.
A quimioterapia oral e a radioterapia - métodos que também fazem parte do tratamento do câncer de mama - também não foram um problema. O desafio principal, no entanto, começou após a cirurgia de retirada das mamas. “Eu tive todas as chances e lutei bravamente, mas foi uma recuperação complexa”, desabafa.
Possíveis sequelas da mastectomia dupla
Para a biomédica, o momento mais complicado com o câncer de mama foi lidar com as sequelas do tratamento. Entre a menopausa precoce e as alterações corporais que acontecem durante o uso das terapias que atuam na remissão do tumor, a mastectomia dupla ainda provoca outros efeitos colaterais, como:
- Dor ou sensibilidade na região da cirurgia;
- Inchaço;
- Hematomas;
- Acúmulo de líquido e/ou sangue na ferida;
- Dormência no peito ou no braço (pode ser permanente ou temporária);
- Síndrome da dor pós-mastectomia, caracterizada por dor, queimação ou pontada persistente na parede torácica, na axila e/ou no braço.
Para pessoas que sonham com a maternidade e com a amamentação, a mastectomia dupla pode ser um desafio maior ainda, especialmente quando é feita a retirada total das estruturas mamárias, incluindo as glândulas e ductos mamários. Isso porque a pessoa fica impossibilitada de produzir leite e, consequentemente, de amamentar.
A autoestima também é bastante afetada, prejudicando até mesmo a vida sexual da paciente. Assim, o processo todo não é fácil. “Eu tive que aprender a ressignificar e achar um novo sentido para toda essa situação”, revela Lorena. Por isso, é muito importante ter um acompanhamento multidisciplinar antes e após a cirurgia de retirada das mamas.
Reconstrução mamária
Além de acompanhamento psicológico constante, a reconstrução mamária é uma ótima alternativa para recuperar a autoestima pós-mastectomia. A cirurgia pode ser feita junto à remoção das mamas ou posteriormente, com colocação de próteses de silicone, uso de expansores ou transferência de tecidos de outras partes do corpo para as mamas. Esse procedimento não inclui a reconstrução do mamilo e da aréola.
É importante ressaltar que existe a Lei nº 9.797, de 6 de maio de 1999, que garante o direito de realizar essa cirurgia reconstrutora de forma gratuita, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar disso, ao comparar o número de mastectomias com a quantidade de cirurgias reconstrutoras feitas pelo SUS, a diferença é inquietante.
Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, das 110 mil brasileiras que retiraram as mamas na última década pelo sistema público, apenas 25 mil passaram por uma reconstrução. Ou seja, o acesso ao procedimento não é proporcional e acaba afetando ainda mais a saúde mental dessa população.
Porém, além da reconstrução mamária, há outras técnicas que podem ajudar a restabelecer a autoestima das pacientes que não podem, não conseguem ou não querem fazer o procedimento. Entre elas, estão as tatuagens que cobrem a cicatriz ou até mesmo sutiãs adaptados com próteses embutidas. O importante, no fim das contas, é garantir que o câncer de mama e a mastectomia não atrapalhem a qualidade de vida e bem-estar da mulher.