Gastroenterologista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com especialização pelo Hospital Federal de Lagoa...
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O que é Azia?
A azia, também conhecida como pirose, é caracterizada por uma sensação de desconforto e queimação na garganta e nas regiões superior e média do peito, além de um gosto ácido na boca. Normalmente é causada por um quadro de refluxo gastroesofágico (DRGE), uma doença que provoca o retorno involuntário do conteúdo do estômago para o esôfago.
Azia na gravidez
Por mudanças hormonais e mecânicas, como o crescimento do útero comprimindo as estruturas do abdômen, a azia é um problema comum durante a gravidez e pode surgir em qualquer período — embora seja mais grave no final da gestação, a partir da 24ª semana.
Cerca de oito a cada dez mulheres apresentam os sintomas de queimação no estômago e má digestão. Em alguns casos mais graves, pode ser necessária a internação para suporte clínico e hidratação.
Saiba mais: Azia na gravidez: conheça os sintomas e como tratar
Causas
A azia é causada pelo retorno involuntário do ácido gástrico para o esôfago, conhecido como refluxo — que, por sua vez, é provocada habitualmente pelo mau funcionamento de uma espécie de válvula, chamada esfíncter esofágico inferior (EEI).
Essa válvula se abre para o alimento passar do esôfago para o estômago e, em seguida, deve se fechar para reter o que foi ingerido e os sucos gástricos que circulam por ali.
Quando a válvula não se fecha com a pressão suficiente ou relaxa fora do momento correto — quando o bolo alimentar está no esôfago pronto para passar para o estômago, por exemplo — o conteúdo do estômago pode voltar para o esôfago. É esse material parcialmente digerido que pode irritar o esôfago, provocando alguns sintomas, entre eles a azia.
Saiba mais: Azia: 4 condições de saúde que podem ser a causa
Fatores de risco
Diversos fatores podem aumentar as chances do desenvolvimento da azia, tais como:
- Gravidez
- Hérnia de disco
- Obesidade
- Tabagismo
- Esclerodermia
- Alimentação inadequada
- Hábitos alimentares ruins
- Certas medicações como betabloqueadores, broncodilatadores, bloqueadores dos canais de cálcio para pressão arterial alta, agonistas dopaminérgicos, sedativos e antidepressivos tricíclicos.
Saiba mais: Estresse pode causar sintomas como azia e diarreia
Quais alimentos podem causar azia?
O consumo de certos alimentos também pode favorecer os sintomas. Confira alguns alimentos e bebidas capazes de provocar azia:
- Álcool
- Pimentas
- Chocolate
- Café
- Alimentos gordurosos
- Frituras
- Ketchup
- Mostarda
- Cebolas
- Suco de laranja
- Refrigerantes
- Molho de tomate
- Vinagre
Exames
O diagnóstico da azia é clínico e normalmente feito a partir da descrição de sintomas. Contudo, em alguns casos, ela pode ser confundida com outros problemas de saúde — o que torna necessária a realização de alguns exames para confirmar o quadro, como:
- Endoscopia digestiva alta para auxiliar na definição de prognóstico e conduta
- Phmetria esofagiana
- Esofagomanometria
- Impedanciometria
Buscando ajuda médica
Procure tratamento médico de um gastroenterologista ou clínico geral se você apresentar:
- Vômito com sangue ou aspecto de borra de café
- Fezes pretas (como piche) ou avermelhadas
- Ardor e uma pressão, aperto ou dor esmagadora no peito (às vezes, pessoas que acreditam ter azia na verdade estão tendo um ataque cardíaco)
- Azia com frequência, intensa ou recorrente
- Perda de peso não-intencional
- Dificuldade para engolir, em que os alimentos parecem ficar presos na garganta conforme passam
- Tosse crônica ou dificuldade para respirar
- Piora dos sintomas com antiácidos
- Desconfiança de que seus medicamentos possam desencadear a azia
Tratamento
O tratamento da azia varia de acordo com a causa e com o diagnóstico estabelecido pelo médico. Normalmente, ele é feito a partir da adoção de alguns hábitos alimentares mais saudáveis e a administração de medicamentos.
Destaca-se que somente um especialista capacitado pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.
Medicamentos
Entre os medicamentos mais utilizados estão os antiácidos, antagonistas H2, inibidores de bomba de prótons, agentes procinéticos e relaxadores do fundo gástrico.
Como possuem indicações precisas e efeitos colaterais que incluem diarreia, vômitos, pólipos gástricos, hipomagnesemia, aumento no risco de infecção gastrointestinais e pneumonias, vale lembrar que o uso desses remédios deve ser feito apenas com prescrição médica.
- Antidin
- Cimetidina
- Dexilant
- Domperidona
- Esomeprazol Magnesio
- Motilium
- Nexium
- Omeprazol
- Estomazil
- Cloridrato de ranitidina
Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Remédio caseiro para azia
Alguns alimentos simples também podem ajudar a aliviar os sintomas da azia. Um exemplo de remédio caseiro para azia é a maçã, por conta dos seus agentes cicatrizantes, que ajudam a recuperar a mucosa estomacal.
Outro alimento que pode auxiliar o paciente nesse quadro é o cardamomo, uma vez que seus óleos voláteis ajudam no combate à formação de excesso de gases, azia e úlceras gástricas.
Cuidados
Embora o tratamento da azia envolva o uso de medicamentos, é necessária uma mudança de hábitos tanto em relação à dieta quanto à forma como os alimentos são consumidos. Alguns cuidados incluem:
- Refeições menores: quem exagera no prato também corre maior risco de sofrer queimação. Quanto maior o volume de alimentos ingeridos de uma vez, maior será o risco que o suco gástrico reflua para o esôfago
- Descanso antes dos exercícios: muita movimentação física aumenta as chances de refluxo. Até duas horas após uma grande refeição, o estômago ainda acumula ácidos gástricos em maior quantidade e os movimentos podem fazer com que esses líquidos retornem em direção ao esôfago, causando a queimação
- Cardápio selecionado: controlar o consumo de alguns alimentos ajuda a evitar crises. Frituras e alimentos muito gordurosos, por exemplo, devem ficar longe do prato de quem sofre com azia. O mesmo vale para frutas ácidas (incluindo tomate), condimentos, embutidos, bebidas gasosas, menta e hortelã
- Faça refeições na hora certa: passar longos períodos em jejum aumenta as chances de azia. Isso acontece porque, quando uma pessoa fica sem comer, o ácido gástrico se acumula e pode refluir, irritando o final do esôfago. Comer a cada três horas mantém o sistema digestivo em funcionamento, sem sobrecarga na produção de ácido gástrico
- Não tome leite gelado durante a azia: o alívio provocado pelo consumo de leite é momentâneo e depois pode piorar o quadro. A bebida tem pH baixo (o que neutraliza a acidez estomacal). No entanto, é rica em cálcio, mineral que estimula a produção de ácido gástrico pelo estômago. Além disso, o leite, em sua versão integral, é rico em gorduras, outro componente que aumenta as chances de azia. O mesmo processo não acontece com o leite de soja, que não possui grandes quantidades de cálcio e é livre de gorduras. Um copo de leite de soja gelado traz alívio, assim como alguns goles de água gelada
- Abandone o café após o almoço: outro hábito bastante comum que deve ser evitado por pessoas que sofrem com azia é tomar café após a refeição. A cafeína provoca um relaxamento demasiado no esfíncter, causando o refluxo de ácido digestivo para o esôfago. O consumo de café deve ser evitado ou ao menos reduzido para até duas xícaras diárias
- Abra mão do chá preto e chá mate: assim como o café, o chá preto e o chá mate provocam o relaxamento do esfíncter, facilitando o refluxo e aumentando as chances de azia. Chás mais claros e sem cafeína não causam o mesmo efeito, podendo ser consumidos sem preocupação. O chá de camomila, por sua vez, possui características calmantes que diminuem os sintomas
- Evite bebida alcoólica: além de irritar naturalmente a mucosa gástrica e esofagiana, o álcool também estimula a produção de ácido pelo estômago e diminui a capacidade de contração da válvula que impede o refluxo. Por isso, evite esse tipo de bebida durante as refeições como medida preventiva. Também não é recomendável beber com o estômago vazio, prevenindo o acúmulo de ainda mais ácidos digestivos
- Tabagismo: a azia é mais um incômodo que pode ser colocado na lista de malefícios que o tabagismo traz ao corpo. Além de causar problemas sérios no pulmão, o cigarro também diminui a proteção da mucosa do estômago, deixando o órgão mais sensível à irritação causada pelo ácido gástrico
- Tome cuidado com o peso: pessoas que sofrem com o sobrepeso ou com obesidade têm maiores probabilidades de serem incomodadas com a azia. Isso porque a pressão sobre o estômago (causada pelo excesso de peso) aumenta as chances dos ácidos gástricos sofrerem refluxo em direção ao esôfago
- Esqueça as bebidas gaseificadas: bebidas gaseificadas (como refrigerantes) aumentam a pressão dentro do estômago, facilitando que os ácidos digestivos sigam em sentido inverso (refluxo gástrico). Ardência e queimação são resultados possíveis quando há consumo exagerado de bebidas junto às refeições
- Evite deitar após comer: deitar-se após as refeições facilita o refluxo dos ácidos digestivos que provocam o sintoma. Caso você seja vítima do problema, o ideal é permanecer sentado, pelo menos, duas a três horas após o término da refeição. Para evitar o refluxo noturno, recomenda-se elevar a cabeceira da cama em 15 cm, permitindo que o material refluído para o esôfago retorne prontamente ao estômago
Referências
Luiz Eduardo Rossi Campedelli, gastroenterologista do Hospital Albert Einstein - CRM SP 83670
Ricardo Blanc, gastroenterologista da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia - CRM RJ 306783
Vladimir Schraibman, gastroenterologista e especialista do Portal Minha Vida - CRM 97304
Ministério da Saúde
Mayo Clinic
Federação Brasileira de Gastroenterologia