Aos 8 anos escutava alguém (vozes) me chamando, falando comigo, mas não era ninguém. Ao longo dos anos isso parou.Poderia ser esquizofrenia? Respostas dos nossos especialistas

Muito provavelmente não. A esquizofrenia é muito rara em crianças sendo mais plausível uma criança ouvir vozes pelo simples fato dela estar com angustiada, com muito medo, muito impressionada, nas chamadas ilusões catatímicas (onde ela tem a ilusão de estar ouvindo/vendo alguém a chamando) etc., no caso de doenças clínicas (febre, infecções, viroses, etc.). Crianças negligenciadas, que sofrem maus tratos, abusos, bullying, etc. têm mais chances de achar que estão sendo chamadas e nesses casos, cessada a causa que gerou essas impressões, a criança para de ouvir essas vozes. A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor (os chamados sintomas negativos da doença) ou, como nos exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios (que são os chamados sintomas positivos da esquizofrenia) por exemplo, ouvir vozes que vêm de fora da cabeça, por vezes vozes imperativas mandando que ele se jogue de uma janela. Os delírios, por exemplo podem ser de qualquer cunho, sendo comuns os de perseguição. Nos delírios persecutórios (paranóides), por exemplo, a pessoa ouve vozes (que ninguém mais escuta) e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário. Ou ela pode ter a crença de que outras pessoas podem ler sua mente, controlar seus pensamentos ou conspirar para feri-las. Isto pode aterrorizar a pessoa com a doença fazendo com que ela se isole ou fique extremamente agitada. É comum que os delírios acompanhem o início da doença. Se a pessoa for corretamente tratada desde o início, os delírios podem desaparecer totalmente ou parcialmente. Se a pessoa não for tratada logo e o quadro for se arrastando por muito tempo, ela geralmente vai se deteriorando cognitivamente, socialmente, afetivamente etc. É comum que nos casos crônicos e residuais, os delírios desapareçam. Nesses casos, as respostas emocionais tornam-se embotadas, superficiais, sem modulação e vazias. O discurso torna-se empobrecido em termos de palavras e significados. Existe uma alteração definida na "personalidade", com uma perda acentuada de interação interpessoal. Os relacionamentos mais íntimos perdem o calor e a reciprocidade, a interação social em geral se torna desajeitada, com frequência causando isolamento e retraimento. A iniciativa cede lugar à apatia, e a ambição, à falta da vontade. A perda de interesse estende-se aos detalhes diários de cuidados pessoais. A pessoa pode parecer esquecida e distraída. As habilidades acadêmicas ou ocupacionais perdem-se, resultando em um padrão de confinamento e isolamento das pessoas.Lembrando que a queixa “ ouvir vozes” não é prerrogativa da esquizofrenia, podendo ocorrer em várias outras situações como por exemplo nas depressões severas com sintomas psicóticos, intoxicações por uso de cocaína, anfetamina e outras drogas, etc. Outra possibilidade é de a pessoa não ser esquizofrênica, devendo ser reavaliada pelo psiquiatra regularmente.