Manuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO primeiro trimestre de vida dos bebês costuma ser um período de grande aprendizado para os pais. Entre muitas situações vividas, existe uma que se destaca: a cólica.
"Esse sintoma é muito comum nesta fase, porque o sistema digestivo ainda não está pronto. Sendo assim, os movimentos peristálticos (que empurram o alimento através do tubo) ainda são desordenados", afirma o pediatra Sylvio Renan Monteiro de Barros, da Sociedade Brasileira de Pediatria. Além disso, o especialista lembra que há muita formação de gases - eles surgem porque, quando o bebê mama, acaba engolindo ar ou por causa da fermentação, mais acentuada ainda na digestão do leite de vaca.
Cerca de um quinto dos bebês desenvolvem cólicas, geralmente entre a segunda e a quarta semana de vida. Eles choram intensamente, muitas vezes gritando, estendendo ou encolhendo as perninhas e soltando gases. O estômago pode ficar avolumado devido aos gases. O choro pode se estender durante o dia todo, piorando no começo da noite.
Como lidar com a cólica sem funchicórea
Restringir à dieta ao leite materno nos primeiros seis meses de vida (fase de amadurecimento do sistema digestivo e de cólicas mais fortes) é o primeiro passo para acalmar seu bebê. Mas nem sempre isso é suficiente e são necessários outros recursos para aliviar a dor - a funchicória, remédio que prometia dar fim ao problema, era um dos mais comuns. Composta por folhas de chicória, raiz de ruibarbo e flores de funcho, a fórmula foi novamente autorizada em julho de 2013 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Ela havia sido proíbida desde abril de 2012.
De acordo com o órgão oficial, o problema do medicamento era não haver garantia do fabricante de que a quantidade do ativo em todos os produtos em pó era igual. Ainda assim, alguns especialistas ainda têm o pé atrás com o medicamento. "Além dos extratos de plantas, a funchicória possui sacarina, um adoçante muito usado por adultos com diabetes e que pode ter efeitos graves nos bebês", afirma o pediatra. De acordo com ele, nenhum estudo conseguiu comprovar o benefício da funchicória no combate à cólica, mas existem várias pesquisas identificando os efeitos nocivos da sacarina, principalmente no desenvolvimento de câncer. "A ação calmante da funchicória tem relação com a sacarina, que estimula a liberação do neurotransmissor serotonina (gatilho natural de bem-estar)".
Saiba mais: Refluxo em bebês: tipos, causas e sintomas
Mas se você ainda não está seguro e prefere substituir o uso dessa fórmula, especialistas indicam nove artimanhas saudáveis para livrar seu bebê da cólica.
1. Amamentação
O pediatra Sylvio conta que essa é uma das maneiras mais eficazes de evitar as cólicas nos bebês. "O encaixe da boca da criança ao seio da mãe é muito melhor que ao bico da mamadeira", explica. Essa vedação faz com que o bebê engula menos ar durante amamentação, reduzindo a formação de gases. Além disso, o leite materno também fermenta menos no sistema digestivo do recém-nascido em comparação com o leite de vaca.
2. Atenção com a dieta
Mães de bebês com cólicas frequentes devem evitar alimentos com temperos muito fortes. Algumas substâncias presentes nos alimentos podem passar para o leite materno e chegar ao sistema digestivo do bebê, gerando cólicas.
O pediatra Jorge Huberman, do Instituto Saúde Plena, de São Paulo, explica que alimentos como brócolis, couve-flor, repolho e cebola, apesar de serem ricos nutricionalmente, podem alterar o sabor do leite e causar desconforto e irritação ao bebê. Leite e derivados (queijos, iogurtes e até a manteiga) podem causar reações alérgicas no bebê, manifestadas de minutos a horas após a mamada, com sintomas como diarreia, irritações de pele, desconforto e gases.
O chocolate, por conter cafeína e estimular a liberação de serotonina, também pode causar irritabilidade e aumentar os movimentos intestinais do bebê. Carnes vermelhas, por serem digeridas mais lentamente, podem ocasionar gases. E as leguminosas - feijões, grãos, favas e lentilhas, apesar de serem bastante nutritivas, podem ocasionar formação de gases. "O ideal é fazer uma lista com os alimentos que você costuma consumir e mostrá-la ao médico, perguntando se algum deles pode causar cólica no bebê".
3. Banho morno
Um banho morno pode ajudar a acalmar o bebê. A temperatura amena relaxa o corpo todo, até o sistema digestivo, que passa a sofrer menos com os movimentos peristálticos irregulares. "Esses movimentos no bebê estão presentes em dois sentidos, tanto da boca em direção ao ânus quanto do ânus em direção à boca", explica Sylvio Renan. "Evite essas contrações dolorosas com a água morna, mesmo se a cólica vier de madrugada", afirma o pediatra. Para isso, vale deixar um kit-banho preparado se surgir uma emergência e ter um aquecedor no quarto para o bebê não se assustar com o choque térmico.
4. Coloque o bebê para arrotar
Essa prática faz com que os gases, causadores das cólicas, saiam do estômago da criança e sejam eliminados. Isso ajuda a amenizar as dores, mas não deve ser tratado como regra. "Se a criança não arrotar em cinco minutos, a mãe pode deitá-la sem problemas", afirma Sylvio Renan.
5. Movimente o bebê
Quanto um adulto tem o intestino preso, o médico recomenda uma caminhada para estimular o funcionamento do intestino. Como o bebê não anda, flexione as perninhas dele em direção ao peito e movimente, como se ele estivesse pedalando uma bicicleta imaginária. O exercício manda embora os gases que provocam o desconforto.
6. Massagem
Uma boa massagem no abdômen do bebê, além de aquecer a região e aliviar a dor, favorece a movimentação intestinal, além da eliminação de gases e fezes. Faça movimentos circulares ao redor do umbigo no sentido do relógio
7. Mantenha o bebê aquecido
Bolsas de água quente e até o aquecimento com cobertores ajudam a aliviar a cólica, principalmente porque o bebê relaxa o corpo todo e acaba com a tensão também do tubo digestivo.