Médica anestesiologista e especialista em tratamento da dor, com certificado de área de atuação em Dor (AMB) e Dor Inter...
iA saúde do paciente deve ser analisada sob quatro pilares fundamentais: mente, corpo, espírito e aspectos sociais. Esses fatores precisam ser abordados de maneira holística para alcançar uma saúde plena.
Eles estão conectados e podem interferir um no outro. A dor e a saúde mental, por exemplo, estão intimamente entrelaçadas, formando uma via de mão dupla: a dor pode agravar condições de saúde mental, enquanto a depressão pode intensificar a sensação de dor. Esse ciclo vicioso pode levar à piora de ambas as condições, tornando o tratamento ainda mais desafiador.
A relação entre a dor física e a saúde mental
A dor aguda é um mecanismo de defesa do organismo, indicando uma lesão ou infecção. Já a dor crônica, que persiste por mais de três meses, pode ser desencadeada por uma série de fatores, incluindo condições físicas, estilo de vida e questões emocionais. Assim, problemas psicológicos intensificam a percepção de dor no corpo.
Nessa linha, há ainda os sintomas psicossomáticos, ou seja, a manifestação física de emoções. Distúrbios digestivos, dores musculares, enxaquecas e até doenças crônicas, como asma ou hipertensão, podem ser desencadeados ou exacerbados por fatores como estresse, ansiedade, medo ou tristeza.
Ao mesmo tempo, pacientes com dor crônica têm grandes chances de apresentarem condições psiquiátricas, como ansiedade ou depressão. Um estudo da Universidade de Jilin, na China, com a Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, indicou que 85% das pessoas que sofrem de dor crônica também desenvolvem depressão, tornando o manejo clínico desses pacientes mais complexo. Portanto, a dor aumenta a sensibilidade emocional dos pacientes, o que comprova a relação entre a manifestação dolorosa e a saúde mental.
Tratamento integrado
Pacientes com dor crônica enfrentam uma série de limitações em suas atividades diárias, o que pode comprometer a sua vida social e profissional, levando a maior probabilidade de desenvolvimento de patologias psicológicas. A dor constante, associada a doenças psicológicas, exige uma abordagem integral, individualizada e multidisciplinar, que considere tanto os aspectos físicos quanto os emocionais, podendo incluir diversas especialidades médicas.
É fundamental tratar não apenas a dor em si, mas também os fatores que a cercam, quebrando a cadeia do ciclo vicioso. Deve-se prestar atenção em sono adequado – evitando sua privação –, seguir uma rotina com exercício físico regular, alimentação equilibrada, gerenciamento do estresse, socialização e apoio de amigos e familiares.
Assim, alguns especialistas podem contribuir como psicólogo, psiquiatra, nutricionista, fisioterapeuta, médico especializado na área da dor e até mesmo anestesiologista. Para agir diretamente na sensação e minimizar as sensações dolorosas, a anestesiologia pode contribuir por meio de técnicas de bloqueios nervosos e controle de dor intervencionista. Esse pode ser o primeiro passo para contribuir com o tratamento, assim como pode agir de forma complementar na busca por uma melhora.
A combinação de técnicas médicas, terapêuticas e psicossociais oferece a melhor chance para que os pacientes com dor crônica e possíveis transtornos psiquiátricos possam alcançar uma melhora na qualidade de vida e garantam o bem-estar completo.