Dr. Carlos Moraes se graduou na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 1991. Fez Residência Médica...
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Durante a gravidez, o corpo passa por diversas alterações hormonais e fisiológicas necessárias para o desenvolvimento do bebê. Por isso, é normal que alguns sintomas surjam, como enjoos, maior sonolência, inchaço e mudanças no apetite.
De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), praticamente 100% das gestantes apresentam de dois a três desses sintomas durante a gravidez. Porém, alguns sinais podem não ser tão comuns assim e não devem ser negligenciados.
“Estes sintomas deixam de ser considerados comuns quando se tornam intensos, constantes e comprometem a saúde do bebê e da futura mãe, demandando avaliação médica urgente”, alerta Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa de São Paulo, membro da Febrasgo e especialista em perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
A seguir, o médico cita seis sintomas que não são normais na gravidez e que merecem atenção:
1. Náuseas e vômitos em excesso
Náuseas e vômitos são comuns na gravidez, principalmente no primeiro trimestre. “Isso é um sinal de que o corpo está produzindo altos níveis de hormônios, essenciais para a manutenção da gestação”, explica Carlos. Segundo a Febrasgo, de 70% a 80% das gestantes apresentam náuseas e vômitos matinais, um quadro que é chamado de êmese gravídica.
Porém, se os enjoos e os vômitos estiverem frequentes, intensos e incontroláveis, é possível que a gestante tenha um quadro de hiperêmese gravídica. “Os principais riscos que as pacientes com esse quadro podem ter são, basicamente, de desidratação, já que ela perde muito líquido. Além disso, em alguns casos, é preciso internar para tratamento clínico”, afirma o ginecologista.
2. Corrimento anormal ou com odor
Ter corrimento, fora ou durante a gravidez, é comum quando sua cor é clara, o volume é pequeno e não apresenta cheiro e nem coceira. Porém, se ele vier em grande quantidade, apresentar uma coloração amarelada, esverdeada ou acinzentada, causar coceira, cheiro forte, dor ou, até mesmo, queimação ao urinar, pode ser sinal de vaginose ou de uma infecção sexualmente transmissível.
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“O principal risco de uma vaginose bacteriana está relacionado a um parto prematuro. Já as infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, HIV, hepatite e até herpes, podem ser contraídas durante a gravidez. Quando a infecção materna acontece, eventualmente, pode vir acompanhada de infecção fetal, o que pode levar a uma série de problemas, como restrição de crescimento intrauterino e malformações do feto”, alerta Carlos.
3. Sangramentos frequentes
Sangramento na gravidez pode causar preocupação, apesar de, nem sempre, ser algo perigoso. Ter pequenas perdas de sangue pela vagina é algo comum e pode indicar, inclusive, a nidação, quando há fixação do óvulo fecundado na parede do útero.
Porém, algumas características do sangramento podem indicar complicações mais graves. Fique atenta a sinais como:
- Sangramento com volume intenso e persistente
- Presença de coágulos no sangue
- Sangue acompanhado de dor abdominal ou pélvica
- Contrações uterinas frequentes e intensas que acompanham o sangramento
- Sangue seguido de queda na pressão arterial
Segundo Carlos Moraes, no começo da gestação, os sangramentos acompanhados de cólica podem significar abortamento ou gravidez ectópica. Já no final da gravidez, podem indicar possível parto prematuro, placenta prévia, descolamento prematuro da placenta ou ruptura uterina.
“Vale alertar que mesmo sem as características citadas, qualquer sangramento deve ser reportado ao seu médico. Ainda que pareça inofensivo, não significa que ele não possa oferecer riscos à gravidez”, frisa o ginecologista.
4. Pressão alta
A pressão alta é um dos sintomas que podem indicar a pré-eclâmpsia, condição que pode afetar gestantes a partir da 20ª semana de gravidez. Sua principal característica é a pressão arterial acima de 140/90 mmHg. Segundo dados de um estudo publicado no periódico UpToDate, a condição ocorre em 5% a 10% das gestações, sendo que 75% dos casos são leves e 25% são graves.
“O principal fator de risco para desenvolver pré-eclâmpsia é a primeira gestação. Além disso, essa é uma doença genética”, explica Carlos. “As principais complicações da condição incluem o pouco fluxo sanguíneo de nutrientes para o bebê, que pode causar uma restrição do crescimento intrauterino”, acrescenta.
O especialista também ressalta que as complicações também podem ser graves para a mãe. “A crise hipertensiva pode ser tão importante a ponto a paciente apresentar um quadro de convulsão. É o que chamamos de eclâmpsia, um quadro bastante grave, com alta mortalidade materna e perinatal. Então, todo o nosso esforço é para fazer um diagnóstico da pré-eclâmpsia para evitar a eclâmpsia”, diz.
Entre os principais sinais de pré-eclâmpsia, além da hipertensão, estão:
- Visão embaçada ou dupla
- Dor abdominal
- Dor de cabeça
- Perda de proteínas (notada no aumento de espuma na urina)
5. Inchaço nas pernas
O inchaço nas pernas é um sintoma comum na gravidez, principalmente a partir do terceiro trimestre da gravidez. Isso acontece devido à retenção de líquidos, que é bastante recorrente no período. No entanto, é preciso ficar atenta quando o inchaço é maior em uma só perna, pois pode indicar um quadro de “edema assimétrico”.
“A gravidez aumenta o risco de trombose venosa profunda, e um edema assimétrico pode ser o primeiro sinal de que uma veia da perna está sendo obstruída por um trombo (coágulo). A trombose dos membros inferiores é um quadro perigoso, já que ela é o principal fator de risco para a embolia pulmonar”, explica o especialista.
6. Dor ao urinar
A dor ao urinar durante a gestação pode ser um indicativo de cistite, uma infecção que acomete a bexiga, provocando sintomas como dor e ardência ao urinar. A doença pode ser causada por bactérias, como a Escherichia coli, por fungos ou, ainda, estar relacionada à infecção urinária.
De acordo com uma pesquisa do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), a cistite acomete cerca de 2% das mulheres grávidas, e está associada a um maior risco de infecção dos rins (pielonefrite) da mãe, além de nascimento prematuro, baixo peso do feto e aumento da mortalidade perinatal.
“Qualquer tipo de incômodo na região genital que surja ao urinar (dor, ardência, queimação, pontadas) deve ser comunicado ao obstetra”, orienta Carlos.