Adriana é graduada em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC com residência em Obstetrícia - Ginecologia e especiali...
iRedatora especialista na cobertura de conteúdos sobre saúde, bem-estar, maternidade, alimentação e fitness.
A mamografia é o principal exame para o diagnóstico precoce do câncer de mama e a recomendação médica é que ele seja feito anualmente pelas mulheres a partir dos 40 anos de idade. Apesar disso, grande parte do público feminino ainda desconhece essa recomendação.
É o que aponta a pesquisa “Câncer de Mama no Brasil: desafios e direitos”, realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) com 1.400 mulheres, a pedido da Pfizer. De acordo com o levantamento, 40% das entrevistadas acreditam que, em qualquer idade, a mamografia é necessária apenas quando outros tipos de exames, como o ultrassom, indicam alterações na mama.
Além disso, quase metade da amostra (48%) tem a falsa percepção de que, caso nenhuma lesão seja identificada na mamografia, a mulher fica liberada, a partir daquele momento, para fazer o autoexame em casa. Na realidade, o exame feito a partir da palpação deve ser feito rotineiramente por mulheres a partir dos 20 anos, assim como a mamografia deve ser repetida anualmente a partir dos 40.
Outro pensamento equivocado, descoberto pela pesquisa, é de que 63% das mulheres entrevistadas estão convictas de que o autoexame seria a principal medida para a detecção precoce do câncer de mama. Esse percentual chega a 68% entre as entrevistadas mais velhas, com 60 anos ou mais.
Leia mais: Sintomas de câncer de mama: conheça os 9 mais comuns
“A mamografia pode detectar tumores menores que 1 cm, enquanto aqueles muito pequenos podem não ser perceptíveis ao toque. Além disso, quando a mulher faz a palpação e não encontra alterações, pode deixar de fazer avaliações de rotina que detectam a doença precocemente, quando o prognóstico é muito melhor”, explica Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer Brasil.
Outro dado levantado pela pesquisa é que 26% também não sabem que mulheres sem histórico de câncer de mama na família devem fazer mamografia anualmente. O mesmo porcentual de mulheres considera que a mamografia é necessária apenas a partir dos 55 anos ou a partir do momento em que a mulher entra na menopausa, uma taxa que chega a 35% entre as entrevistadas das regiões de Belém e Recife, sendo 43% entre aquelas que estudaram somente até o fundamental e 23% no grupo do ensino superior.
O diagnóstico precoce para câncer de mama em jovens
Mulheres acima de 40 anos de idade apresentam maior risco de desenvolver câncer de mama. No entanto, o tumor também pode ocorrer em pessoas jovens, a partir dos 20 anos. Apesar de ser padrão ouro para o diagnóstico desse tipo de câncer, a mamografia não é recomendada para o público mais jovem, abaixo dos 40 anos.
Então, como as mulheres entre 20 e 39 anos podem realizar o diagnóstico precoce? “O que precisamos enfatizar é para que elas prestem atenção o histórico familiar, que elas valorizem qualquer queixa e tenham uma avaliação com seus ginecologistas anual, porque um exame físico feito por um profissional tem uma acurácia maior do que o exame feito pelo paciente”, afirma Solange Sanches, coordenadora da Equipe Mama do Centro de Referência em Tumores de Mama do A.C. Camargo, ao MinhaVida, durante coletiva de imprensa do Coletivo Pink.
Saiba mais: 9 tipos de câncer de mama
Já no caso das mulheres que têm um risco alto de desenvolver câncer de mama, ou seja, quando há um risco hereditário, o indicado é realizar um rastreamento específico, com ultrassom alternado com ressonância magnética de mamas. “Essa é uma conduta de exceção de rastreamento para as pacientes de alto risco com mutação genética”, afirma Solange.
Nem todas conhecem os fatores de risco para câncer de mama
Ainda há uma parcela das mulheres que não conhece todos os fatores de risco modificáveis, ou seja, que estão relacionados ao estilo de vida para o câncer de mama. De acordo com a pesquisa, apenas 32% das respondentes sabem que existe essa relação, ante 71% que acreditam que a principal causa da doença seria a herança genética.
Porém, os casos de câncer de mama causados por herança genética representam apenas 10% do total de diagnósticos. Os demais podem estar relacionados a outros fatores de risco, como idade, menarca precoce, menopausa tardia, histórico familiar e exposição à radiação. Entre os fatores modificáveis, estão a gravidez após os 35 anos, não amamentar, sedentarismo, dieta pouco nutritiva e consumo abusivo de álcool.
A maior parte das entrevistadas ignora a relação entre o estilo de vida e o câncer de mama: 70% delas não identificam a associação com o consumo de bebidas alcoólicas. A influência de sobrepeso e obesidade, principalmente após a menopausa, também é outro fator de risco desconhecido por 58% das mulheres participantes do estudo.
“Estamos falando de uma doença multifatorial, em que hábitos de vida e até comportamentos sociais, como a redução no número de filhos, são considerados fatores de risco”, reforça Adriana.
“Acreditar que a herança genética é o principal fator que determina o aparecimento da doença desencoraja a adoção de comportamentos que dependem da tomada de decisões e que realmente podem fazer a diferença nesse contexto, como a manutenção de um peso saudável a partir de atividades físicas e alimentação adequada”, completa.
Leia mais: 11 fatores de risco para câncer de mama
Por outro lado, mitos antigos sobre o que pode causar câncer de mama ainda persistem em algumas parcelas das entrevistadas. De acordo com o estudo, 37% delas ainda têm dúvidas de que o sutiã com bojo pode causar ou não esse tipo de tumor - o que não é verdade. Apenas metade das entrevistadas está convicta de que isso é um mito.
Quase metade das mulheres não conhece seus direitos
O levantamento do Ipec também mostrou que 45% das mulheres desconhecem seus direitos como pacientes oncológicas. Toda mulher que é diagnosticada com câncer tem direito a iniciar seu tratamento na rede pública em até 60 dias contados após o diagnóstico.
Além disso, caso exista uma suspeita de câncer, os exames feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para confirmar o diagnóstico devem ser realizadas em até 30 dias. Porém, esse é outro direito desconhecido por 44% das entrevistadas. Essas são medidas importantes para o diagnóstico precoce e para que o tratamento adequado seja iniciado rapidamente, aumentando as taxas de sobrevida.
Outro dado divulgado pela pesquisa é que 44% das participantes sabem da existência da Consulta Pública, uma ferramenta disponibilizada pelo governo para conhecer a opinião da sociedade sobre decisões ligadas às redes públicas ou suplementares de saúde. O conhecimento sobre esse tema é ainda menor entre as mulheres mais velhas (38%), ou seja, com mais de 60 anos.
Saiba mais: Câncer de mama masculino: sintomas e como diagnosticar
“Precisamos resgatar nas pessoas o senso de cidadania, o que se conecta com conhecer e exercitar direitos e deveres, em especial com relação à própria saúde. Conhecer não é privilégio, é oportunidade. E, se eu não me envolver, alguém vai se envolver por mim”, comenta Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia.