É possível engravidar após 10 anos de ter feito vasectomia? Respostas dos nossos especialistas

A cirurgia esterilizadora masculina, conhecida como vasectomia, consiste na interrupção do caminho que os espermatozoides percorrem desde a produção nos testículos até a uretra (canal por onde se expele a urina e o sêmen). O nome técnico do canal descrito é ducto deferente. Existem dois, um para cada testículo. Esse método contraceptivo tem sido bastante utilizado nos últimos 10 anos por algumas razões: a regulamentação do método no Sistema Único de Saúde, menor preconceito masculino quanto a realizar uma cirurgia que antes possuía um estigma de afetar a potência sexual, obrigatoriedade dos planos de saúde em garantir cobertura para este procedimento, efeitos adversos dos contraceptivos orais na mulheres, e, sem dúvida, uma maior preocupação com o impacto de mais um filho no orçamento familiar.
Uma dúvida frequente do casal que busca um método contraceptivo diferente da "pílula" é sobre a possível reversão da vasectomia. A resposta aqui pode parecer contraditória, mas compreensível. Para o homem que está pensando em fazer a vasectomia ela deve ser considerada definitiva. Para aquele casal onde o homem se arrependeu e deseja ter outro filho ela pode ser revertida. A diferença é que nenhum paciente que não esteja muito decidido a não ter mais filhos deve optar por este método na esperança de que, caso se arrependa, pode recuperar a fertilidade novamente. Não temos como garantir que a cirurgia de reversão, que é uma microcirurgia com cerca de três horas de duração e não coberta pelas planos de saúde, pode restabelecer a fertilidade. Isso depende da capacidade dos testículos continuarem a produzir. Os estudos mostram que quanto maior o período de tempo de realizada a cirurgia esterilizadora, menor a chance de gravidez. Isso decorre do fato de, com o tempo, os testículos diminuem a produção dos espermatozoides. A possibilidade de gravidez natural (sem ajuda de métodos de reprodução assistida) após cinco anos chega a 60%, enquanto que depois de 10 anos de vasectomia cai para cerca de 30%. Precisamos ter cuidado na interpretação desses números pois existem variáveis que interferem nos valores. Exemplo: a idade da parceira atual. A idade da mulher é muito importante quando analisamos a fertilidade do casal. Quanto mais jovem a mulher, maior a chance de engravidar. Então se a reversão vai ser feita no homem que tenta engravidar uma mulher de 20 anos existe diferença para outro que está com uma parceira de 40 anos.
Existem ainda outros critérios prognósticos que precisam ser considerados, mas que além de mais técnicos exigiriam a visita ao consultório do médico e a cirurgia em si: o tipo de ligadura realizado (quando se cauteriza, queima, os cotos a chance de sucesso na reversão é menor), a distância do ponto de obstrução dos ductos até os testículos e a presença de espermatozoides com motilidade na secreção que sai dos cotos durante a tentativa de reversão.
A opção para uma reversão de vasectomia quando o prognóstico é ruim seria a extração de espermatozoides diretamente dos testículos. Isso mesmo: quando não é possível recanalizar o trajeto, podemos buscar os espermatozoides diretamente na fábrica. Nesse caso, após a obtenção de espermatozoides se faz um método de reprodução assistida. A escolha do método dependerá da quantidade e qualidade dos espermatozoides. Infelizmente, a reprodução assistida não é coberta pelos planos de saúde. Aqui se faz necessário uma ampla pesquisa e consultas para tomar alguma atitude com impacto financeiro.
Portanto, a reversão é possível sim. Converse com seu médico sobre os detalhes acima e decida com calma.