Neurologista e neurocientista, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, com experiência na área de dist...
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O que é Encefalopatia hepática?
A encefalopatia hepática, também conhecida como coma hepático, é uma condição neurológica caracterizada pela deterioração da função cerebral, que ocorre como consequência das altas quantidades de substâncias tóxicas no sangue, como a amônia. Quando o fígado está danificado, não consegue remover eficientemente as substâncias do organismo, de modo que a amônia acumulada no sangue pode alcançar o cérebro e causar danos neurológicos.
Os sintomas da encefalopatia hepática podem variar de leves a graves e incluem alterações na personalidade, confusão mental, dificuldade de concentração e problemas de coordenação. O problema se manifesta especialmente em pessoas com doença hepática grave.
Causas
A encefalopatia hepática é causada por distúrbios que afetam a função do fígado, como cirrose hepática, hepatite aguda e insuficiência hepática aguda ou crônica. Uma importante função do fígado é transformar substâncias tóxicas produzidas pelo corpo ou ingeridas (como remédios) em substâncias inofensivas. Quando o fígado está prejudicado, essas substâncias podem se acumular na corrente sanguínea e, se alcançarem o cérebro, causar danos cerebrais graves.
A encefalopatia hepática é muito comum em pessoas diagnosticadas com doença hepática crônica, mas também pode ocorrer repentinamente em pessoas que nunca apresentaram problemas no fígado antes. Outros fatores que podem desencadear o problema incluem:
- Desidratação
- Desnutrição
- Ingestão de proteínas em excesso
- Anormalidades dos eletrólitos (principalmente redução do nível de potássio) resultantes de vômitos ou por causa de alguns tipos de tratamentos e medicamentos, como diuréticos
- Sangramentos do intestino, estômago ou esôfago
- Infecções
- Problemas renais
- Baixos níveis de oxigênio no corpo
- Uso de medicamentos que inibem o sistema nervoso central.
A encefalopatia hepática pode ocorrer como um distúrbio agudo e reversível ou como um distúrbio crônico e progressivo associado à doença hepática crônica.
Sintomas
Os sintomas da encefalopatia hepática podem aparecer aos poucos e se agravar gradualmente, como também podem aparecer de repente e serem graves desde o início. Alguns sinais moderados podem ser notados quando a doença ainda está no início, como:
- Hálito bolorento ou doce
- Alterações no sono
- Mudanças no raciocínio
- Leve confusão
- Esquecimento
- Confusão mental
- Mudanças de humor e de personalidade
- Falta de concentração
- Baixa capacidade de discernimento
- Piora na escrita ou perda de outros movimentos manuais.
Já os sintomas graves da encefalopatia hepática incluem:
- Movimentos anormais ou tremores nas mãos ou braços
- Agitação, excitação ou convulsões (estes ocorrem raramente)
- Desorientação
- Sonolência ou confusão
- Comportamento inadequado ou alterações graves de personalidade
- Fala arrastada
- Movimento lento ou arrastado.
Diagnóstico
O diagnóstico de encefalopatia hepática é feito a partir de um exame físico e uma observação clínica, especialmente quanto aos sinais emitidos pelo sistema nervoso de que alguma coisa está errada. Alguns deles incluem:
- Falta de coordenação e tremores nas mãos ao tentar estender os braços à frente do corpo e levantá-los
- Estado mental anormal, principalmente as funções cognitivas (raciocínio), como traçar linhas para conectar números
- Sinais de doença hepática, como pele e olhos amarelados (icterícia) e retenção de líquido no abdome (ascite), e, ocasionalmente, um odor bolorento no hálito e na urina.
A observação clínica, porém, não é suficiente para fazer o diagnóstico preciso. O médico deverá solicitar alguns exames, que podem incluir:
- Hemograma completo ou hematócrito para verificar se há anemia
- Tomografia computadorizada da cabeça ou ressonância magnética
- Eletroencefalograma
- Exames de função hepática
- Tempo de protrombina
- Níveis séricos de amônia
- Níveis de sódio no sangue
- Níveis de potássio no sangue
- Nitrogênio úrico no sangue (BUN) e creatinina para verificar o funcionamento renal.
As especialidades que podem diagnosticar a encefalopatia hepática são:
- Neurologia
- Gastroenterologia
- Hepatologista
Fatores de risco
Os fatores que aumentam as chances de uma pessoa desenvolver encefalopatia hepática incluem:
- Cirrose
- Algumas condições que afetam os níveis de fluidos e eletrólitos, como hiponatremia e hipercalemia
- Insuficiência renal aguda
- Insuficiência renal crônica
- Infecções
- Sangramento gastrointestinal
- Certos medicamentos, como sedativos e antiepilépticos
- Prisão de ventre
- Hepatite infecciosa ou autoimune.
Tratamento
O tratamento de encefalopatia hepática envolve abordagens para controlar a causa subjacente, reduzir a concentração de substâncias tóxicas no sangue e prevenir possíveis complicações. Algumas das medidas utilizadas incluem:
- Lactulose: é um medicamento administrado por via oral que age como um laxante, sendo utilizado para reduzir a concentração de amônia no intestino, ajudando a eliminá-la nas fezes
- Antibióticos: podem ser prescritos para evitar que as bactérias intestinais produzam amônia, uma vez que os antibióticos não são absorvidos pelo intestino. Os mais comuns incluem rifaximina e neomicina
- Restrição de proteínas: pacientes com quadros graves e repetidos de encefalopatia hepática podem adotar uma dieta restritiva de proteínas para reduzir a produção de amônia no organismo. A quantidade de proteína permitida depende a gravidade do problema
- Tratamento da causa subjacente: pacientes com quadros de cirrose, hepatite crônica e outras condições hepáticas devem receber tratamento para o controle da doença, como medidas para reduzir o consumo de álcool, terapia antiviral para hepatite viral e transplante de fígado — dependendo da causa específica
Medicamentos
Os medicamentos mais para o tratamento de encefalopatia hepática são:
- Lactulona
- Rifaximina
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
A encefalopatia hepática pode ser controlada e tratada. Contudo, caso ela seja causada por uma condição hepática crônica, como cirrose, não existe cura definitiva. Nesses casos, o objetivo do tratamento é reduzir os sintomas, melhorar a função cognitiva e prevenir complicações.
Prevenção
O tratamento de algumas doenças hepáticas pode evitar casos de encefalopatia hepática. Da mesma forma, evitar o consumo de álcool em excesso e o uso de drogas injetáveis pode evitar muitas doenças hepáticas. Se houver algum sintoma do sistema nervoso em uma pessoa com doença hepática conhecida ou suspeita, deve-se procurar ajuda médica imediatamente.
Referências
- Sociedade Brasileira de Neurociência
- Ministério da Saúde