Natural do Rio de Janeiro, graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1999, concluindo...
iNos últimos anos, houve um aumento de visitas no otorrinolaringologista de pacientes querendo solucionar o problema do ronco. Alguns vêem no ronco um problema social, que causa embaraço em viagens, ou com a (o) namorada (o). Outros sentem sintomas diurnos, tais como cansaço e dificuldade de concentração. Há, ainda, os que se preocupam se o ronco pode estar causando algum problema de saúde mais sério. Na verdade, todas estas questões são relevantes.
O ronco nada mais é do que o barulho originado pela vibração dos tecidos da garganta no momento da passagem do ar. Quanto mais esses tecidos vibram, mais a pessoa ronca. Essa vibração ocorre sempre que há um estreitamento no espaço por onde o ar deve passar, uma flacidez maior dos tecidos que formam as paredes por onde passa o ar ou ambas as coisas.
Se a pessoa tem uma "campainha" (úvula) muito comprida, por exemplo, a chance dela vibrar mais - causando ronco - é maior. O mesmo acontece com tudo o que ocupa muito espaço e diminui a passagem do ar pela garganta, como o aumento da base da língua, das adenóides (protuberâncias ou carnosidades que se encontram na parte interna superior do nariz) e das amígdalas.
Já em relação à flacidez dos tecidos, a obesidade é a maior vilã. Quando ganhamos peso, não acumulamos gordura apenas na barriga ou nos glúteos, mas também nos tecidos da garganta. Com isso, eles se tornam tanto mais espessos quanto mais flácidos, vibrando mais à passagem do ar e piorando o ruído. Portanto, excesso de peso é sim uma das causas de ronco, embora não a única.
Da mesma forma, com a idade, os tecidos ficam mais flácidos. Por isso, quanto mais envelhecemos, maior a probabilidade de roncarmos.
Aqueles que ingerem bebidas alcoólicas ou fazem uso de ansiolíticos (tranquilizantes) para dormir também roncam mais, devido novamente a um maior relaxamento da musculatura, tornando o arcabouço da garganta mais flácido e mais propenso à vibração quando o ar passa.
O ronco pode ocasionar enorme incômodo social e pode, por si só, desestruturar a arquitetura do sono, causar problemas diurnos de cansaço e dificuldade de concentração. Mas, seu barulho não é nem de longe uma ameaça tão grave quanto à apneia do sono.
A apneia do sono é a parada na respiração que ocorre quando o estreitamento ou flacidez na garganta chega a um ponto que impede, transitoriamente, a passagem do ar.
A pessoa literalmente para de respirar por alguns (ou muitos) segundos até que o cérebro emite uma ordem mais "vigorosa" e a pessoa puxe o ar com mais força para vencer a obstrução, "semi-acordando" para isso (o que os médicos chamam de microdespertar). Esse fenômeno repete-se várias vezes todas as noites, caracterizando a apneia obstrutiva do sono.
O corpo entende essas paradas respiratórias como uma situação de perigo, como se a pessoa estivesse realmente sendo sufocada. Isso leva a uma "descarga de adrenalina", que ocorre várias vezes todas as noites. Acredita-se que são essas "descargas de adrenalina" noturnas que trazem problemas em longo prazo para a saúde.
Já está mais do que comprovado que pessoas com apneia do sono moderada ou grave têm duas vezes mais chances de desenvolver problemas cardiovasculares - como infartos, hipertensão e derrames - do que a população em geral.
Esclarecendo uma pergunta freqüente: é extremamente improvável, no entanto, que uma pessoa com apneia do sono venha a morrer dormindo durante uma dessas paradas, a não ser que já tenha outra doença grave de saúde associada. O real problema está no desenvolvimento de doenças em longo ou médio prazo.
Quando recebemos um paciente com queixa de ronco, existem duas questões básicas que o otorrinolaringologista tenta responder:
1) O paciente ronca e tem apneia do sono (para de respirar) ou apenas ronca?
2) De onde vem o barulho do ronco (e possivelmente a apneia), isto é, qual o local da obstrução?
Para responder a primeira pergunta, procuramos identificar sintomas de sonolência diurna, dor de cabeça, cansaço e, até mesmo, impotência, que geralmente estão mais associados à apneia do que ao ronco simples. Mas, para ter certeza se há ou não apneia do sono (e graduar a sua severidade), é fundamental um exame chamado polissonografia. Neste exame, a pessoa passa a noite toda monitorada e podemos observar com exatidão quantas apneias ocorrem e quanto tempo duram.
A segunda pergunta será respondida pelo exame otorrinolaringológico, que identificará alterações anatômicas que propiciam o ronco e a apneia, tais como desvios de septo, alongamentos de palato e úvula, aumento das amígdalas e assim por diante. Quanto maiores as alterações anatômicas encontradas, maior a chance de uma abordagem cirúrgica beneficiar o paciente.
Com base nessa avaliação é que será então proposto um tratamento. Ele pode ser desde uma cirurgia até a utilização de uma máscara de CPAP (sigla em inglês para Pressão Aérea Positiva Contínua), que ajuda a pessoa a respirar melhor durante a noite.
Por fim, não acredite em propagandas que prometem melhorar ou acabar com o seu ronco com adesivos para o nariz ou pulseiras no braço. Não são produtos sérios.
Procure seu otorrinolaringologista e bons sonhos!
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