Médico oftalmologista autor e editor de 15 livros sobre catarata, cirurgia refrativa e administração em oftalmologia.&nb...
iUma dieta que priorize vegetais de folhas verdes, nozes e peixes ricos em ômega 3 parece diminuir o risco de aparecimento da degeneração macular relacionada à idade (DMRI), principal causa de perda severa de visão em pessoas com mais de 60 anos.
Os resultados são de um estudo, publicado na revista Ophthalmology. A pesquisa foi a primeira a calcular o efeito combinado de certos nutrientes da dieta em relação ao risco de uma pessoa desenvolver a degeneração macular relacionada à idade. Os dados foram coletados de uma base de 4003 participantes do Age-Related Eye Disease Study (AREDS), realizado pelo Jean Mayer USDA Human Nutrition Research Center on Aging at Tufts University (HNRCA).
Pessoas com degeneração macular perdem a visão central do olho. Os pesquisadores ainda não têm certeza sobre o que causa a degeneração macular, mas os fatores de risco incluem o envelhecimento, o tabagismo, o histórico familiar e a obesidade. Embora a doença tenha um forte componente genético, um crescente número de pesquisas vem mostrando que comportamentos saudáveis podem reduzir o risco de aparecimento da doença.
Nutrientes que promovem a saúde ocular
De acordo com os pesquisadores americanos, os nutrientes da dieta relacionados com menor risco de degeneração macular são as vitaminas C e E, o zinco, a luteína, a zeaxantina e o ácido graxo ômega 3, conhecido como DHA e E.P.A. O betacaroteno, nutriente frequentemente associado com a saúde dos olhos, não foi relacionado como elemento de menor risco de degeneração macular.
A importância do ômega 3
O papel protetor dos peixes parece potencialmente ligado ao seu teor de ômega 3. Ainda não foram investigados completamente os impactos dos diferentes tipos de peixes ou frutos do mar como fator de proteção das doenças oculares, mas já sabemos que a ingestão elevada de peixes e frutos do mar ricos em ácidos graxos ômega 3, como o caranguejo e ostras, têm um efeito protetor sobre a retina, o que diminui o risco de desenvolvimento da DMRI.
O ômega 3 é importante para preservar os pequenos vasos que irrigam os olhos e ainda protege a retina contra inflamações. E não são apenas os peixes que merecem entrar no prato com mais frequência: as nozes também são protetoras da visão. Dois punhados por semana aumentariam o escudo contra o declínio da mácula. O azeite de oliva é outro exemplo. Assim como as oleaginosas, o benefício vem da mistura de gorduras saudáveis e substâncias antioxidantes, aquelas capazes de atenuar os efeitos do tempo na visão.
As gorduras benéficas selecionadas para o cardápio ainda mantêm um elo com a lubrificação do globo ocular. E quem se sobressai de novo é o ômega 3, também consagrado no combate ao olho seco. Esse problema é causado por uma mudança na composição da lágrima que umidifica a córnea, que passa a evaporar mais depressa. Como os lipídios são ingredientes desse líquido, há evidências de que o ômega dos peixes e da linhaça contribua para restabelecer a normalidade das lágrimas.
Por que prevenir o aparecimento da DMRI?
Ainda que não haja uma única causa conhecida para a origem da doença, sabemos que a idade é o principal desencadeador da DMRI e que existem outros facilitadores para o aparecimento da degeneração macular, como por exemplo, o excesso de colesterol no sangue.
A exposição à luz solar também pode desencadear a oxidação na mácula, por ocasionar morte celular na região e degenerá-la. Por isso, devemos, sempre, usar óculos de sol com proteção contra os raios UV-A e UV-B, que podem lesionar a retina.
Fumantes também têm mais propensão à doença, pois o cigarro acelera a oxidação do organismo e favorece a formação de drusas. As drusas são fortes indicativos de que há propensão para o surgimento da degeneração macular e mostram que o metabolismo está envelhecendo e não tem mais condições de eliminar as substâncias que produz.
Enquanto os estudos sobre a relação da dieta e a prevenção da degeneração macular ainda avançam, a forma mais efetiva de prevenir a doença ainda é o exame oftalmológico de rotina, que deve ser feito anualmente. O oftalmologista também pode solicitar exames complementares, como a angiofluoresceinografia e a tomografia de coerência óptica (OCT) para complementar o diagnóstico da DMRI.
A degeneração macular relacionada à idade atinge especialmente pessoas com mais de 60 anos e pode levar à acentuada perda da visão central, se não for tratada. Estima-se que aproximadamente 10% das pessoas entre 65 e 74 anos e cerca de 30% das com mais de 75 anos tenham a doença no mundo. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2,9 milhões de pessoas com mais de 65 anos sofrem com o problema no Brasil.
Para enfrentar a degeneração macular apropriadamente, precisamos de campanhas para a educação dos pacientes, especialmente os idosos, sobre a existência da doença. É preciso envolver o oftalmologista generalista e o paciente, visando capacitá-los a realizar a detecção precoce da DMRI, quando as chances de melhora da visão e o controle da doença são maiores. São necessárias também ações educativas após o diagnóstico da doença, para que o paciente faça o tratamento adequadamente.
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