Médico cirurgião plástico formado pela conceituada escola da UFRJ, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plást...
iA reconstrução mamária é um procedimento específico e direcionado a uma mulher que passará ou já passou por uma experiência por vezes traumatizante e difícil, como a mastectomia. Por esse motivo, ela deve ser feita por profissionais com bastante experiência neste tipo de cirurgia.
A mastectomia e a reconstrução da mama constituem-se como terapias cirúrgicas disponíveis e ambas têm resultados semelhantes para a sobrevivência. A mastectomia é sempre uma experiência traumática que exerce forte influência no estado psicológico e na autoestima, independente da faixa etária. Já a reconstrução após a retirada do seio, seja parcial ou total, é um procedimento de extrema relevância para a recuperação da mulher.
Incidência do câncer de mama
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. Em razão da sua elevada incidência, torna-se uma das grandes preocupações, sobretudo pelos impactos psicológicos que acarretam para a saúde da mulher.
Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, a cada ano surgem cerca de 50 mil novos casos de câncer de mama. Desse número, 44 mil pacientes são enviados para internação para tratamento do tumor, mas 13 mil acabam chegando a óbito. Entretanto, sobre as mulheres que se submeteram à mastectomia, retirada total ou parcial da mama, e não conseguiram fazer ainda sua reconstrução mamária, não existem dados estatísticos.
Numa pesquisa realizada pelo Inca (Instituto Nacional de Câncer) na Região Sudeste, o câncer de mama foi apontado como o câncer mais comum entre as mulheres, com um risco estimado de 65 casos novos a cada 100 mil pessoas.
Além disso, outro ponto que vem chamando atenção é que o diagnóstico do câncer de mama em pacientes com menos de 40 anos subiu de três para 15% no total de casos dos últimos anos. Os especialistas atribuem esse fato a mudança nos hábitos de vida, o que estaria determinando essa alteração no perfil dos pacientes oncológicos.
Vale ressaltar também que a doença é a principal causa mundial de morte por câncer da população feminina entre 39 e 58 anos de idade. No caso de pacientes abaixo de 40 anos, a sobrevida tende a ser ainda menor, já que a doença costuma ser descoberta em estágios mais avançados. Isso porque estas pacientes não estão inseridas na rotina de rastreamento da doença e somente buscam auxílio médico quando o tumor já se apresenta palpável.
Por isso, mulheres de grupos populacionais considerados de risco elevado para câncer de mama, ou seja, com histórico familiar de câncer de mama em parentes de primeiro grau, é recomendado o exame clínico da mama e a mamografia anualmente a partir dos 35 anos. Quanto mais cedo for diagnosticada a predisposição e mais rapidamente a paciente iniciar o acompanhamento médico e a realização de exames, mais chances ela terá de se curar, caso venha a desenvolver a doença.
A mulher que realiza a reconstrução mamária sofre um impacto positivo sobre a saúde mental e a qualidade de vida, e, quanto mais precocemente for realizada, maiores serão os benefícios. Quando esse procedimento é feito, elas costumam ficar mais confiantes no tratamento, melhorando sua participação e motivação, diminuindo o sentimento de depressão e resgatando o amor próprio. Para reconstruir a mama existem diversos tipos de intervenções e cada método deve ser empregado de acordo com o quadro da paciente.
Tipos de reconstrução mamária
Primeiramente existe a técnica da reconstrução mamária com expansores teciduais, seguido do uso de prótese. Esta é realizada quando é possível a reconstrução imediata sem posterior radioterapia. A reconstrução tardia se dá somente em casos muito especiais, mas nunca com radioterapia. Neste caso, a prótese é colocada abaixo do músculo grande peitoral. Pode ser um implante definitivo, um expansor ou um expansor permanente, que eu, particularmente, aprecio mais.
Já a reconstrução mamária com retalhos miocutâneos de músculo grande dorsal e prótese é a mais comum. Ela pode ser feita em reconstruções imediatas e tardias e, resiste muito bem à radioterapia. Fazemos à transposição do músculo grande dorsal que ocupa o lugar em que estaria a mama, trazendo mais tecido e ganhando espaço. O implante fica abaixo do músculo grande dorsal, ficando protegido.
Há ainda outras formas de reconstruir a mama, como é o caso da reconstrução mamária com retalho miocutâneo de músculos abdominais. Este é um modo muito eficaz quando se tem um abdômen doador, possível de um resultado estético favorável na barriga, como uma abdominoplastia. O método resiste bem à radioterapia e pode levar uma quantidade maior de tecido. Não se faz necessário implante ea técnica consiste em transpor tecido do abdômen inferior através do músculo reto abdominal.
Em situações mais raras também é utilizado o procedimento de reconstrução mamária com retalhos micro-cirúrgicos. O tempo cirúrgico é muito grande e existe um índice frequente de necrose total do retalho. A técnica consiste em levar um músculo à distância, ligando os vasos deste a um vaso sanguíneo local.
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Por fim há o processo de reconstrução mamária com retalhos dermogordurosos de vizinhança e prótese, que é feito com retalhos fasciocutâneos regionais, que, quando bem indicados, apresentam bons resultados. No entanto, ele não resiste à radioterapia, por ser mal vascularizados. São retalhos locais que trazem tecido de vizinhança para suprir a falta no plastrão mamário, evitando o uso do expansor.
Já realizei centenas de cirurgias nesta área específica e sei o quanto este momento produz intenso estresse para a maioria que se submeteu a uma mastectomia, porque existe grande expectativa. Entretanto, com o avanço da medicina, atualmente se obtém resultados cada vez mais aprimorados e ao final a pessoa sente uma espécie de reintegração com seu próprio corpo. É muito gratificante poder elevar a autoestima da paciente e restaurar algo tão valioso para qualquer mulher.
Embora seja considerado um câncer de relativo bom prognóstico, as taxas de mortalidade continuam elevadas no Brasil. Isso se deve, muito provavelmente, ao fato de a doença ser diagnosticada em estágios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos do aparecimento do câncer é de 61%, sendo que para países desenvolvidos essa sobrevida aumenta para 73%. Já nos países em desenvolvimento fica em 57%.