Em 1997, iniciou sua formação em Psicologia na Universidade Mackenzie, na cidade de São Paulo, concluindo o curso no fin...
iA motivação para a criação deste texto partiu da percepção que temos, por meio da prática clínica, da repetição de histórias muito parecidas vivenciadas por mulheres que se deparam com o diagnóstico de infertilidade.
A infertilidade, para a Medicina, é a dificuldade de engravidar após 12 meses de tentativas, sem uso de nenhum método contraceptivo. No entanto, para as pacientes que vivenciam esse problema, a infertilidade está além desta definição, é mais do que isso. Não conseguir gerar um filho com a pessoa amada e não conseguir dar continuidade à família é por demais frustrante e desmotivante.
Além disso, a sociedade estipula uma série de etapas a serem cumpridas pelas pessoas. Quando uma delas não é cumprida, aparecem as cobranças e imposições. Assim é se você não namora, precisa "arranjar" alguém; se já namora, precisa casar; e, se já casou, precisa ter filhos.
A imposição dessa ordem linear de acontecimentos colabora para pressionar ainda mais os casais que tentam engravidar. E, se estes não marcarem o seu espaço frente à demanda do outro, pontuando o que os incomoda, para se protegerem, as angústias podem tornar-se insuportáveis.
Misto de sentimentos
É comum perceber, com toda essa problemática, que as mulheres com dificuldade de gravidez começam a se fechar num mundo muito solitário e frio. Deixam de sair com receio dos comentários alheios, sentem-se inferiorizadas frente às demais mulheres, pouco dividem com seus companheiros sentimentos e pensamentos com medo da rejeição do parceiro e, em alguns casos, abandonam seus empregos para dedicarem-se exclusivamente ao tratamento para engravidar.
Com tantas limitações, a infertilidade acaba estando presente em tudo, uma vez que se configura como "não produzir, não criar". Se imaginarmos um terreno a ser germinado e colocarmos a infertilidade em apenas uma porção, com o passar do tempo, olhamos novamente este mesmo terreno e percebemos que a porção infértil ocupou uma área maior. Isso não precisa necessariamente ser assim.
Percebemos haver uma tendência das mulheres a levarem a infertilidade para outros espaços de sua vida, uma vez que a situação e os fatores a ela relacionados são frustrantes e angustiantes, gerando, principalmente, sentimentos de impotência.
Para contornar este período difícil da vida é necessário que essas mulheres consigam "adubar" e "preparar a terra" a fim de que outras produções sejam possíveis, expandindo seus horizontes para além da gravidez. O processo psicoterapêutico em muito auxilia essa questão. Algumas pacientes engravidaram justamente no momento em que se viam produtivas no trabalho e maduras em sua vida pessoal.
Para situações delicadas e singulares como o enfretamento da infertilidade conjugal não existem receitas prontas (para alguma dificuldade na vida existe?), mas, certamente, a busca por essa expansão de interesses trará um sentimento de eficiência e de auto-valorização para essas mulheres, enquanto a gravidez não vem.
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