Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, tem título de especialista e...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Miocardiopatia dilatada?
A miocardiopatia dilatada é uma doença do músculo do coração que impede o bombeamento adequado de sangue para o corpo. Ela afeta principalmente o ventrículo esquerdo do órgão e pode acometer pessoas de todas as idades, incluindo bebês e crianças.
O ventrículo esquerdo, que é uma importante câmara de bombeamento do coração, torna-se ampliado (dilatado) e as fibras musculares se esticam ao máximo, tendo dificuldade maior de se encurtar e comprimir o sangue para fora. Dessa forma, a dilatação do órgão faz com que o músculo cardíaco se enfraqueça.
Imagine outro músculo - o bíceps - em situação semelhante. O que dá mais trabalho: dobrar o cotovelo com o braço a 90 graus ou com ele completamente esticado, hiperextendido? Com o coração é a mesma coisa: contrair os músculos com eles mais esticados é mais difícil.
Miocardiopatia dilatada é grave?
Sim, miocardiopatia dilatada é grave. Às vezes, a doença não necessariamente causa sintomas, mas, para algumas pessoas, pode ser fatal.
Causas
Existem inúmeras condições que podem causar a miocardiopatia dilatada. Algumas causas conhecidas são:
- Genética: alguns genes estão ligados à dilatação do ventrículo esquerdo
- Defeitos congênitos: alguns defeitos cardíacos que estão presentes no momento do nascimento podem causar a doença
- Infecções: vírus, fungos, parasitas ou bactérias que invadem o corpo podem agredir o miocárdio (músculo cardíaco), causando miocardite. Um exemplo é a doença de Chagas
- Doenças autoimunes: algumas delas podem causar o problema, por conta de uma agressão causada pelo próprio organismo
- Álcool: ele pode agredir diretamente o coração como agente tóxico, mas pode causar também deficiência de vitamina B1 (vulgarmente chamado de Beribéri), que favorece o aparecimento de miocardiopatia dilatada
- Medicamentos: ações tóxicas de quimioterápicos utilizados no tratamento de cânceres, uso crônico de corticoides e outros medicamentos por ação tóxica direta
- Exposição à toxinas: a doença também pode ser causada pela exposição a metais e alguns compostos tóxicos, como chumbo, mercúrio e cobalto.
Porém, muitas vezes, a causa da doença não pode ser determinada. Esses casos são chamados de miocardiopatia dilatada idiopática.
Sintomas
Sintomas de miocardiopatia dilatada
É provável que os sinais apareçam apenas quando a doença causar insuficiência cardíaca ou arritmias. Porém, de todo modo, os sintomas de miocardiopatia dilatada incluem:
- Fadiga e fraqueza
- Falta de ar (dispneia) quando você está ativo ou deitado
- Vertigens, tonturas ou desmaios
- Tosse persistente, especialmente quando deitado
- Inchaço (edema) nas pernas, tornozelos e pés
- Inchaço do abdômen
- Ganho de peso repentino de retenção de líquidos
- Falta de apetite
- Sensação de batimentos cardíacos rápidos (palpitações)
- Pele pálida.
Saiba mais: Como melhorar a saúde do seu coração
Diagnóstico
O diagnóstico da miocardiopatia dilatada vem após o paciente relatar alguns sintomas ou ter tido alguma outra complicação antes. Ao chegar ao médico, será investigada a causa. Para isso, alguns exames são realizados, tendo o ecocardiograma como principal ferramenta para descobrir ou confirmar a doença.
Veja abaixo mais detalhe sobre os exames:
Exame físico
O médico irá rever os seus hábitos de vida (como exercício, dieta, histórico de tabagismo e consumo de álcool), as recentes mudanças no peso, qualquer sinal e sintoma que você tenha observado e sua história de doenças cardíacas e outras condições médicas em sua família.
Saiba mais: Diabetes e hipertensão: 10 cuidados para quem convive com as duas doenças
Além disso, verifica-se se há sinais como batimentos cardíacos irregulares, sons cardíacos anormais (sopros cardíacos), acúmulo de fluidos nos pulmões, inchaço nas pernas ou pés ou frieza nos membros devido à má circulação sanguínea.
Exames de sangue
Uma série de exames de sangue podem mostrar evidências de mau funcionamento do coração ou fatores que podem causar a doença, como infecções, um distúrbio metabólico ou toxinas no sangue.
Radiografia do tórax
A radiografia de tórax vai verificar o seu coração e pulmões. Embora essas imagens não forneçam informações suficientes por si só para fazer um diagnóstico, elas podem revelar anormalidades na estrutura e tamanho do coração, além de poderem detectar fluidos dentro ou em torno de seus pulmões.
A radiografia de tórax pode fornecer um registro de base do seu coração mais do que verificar as alterações consequentes dessa situação.
Eletrocardiograma (ECG)
O eletrocardiograma registra os sinais elétricos que percorrem seu coração. O médico pode procurar por padrões que mostram um ritmo cardíaco anormal, que podem indicar problemas específicos do ventrículo esquerdo.
Ecocardiograma
O ecocardiograma utiliza ondas sonoras para produzir imagens do coração. Este teste comum permite que o médico veja seus ventrículos apertando e relaxando e as válvulas abrindo e fechando em ritmo com o seu batimento cardíaco.
Se você tiver a doença, o médico será capaz de observar o alargamento do ventrículo esquerdo. O ecocardiograma também pode revelar quanto de sangue é ejetado do coração a cada batida e se está fluindo na direção certa.
Teste ergométrico
Aqui é necessário realizar uma prova de esforço, como andar em uma esteira ou em uma bicicleta estacionária. Eletrodos conectados a você durante o teste vão ajudar o médico a medir a frequência cardíaca e uso de oxigênio.
Esse tipo de teste pode mostrar a gravidade dos problemas causados pela doença.
Saiba mais: Colesterol: você conhece os mitos e verdades?
Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM)
Esses exames podem verificar o tamanho e a função das câmaras de bombeamento do seu coração e fornecer pistas sobre as causas do problema.
Cateterismo cardíaco
O seu médico pode pedir um procedimento chamado cateterismo cardíaco. Um estreito tubo longo é introduzido através de um vaso sanguíneo até chegar ao coração com a utilização de raio X para guiar o cardiologista.
O teste pode ser usado para ver suas artérias coronárias em um raio X, medir a pressão em seu coração e coletar uma amostra de tecido muscular para verificar se há danos que levem a uma suspeita de miocardiopatia dilatada.
Saiba mais: Conheça mais exames que deixam seu coração em ordem
Fatores de risco
Algumas doenças são consideradas fatores de risco, como:
- Hipertensão e taquicardia
- Aterosclerose (doença que leva a obstruções arteriais)Problemas nas válvulas cardíacas
- Histórico de infarto
- Distúrbios metabólicos (como hipertireoidismo, hipotireoidismo e diabetes)
- Deficiências nutricionais de vitamina B1
- Doenças neuromusculares (como a distrofia muscular, mas é raro)
Tratamento
O objetivo dos tratamentos para a miocardiopatia dilatada é controlar as causas - quando conhecidas -, melhorar a circulação sanguínea, reduzir os sintomas e evitar mais danos ao coração.
Para isso, há algumas opções, como:
Medicamentos
Os médicos costumam tratar a doença com uma combinação de medicamentos. Dependendo de seus sintomas, você pode precisar de dois ou mais remédios. Estes medicamentos incluem:
Inibidor da enzima de conversão da angiotensina (IECA)
Os inibidores da ECA são um tipo de vasodilatador, uma droga que aumenta ou dilata os vasos sanguíneos para diminuir a pressão arterial, melhorar a circulação sanguínea e diminuir a carga sobre o coração.
São compostos inibidores da enzima que converte a angiotensina I em angiotensina II, que, por sua vez, é um potente vasoconstritor. Ao inibir essa enzima, os IECAs produzem vasodilatação periférica, diminuindo a pressão arterial.
Os IECA podem causar uma tosse seca irritante em algumas pessoas, por isso, é importante discutir esse efeito colateral com o seu médico. Mudar para outro inibidor de ECA ou um bloqueador do receptor da angiotensina II pode aliviar a tosse
Bloqueadores dos receptores da angiotensina II
Esses medicamentos têm tantos benefícios quanto os IECA, uma vez que bloqueiam a ação da angiotensina II, mas não causam uma tosse persistente. Eles podem ser uma alternativa para pessoas que não toleram inibidores de ECA
Betabloqueadores
Eles diminuem o seu ritmo cardíaco, reduzem a pressão arterial e previnem alguns dos efeitos nocivos dos hormônios do estresse — substâncias que podem deixar a insuficiência cardíaca pior e desencadear ritmos cardíacos anormais. Os betabloqueadores podem reduzir os sinais e sintomas de insuficiência cardíaca e melhorar a função do coração.
Diuréticos
Eles fazem você urinar com mais frequência, ajudando na eliminação de eletrólitos, como o sódio e o cloro. Isso ajuda no controle da hipertensão arterial e insuficiência cardíaca.
As drogas também diminuem o fluido nos pulmões, para que seja possível respirar mais facilmente.
Porém, alguns diuréticos fazem seu corpo perder potássio e magnésio. Por isso, o médico também pode prescrever suplementos destes minerais.
Antagonistas da aldosterona
São chamados medicamentos diuréticos poupadores de potássio. Eles têm a mesma ação dos diuréticos padrão, com a diferença de preservarem os níveis de potássio no sangue em vez de excitá-los pela urina.
Eles também podem ajudar o coração a trabalhar melhor, reverter cicatrizes do órgão e ajudar as pessoas com insuficiência cardíaca grave a viver mais tempo.
No entanto, converse com seu médico sobre o uso desse medicamento, uma vez que ele pode elevar o nível de potássio no sangue.
Digoxina
A digoxina, também conhecida como digitálico, é uma droga que aumenta a força das contrações musculares e tende a diminuir o batimento cardíaco, ajudando a reduzir os sintomas de insuficiência cardíaca e melhorando a sua capacidade de viver com miocardiopatia dilatada.
Anticoagulantes
O médico pode prescrever medicamentos que ajudam a prevenir coágulos sanguíneos.
Dispositivos implantáveis
Além dos medicamentos, há também dispositivos implantáveis usados para tratar a doença. São eles:
Marcapasso ressincronizador cardíaco
Também conhecido como marcapasso biventricular, o aparelho estimula os dois ventrículos – esquerdo e direito – de modo que todos ou a maioria das fibras musculares ventriculares contraiam-se em conjunto.
Isto permite que seu coração bombeie o sangue de forma mais eficaz, melhorando os sintomas da insuficiência cardíaca. Ele utiliza estímulos elétricos para coordenar as ações dos ventrículos
Cardiodesfibrilador implantável (CDI)
Semelhante ao marcapasso, esse equipamento monitora os batimentos cardíacos e reconhece uma arritmia quando ela aparece, avaliando sua gravidade e, quando indicado, interrompe a arritmia por meio de estímulo elétrico ou estimulação rápida - como um desfibrilador.
Os CDIs também funcionam como marcapasso quando necessário.
Saiba mais: Marcapasso regula frequência cardíaca e aumenta longevidade.
Dispositivos de assistência ventricular esquerda
Eles são implantados no abdômen ou no peito e ligados ao coração para ajudar a bombear o sangue.
Transplante de coração
O transplante de coração pode se tornar uma possibilidade se os medicamentos e outros tratamentos não forem eficazes. Apenas o médico poderá dizer se você tem indicação ou não para ser transplantado.
Tem cura?
Miocardiopatia dilatada tem cura?
Não, a miocardiopatia dilatada não tem cura. Mas, como visto, há diversas maneiras para ajudar nas causas e sintomas da doença.
Prevenção
Se você eliminar hábitos de vida que podem contribuir para a doença, será possível prevenir parcialmente a doença. Portanto:
- Se você fuma, pare
- Evite bebidas alcoólicas ou beba com moderação
- Não use drogas
- Mantenha uma dieta saudável
- Mantenha um peso saudável
- Siga um programa de exercícios.
Se você acha que pode ter miocardiopatia dilatada ou está preocupado com os fatores de risco, faça uma consulta médica. Se a doença é detectada precocemente, o tratamento pode ser mais fácil e eficaz. Eventualmente, você pode ser encaminhado para um cardiologista.
Leia a seguir sobre outros tipos de doenças cardíacas e seus sintomas, causas e prevenção.
Convivendo (Prognóstico)
Se você tiver miocardiopatia dilatada, essas estratégias podem ajudar:
- Não usar drogas ilegais ou beber álcool em excesso. Procure psicoterapia ou outros tratamentos para se recuperar de abuso de drogas ou álcool
- Tome seus medicamentos como indicado
- Faça uma dieta bem equilibrada e mantenha um peso saudável, uma vez que o peso extra faz o coração trabalhar mais. Uma dieta saudável cheia de frutas, legumes e grãos integrais é bom para o coração e o resto do seu corpo. Pergunte ao médico se é necessária a ajuda de um nutricionista.
Quem tem miocardiopatia dilatada pode trabalhar?
Depende do tipo de trabalho do paciente e também de suas condições físicas, sintomas, etc. Para isso, é necessário realizar tanto uma avaliação cardiológica quanto a de um perito do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), caso precise se aposentar por invalidez.
Complicações possíveis
O alargamento do ventrículo esquerdo e a sua incapacidade de bombear o sangue podem causar as seguintes complicações:
Insuficiência cardíaca
Por conta do bombeamento insuficiente pelo ventrículo esquerdo, levando à insuficiência cardíaca.
Saiba mais: Conheça os exames que deixam seu coração em ordem
Regurgitação
A dilatação do ventrículo esquerdo pode tornar o fechamento das válvulas cardíacas mais difícil, causando um fluxo retrógrado de sangue. Isso faz com que o coração faça um bombeamento menos eficaz, que pode levar à insuficiência cardíaca.
Edema
Quando o seu coração não consegue bombear sangue de forma tão eficaz como um coração saudável, pode surgir o acúmulo de líquido nos pulmões, abdômen, pernas e pés.
Arritmias
Mudanças na estrutura do coração e alterações na pressão sobre as câmaras do coração podem causar problemas de ritmo cardíaco.
Parada cardíaca súbita
A doença pode fazer com que seu coração pare de bater de repente, ou seja, aconteça a parada cardíaca.
Embolia
Acúmulo de sangue no ventrículo esquerdo pode levar à formação de coágulos sanguíneos (êmbolos), que podem entrar na corrente sanguínea e cortar o fornecimento de sangue para os órgãos vitais, o que leva a infarto, AVC (acidente vascular cerebral) ou outras complicações cardiovasculares.
Saiba mais: Infarto: saiba como acontece um ataque cardíaco
Referências
Hélio Castello, cardiologista e diretor da Angiocardio