Possui graduação pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1995), residência médica no Hospital das Clíni...
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Apresentar cólicas menstruais muito intensas, ter um fluxo de menstruação abundante e sentir dor nas relações sexuais com penetração são alguns dos principais sintomas de endometriose. Apesar de parecerem comuns, esses sinais são indicadores de que algo não está certo na menstruação e na saúde sexual e reprodutiva.
A endometriose é uma doença caracterizada pela presença de tecido endometrial, que reveste a cavidade interna do útero, na região da pelve e do abdômen. A doença atinge uma a cada 10 mulheres no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, e cerca de 180 milhões de mulheres em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mas, afinal, como identificar os primeiros sinais de endometriose e quando procurar um médico para investigar e tratar o problema? “A presença de um ou mais desses sintomas justifica a ida ao médico para identificar se a endometriose existe ou não”, afirma Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra, médico do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês. Veja, a seguir, quais são os sintomas de endometriose:
1. Cólicas menstruais duradouras e intensas
A cólica menstrual é um dos principais sintomas de uma crise de endometriose. Apesar de a dor na região do baixo abdômen ser comum durante o período menstrual, a dor intensa, duradoura e, por vezes, incapacitante não é normal e pode ser um indicador de endometriose.
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“É uma cólica que começa antes da menstruação, um ou dois dias antes, e perdura por todo o fluxo menstrual”, explica Alexandre. Com a evolução da doença, a cólica menstrual pode se intensificar cada vez mais e causar, também, dor nas costas, principalmente na região lombar.
2. Dor na relação sexual
Além da cólica menstrual, um dos sintomas de endometriose mais comuns é a dor durante as relações sexuais com penetração, também chamada de dispareunia de profundidade. “É uma dor como se o pênis estivesse batendo no fundo da vagina, em um local que causa dor e exige, muitas vezes, que a mulher mude de posição ou interrompa o ato sexual por causa da dor”, detalha o ginecologista.
Além da dor, em algumas mulheres, é possível ter sangramento durante o ato sexual devido à inflamação crônica causada pela endometriose. A dor é mais comum próximo ao período menstrual, mas pode acontecer em outros momentos do ciclo.
3. Infertilidade
A endometriose também pode causar infertilidade. “Se um casal está tentando engravidar, mantém uma frequência sexual de, pelo menos, três vezes na semana, ao longo de um ano, e não consegue engravidar, essa condição é chamada de infertilidade e a causa pode ser endometriose”, afirma Alexandre.
Isso pode acontecer porque a endometriose pode causar alterações anatômicas que impedem o funcionamento adequado das tubas uterinas. Além disso, a presença de células do endométrio inflamatórias em outras regiões fora da cavidade uterina pode afetar a qualidade do óvulo e a função do espermatozoide, dificultando a fecundação. Segundo a Sociedade Brasileira de Endometriose, mais de 30% dos casos da doença levam à infertilidade.
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4. Alterações intestinais
Alterações intestinais, como aumento da frequência de evacuação, diarreia e dor para evacuar, são alguns dos sintomas de endometriose no intestino. “Essas são alterações cíclicas, que acontecem no período da menstruação”, esclarece o ginecologista. “No período menstrual, a paciente tem seu intestino mais solto e, às vezes, diarreia”, completa.
Além disso, também pode ocorrer a presença de sangramento e mudanças na textura e no tamanho das fezes. “Se a endometriose estiver comprimindo o intestino e reduzindo a luz, as fezes podem ficar mais finas”, acrescenta Alexandre.
5. Vontade frequente de fazer xixi
A endometriose também pode atingir a bexiga e, com isso, causar algumas alterações fisiológicas, como a vontade frequente de urinar e a presença de sangue na urina. “Esses sintomas exclusivos no período menstrual também são indicativos de endometriose”, afirma o ginecologista.
Além disso, os sintomas de endometriose na bexiga podem incluir desconforto ao urinar, presença de pus na urina, micção urgente, dores nos rins e na região pélvica que pioram durante a menstruação, fadiga e cansaço; pode haver febre ou não.
6. Inchaço e dor abdominal
A barriga de quem tem endometriose também pode ficar mais inchada, com uma sensação de “estufamento”, principalmente durante o período menstrual. “Associado aos outros sintomas anteriores, a paciente pode ter o que chamamos de disquesia, que é inchaço, mal-estar, empachamento e dor abdominal. Se isso acontecer ciclicamente, ou seja, sempre no período menstrual, pode estar associado à endometriose”, explica Alexandra.
Esse é um sintoma comum, também, em quem possui endometriose intestinal e pode estar relacionado aos outros sintomas gastrointestinais já citados anteriormente, como vontade frequente de evacuar e diarreia.
7. Sangramento nas fezes e na urina
A presença de sangramento nas fezes e na urina, durante o período menstrual, também pode ser sintoma de endometriose profunda. Nesse tipo da doença, o tecido endometrial que cresceu fora da cavidade uterina está infiltrado mais profundamente no órgão afetado - pelo menos, por cinco centímetros de profundidade.
“A endometriose profunda pode acometer o intestino, a bexiga, o próprio ovário e a porção posterior do útero, além dos ligamentos uterinos”, explica Alexandre. “Normalmente, isso se percebe por uma alteração do intestino em seu funcionamento e no funcionamento da bexiga”, completa.
Na endometriose profunda, a dor típica da doença, que começa no período menstrual, pode se tornar uma dor crônica com o passar do tempo. “É uma dor contínua na região da pelve que, no período da menstruação, piora muito. Ela ganha maiores preocupações quando vem associada a sangramentos nas fezes ou na urina e quando essa dor é tão grande que incapacita a mulher de exercer suas atividades diárias”, afirma.
Como tratar e aliviar os sintomas de endometriose
O tratamento para endometriose varia de acordo com o grau da doença. Em casos mais leves, ele pode ser feito com medicamentos anti-inflamatórios, para aliviar a dor, ou com anticoncepcionais orais combinados (estrogênio e progesterona), que bloqueiam a menstruação e ajudam a reduzir os focos da doença.
Já em casos mais significativos, com sintomas mais intensos, o tratamento deve ser cirúrgico. Segundo o ginecologista Alexandre Pupo, as melhores opções são a laparoscopia e a cirurgia robótica. “São cirurgias minimamente invasivas, em que é possível identificar onde estão os focos da doença”, diz o profissional.
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Conforme ele explica, a endometriose surge como “pequenas ilhas” de tecido endometrial em locais próximos ao útero. “Se você remover 100% de toda a doença encontrada na cavidade peritoneal, ou seja, dentro do abdômen, você curou esse evento da endometriose”, afirma.
Porém, é importante ressaltar que a endometriose ainda não tem causa totalmente conhecida pela medicina e, portanto, ainda não se sabe o que deixa a paciente mais suscetível a ter a doença. “Mesmo após o tratamento daquele evento de endometriose, a mulher continua sujeita a um risco maior de ter endometriose de novo. Mas aquele evento, uma vez removido em sua totalidade, está curado”, finaliza.