Docente da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), especialista em inf...
iRedatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
O que é Febre Mayaro?
A febre mayaro é uma arbovirose (como a dengue e o Zika vírus), causada pelo vírus MAYV, que costuma ser transmitido pelo mosquito Haemagogus, muito mais comuns em áreas rurais e próximo a florestas. Existo o risco de que ela possa ser transmitida pelo Aedes aegypti. O vírus é da mesma família da febre chikungunya (os togavírus) e os dois quadros têm sintomas bastante parecidos.
Febre mayaro no Brasil
Hoje a febre mayaro existe no Brasil e está presente principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste do país. Apesar de ser muito mais comum na zona rural, já houve invasões urbanas do vírus, que inclusive causou um surto em Manaus em 2007 e 2008.
No Centro-Oeste brasileiro foram documentados em 2016 70 casos no estado de Goiás, sendo 20 na capital Goiania e 50 espalhados em outros 10 municípios. O vírus também foi isolado em pássaros no Rio Grande do Sul, mas ainda não há relatos da transmissão para humanos nesta região.
O turismo e a saída de trabalhadores rurais para as cidades podem fazer com que a doença se espalhe mais pelas cidades e se adapte ao mosquito Aedes aegypti, que hoje já é o principal vetor urbano de outras arboviroses.
É preciso se preocupar com a febre mayaro?
A febre mayaro tem ganhado espaço na imprensa devido a descoberta de um vírus MAYV com alterações genéticas no Haiti. Especialistas temem que as alterações apresentadas pelo vírus o tornem mais adaptável a transmissão em locais urbanos (principalmente por meio do Aedes aegypti), disseminando a doença da mesma forma como ocorreu com o Zika vírus em 2015 e 2016.
Além disso, por ser extremamente parecida com a febre chikungunya, especialistas temem que a febre mayaro já esteja se espalhando sem um devido controle.
Causas
A febre Mayaro é transmitida pela picada do mosquito contaminado. Hoje ela é mais comumente transmitida pelo mosquito Haemagogus, que vive em habitats mais silvestres como florestas. Ele costuma ficar na copa das árvores e picar macacos e pássaros, que são os hospedeiros primários da doença nesse ecossistema. No entanto, quando alguma pessoa entra na mata, principalmente entre 9h e 16h (horário em que o mosquito está ativo), ela pode ser picada e contrair a doença.
A partir daí, se ela for picada, há chances de um mosquito contrair a doença e transmiti-la a outras pessoas. O perigo é se o Aedes aegypti começar a transmitir a doença, pois isso possibilitará que ela seja espalhada em centros urbanos, contaminando muito mais pessoas.
Existem outras formas de transmissão da febre mayaro?
Hoje, a picada do mosquito contaminado é a única forma conhecida de transmissão da doença.
Tipos
Existem dois tipos de vírus MAYV, responsável pela febre mayaro.
- Vírus tipo D: mais concentrado hoje na região do Pará
- Vírus tipo L: espelhado no norte da América do Sul, em países como Venezuela, Peru, Colômbia e mais recentemente na Argentina.
Apesar de serem vírus geneticamente diferentes, seus sintomas são semelhantes.
No entanto, com as mutações que o vírus pode estar sofrendo, é possível que outros tipos apareçam.
Sintomas
Os principais sintomas da febre mayaro são:
- Febre baixa
- Dor de cabeça
- Dores no corpo (mialgia)
- Dores nas articulações (altargia) e inflamações nas articulações (artrites)
- Manchas no corpo (exantemas).
Normalmente os sintomas da febre mayaro se resolvem sozinhos em até duas semanas. Mas muitas vezes as dores e inflamações nas articulações podem durar mais um tempo.
Febre mayaro x Febre chikungunya
As doenças têm quadros extremamente parecidos, sendo difícil para os médicos diferenciá-las sem ajuda de exames específicos.
Diagnóstico
A febre mayaro é diagnosticada primeiro através do histórico do paciente e de seus sintomas. Depois disso, podem ser pedidos exames para identificar o vírus e fechar o diagnóstico:
- Isolamento do vírus
- Hemaglutinação
- Soroneutralização
- Imunoflorescência
- Testes moleculares.
Muitas vezes, no entanto, o diagnóstico pode ser fechado sem eles.
Fatores de risco
Pessoas que vivem próximas a florestas ou costumam adentrar em matas são mais suscetíveis a contrair a febre mayaro.
Tratamento
Não existe tratamento específico contra a febre mayaro, faz-se apenas medicamentos para os sintomas da doença, ou seja, fazer um tratamento sintomático. É importante apenas tomar muito líquido para evitar a desidratação.
Em alguns casos, quando as dores e inflamações articulares ocorrem por um período maior do que os outros sintomas, anti-inflamatórios e analgésicos podem ser receitados para melhora dos sintomas.
Pacientes com febre mayaro ou suspeita de febre mayaro devem evitar medicamentos à base de ácido acetilsalicílico (aspirina) ou que contenham a substância associada.
Prevenção
Hoje a melhor forma de prevenir a febre mayaro é evitar a picada do mosquito contaminado. No caso do Haemagogus é importante:
- Entrar em matas usando repelente para mosquitos e roupas de mangas comprida, que protejam a pele de picadas
- Evitar entrar na mata sem esse tipo de proteção entre 9h e 16h, horário em que o mosquito está mais ativo.
Nas regiões urbanas, os cuidados são semelhantes com as outras doenças do Aedes aegypti:
- Evitar focos do mosquito, ou seja, locais com água limpa e parada, como garrafas, caixas d'água mal vedadas, ralos desativados, vasos de plantas, vasilhas com água de animais
- Uso de repelentes e roupas que não exponham a pele, principalmente nos horários que o mosquito é mais ativo: ao amanhecer e entardecer
- Dormir com mosqueteiras, usar telas nas janelas e evitar focos do mosquito dentro da casa.
Convivendo (Prognóstico)
A expectativa é que os sintomas durem por no máximo duas semanas. No entanto, as dores e inflamações nas articulações podem continuar por período de meses e normalmente se resolvem sozinhas.
Complicações possíveis
Além das dores e inflamações articulares que podem ficar presentes por um tempo após a manifestação do vírus, existe o risco do paciente desenvolver uma encefalite, uma inflamação e infecção do cérebro desencadeada geralmente por um vírus e que pode ser fatal.
Referências
Infectologista Helena Brígido (CRM-PA: 4.374), membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, especialista em Infectologia, Epidemiologia e Saúde Pública e mestre em Medicina Tropical.
Infectologista Celso Granato (CRM-SP 34.307), especializado em Microbiologia e Imunologia Médica na Universidade de Hamburgo, na Alemanha e em Medicina Internacional Retrovírus e Banco de Sangue na Universidade Cornell, nos EUA; assessor médico em Infectologia do Fleury Medicina e Saúde e professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Infectologista Ivan Marinho (CRM-SP 48.389), da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo
Ministério da Saúde