
Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.

O narcisismo, ou transtorno de personalidade narcisista, é uma condição onde, segundo especialistas, a pessoa apresenta pelo menos três características: um senso exagerado de egocentrismo, uma preocupação excessiva consigo mesma e uma falta de empatia pelas outras pessoas. O termo se popularizou bastante — há quem diga que estamos vivendo uma epidemia de narcisismo nas sociedades ocidentais modernas.
No entanto, muitas vezes ele é usado de forma equivocada para descrever alguém que é apenas egoísta. O narcisismo é um transtorno mais profundo e destrutivo, com efeitos devastadores sobre quem convive com a pessoa, como seu parceiro ou filhos.
Ser criado por um pai narcisista é emocional e psicologicamente complexo, e gera efeitos nas crianças que não se manifestam apenas na infância. Esses impactos também podem ser percebidos em comportamentos que surgem na vida adulta — e que, muitas vezes, representam o oposto do narcisismo: o ecoísmo.
O ecoísmo como resposta à educação narcisista
O neuropsicólogo Álvaro Bilbao afirma que “filhos de narcisistas podem ter maior probabilidade de desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e transtornos de personalidade”, mas também podem desenvolver ecoísmo, um traço de personalidade que decorre de sua baixa autoestima ou constantes sentimentos de culpa, algumas das consequências comuns de crescer com pais narcisistas.
O psicólogo Craig Malkin explica em seu livro “Rethinking Narcissism” que o ecoísmo é a ausência de um “narcisismo saudável” — uma fuga completa de tudo o que possa ser interpretado como narcisista, mesmo que de forma equivocada.
Pessoas ecoístas estão focadas em satisfazer as necessidades dos outros, evitando ao máximo considerar as próprias. São aquelas que não conseguem expressar seus desejos e pensamentos, que rejeitam a atenção e fazem de tudo para não serem um peso para ninguém.
São extremamente empáticas, mas incapazes de impor limites. Não se veem como merecedoras de atenção ou amor, e acreditam que suas necessidades não têm importância. Com frequência, assumem culpas que não são suas e se criticam constantemente. Acreditam que a felicidade dos outros importa — mas a delas, não.
“O ecoísmo é uma resposta traumática à exclusão”, afirma a psiquiatra Dana Wang, em entrevista à VeryWell Mind. Ela acrescenta que “essas pessoas se convencem de que suprimir suas próprias necessidades é a única forma de serem amadas”.
E, como era de se esperar, o ecoísmo costuma surgir por medo de parecer narcisista ou como um mecanismo de autoproteção.
Diferente do transtorno de personalidade narcisista, o ecoísmo não está listado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Ainda assim, especialistas o reconhecem como um padrão de comportamento relevante, que pode impactar significativamente os relacionamentos e o bem-estar emocional de uma pessoa.
Embora as pesquisas sobre a origem do ecoísmo ainda sejam limitadas, já existe uma percepção de que crescer com cuidadores narcisistas pode ser um fator significativo no desenvolvimento de traços ecoístas — como desenvolve a psicóloga Donna Christina Savery, em seu livro “Echoism: The Silenced Response to Narcissism”, e Craig Malkin, em sua obra.
Crescer com pais narcisistas pode ser traumático devido ao comportamento disfuncional que apresentam, e as experiências vividas durante a infância podem influenciar no desenvolvimento de certos traços de personalidade. No entanto, isso não significa que estamos condenados a ter uma vida infeliz.
É possível sobreviver e levar uma vida saudável mesmo após ser criado por um pai ou mãe narcisista. Mas tudo começa com o reconhecimento do que aconteceu na infância e com o pedido de ajuda a profissionais da psicologia, que podem nos orientar no processo de cura e reconstrução.
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