Médico formado pela Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e farmac...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Síndrome da fadiga crônica?
Como o próprio nome sugere, a síndrome da fadiga crônica (SFC) nada mais é do que uma condição caracterizada pelo cansaço extremo, sem causa aparente, que não apresenta melhora após o repouso e chega a durar mais de seis meses. Esse sintoma tende a piorar com atividades físicas e mentais.
Ela pode ser conhecida também como encefalomielite miálgica (ME), doença da disfunção imune e síndrome da intolerância à atividade física ou doença sistêmica de intolerância ao esforço.
Causas
Apesar do alto número de pesquisas, a causa da SFC ainda é desconhecida. Além disso, não há sequer um consenso sobre se tratar de uma doença com uma ou múltiplas causas e se sua origem é física ou mental.
Alguns pesquisadores, contudo, acreditam que conseguirão provar que a síndrome é provocada por várias causas, incluindo a predisposição genética, exposição a substâncias específicas, o ambiente, além de fatores físicos e mentais.
Infecções virais, problemas no sistema imunológico e desequilíbrio hormonal também aparecem na lista de possíveis causas dos sintomas. No entanto, segundo o médico integrativo Carlos Reu, “normalmente não se detecta uma causa que a justifique nos primeiros exames”, mesmo que elas existam.
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Sinais
Sintomas de síndrome da fadiga crônica
O cansaço persistente e incapacitante é, sem dúvidas, um dos principais sintomas da síndrome da fadiga crônica. No entanto, ele não é o único sinal que levanta o alerta para o diagnóstico da doença.
Deve-se ficar atento também para:
- Perda de memória ou de concentração
- Dor de garganta
- Aumento dos gânglios linfáticos no pescoço ou nas axilas
- Dor muscular inexplicável
- Dor nas articulações
- Dor de cabeça
- Sono recorrente e intermitente
- Exaustão extrema que dura mais de 24 horas após o exercício físico ou mental
“É importante ressaltar que os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e sua intensidade pode variar ao longo do tempo”, afirma Reu. Os pacientes podem, ainda, apresentar sintomas diferentes destes, como febre, irritabilidade e confusão.
É comum ainda que, até o início do distúrbio, que aparece de maneira súbita, os pacientes executem tarefas de alto nível.
Diagnóstico
“O diagnóstico da SFC é clínico”, afirma a reumatologista Giovana Gabriela Koptian. Isso significa que não há análises laboratoriais capazes de confirmar a síndrome.
Exames, então, são usados apenas para descartar outras doenças que têm o cansaço extremo como um de seus sintomas, como anemia, distúrbio do sono e problemas na tireoide, por exemplo.
Ainda assim, em 2015, o Instituto de Medicina (atualmente denominado Divisão de Saúde e Medicina da Academia Nacional de Ciência, Engenharia e Medicina) simplificou os critérios para o diagnóstico. Para isso, o paciente precisa apresentar os três sintomas abaixo:
- Redução ou comprometimento significativos na capacidade de realizar as atividades nos níveis anteriores há mais de seis meses causada por fadiga, que costuma ser profunda, não resulta de esforço contínuo excessivo e não melhora com o repouso
- Atividade física piora os sintomas
- Sono não reparador.
Além disso, é preciso observar, pelo menos, a presença de uma das manifestações a seguir:
- Dificuldade para raciocinar
- Sensação de tontura ou vertigem quando se levanta e que melhora ao deitar
Diferença entre fibromialgia e síndrome da fadiga crônica
Segundo o médico integrativo Carlos Reu, a diferença é tênue e muitas vezes indistinguível.
“Classicamente o sintoma principal da fibromialgia é dor generalizada no corpo, acompanhada de sensibilidade em pontos específicos conhecidos como ‘pontos de gatilho’. Ela pode também envolver fadiga, distúrbios do sono, problemas cognitivos e emocionais”, explica.
Já a síndrome fadiga crônica tem como sintoma principal a fadiga extrema e persistente, que não melhora com o repouso adequado. “Mas também tem dor e os outros sintomas acessórios, da mesma forma que a fibromialgia. Algumas pessoas podem ter flutuações entre esse predomínio de dor em alguns momentos e fadiga em outros. De forma que, na prática, o tratamento acaba sendo o mesmo”, completa.
Leia mais: Cansaço ou fadiga: 8 doenças que podem causar o sintoma
Fatores de risco
Apesar das causas da síndrome da fadiga crônica ainda não estarem totalmente esclarecidas para os médicos, alguns fatores são conhecidamente capazes de aumentar o risco de ocorrência da doença. São eles:
- Idade: a síndrome da fadiga crônica pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum entre os 40 e 50 anos
- Sexo: pessoas do sexo feminino são duas vezes mais comumente afetadas pela SFC do que pessoas do sexo masculino
- Estresse: seja de natureza física, emocional, profissional, problemas de saúde, etc.
- Distúrbios na produção de energia pelas células: disfunção mitocondrial
- Disfunções do sistema imunológico: sequela de infecções, alergias, exposição a imunizantes, etc.
- Carências nutricionais: como anemia, por exemplo.
“Fatores genéticos e comportamentais (alimentação desequilibrada, distúrbios do sono, sedentarismo, falta de rotina, etc.) também podem desempenhar um papel na manifestação da síndrome”, afirma Carlos Reu.
Quadros infecciosos podem ter relação com a origem da síndrome da fadiga crônica. Sendo assim, há casos que relacionam o surgimento dos sintomas em pacientes que contraíram covid-19 e costumam estar relacionados com quadros de covid de longo curso.
Exames
Embora não haja um exame específico para o diagnóstico da síndrome da fadiga crônica, Carlos Reu afirma que um check-up pode ser solicitado pelo médico. A análise dos testes laboratoriais inclui:
- Hemograma para afastar anemia e avaliar as células de defesa
- Hormônios de tireoide para afastar hipotireoidismo
- Vitaminas e minerais para avaliar carências.
“Uma vez afastadas essas condições, vale a pena investigar outros hormônios: curva de cortisol salivar para avaliar o relógio biológico, hormônios sexuais para avaliar hipogonadismo e menopausa; além de outros exames metabólicos que possam dar pistas de como anda a saúde das mitocôndrias, que são as usinas de energia das células e podem também ser causa de fadiga crônica em caso de disfunção”, completa.
Buscando ajuda médica
A fadiga pode ser um sintoma de muitas doenças, que vão desde infecções a distúrbios psicológicos. Em geral, uma consulta é importante para determinar justamente a causa subjacente à fadiga. No entanto, quando a fadiga apresentada é muito forte e persistente, a recomendação é que se procure um médico o quanto antes.
O reumatologista, contudo, é apenas um dos especialistas que tratam a síndrome da fadiga crônica. “Como é uma condição sistêmica, e não localizada em um único órgão, os médicos que têm uma visão mais abrangente, avaliando o corpo como algo único e indivisível, terão maior capacidade de detectá-la e tratá-la. Outros profissionais de saúde, como fisioterapeutas, psicólogos, educadores físicos, terapeutas ocupacionais e outros também podem desempenhar um papel importante no cuidado desses pacientes.”, explica Carlos Reu.
Tratamento
Não há um tratamento específico para a SFC. Na verdade, segundo a especialista Giovana Gabriela Koptian, ele deve ser personalizado para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Para Carlos Reu, esse cuidado individual deve corrigir as alterações detectadas na história clínica e nos exames do paciente. Isso pode envolver hormônios, medicamentos, suplementos e correção de hábitos.
Algumas medidas indicadas são:
- Terapia cognitivo-comportamental: ajuda a reconhecer os comportamentos que dificultam a melhora
- Exercícios graduados: devem começar de maneira muito leve a fim de não intensificarem a sensação de exaustão
- Medicamentos: focados em tratar os sintomas do paciente.
No caso dos medicamentos, o uso de remédios para ansiedade e antidepressivos são indicados para síndrome da fadiga crônica. Mas todo e qualquer medicamento para o quadro deve ser consumido apenas com orientação e prescrição médica.
Leia mais: 11 sintomas da ansiedade no corpo
Convivendo (Prognóstico)
Além do tratamento, algumas medidas de autocuidado para a síndrome da fadiga crônica também são indicadas:
- Reduza o estresse. Procure desenvolver um plano para evitar ou limitar o esforço excessivo e o estresse emocional. Relaxe por algum tempo todos os dias
- Siga um estilo de vida saudável com alimentação balanceada focada nos nutrientes necessários e a prática de exercícios constante
- Melhore seus hábitos de sono. Vá para a cama cedo e levante sempre no mesmo horário. Procure dormir somente durante a noite. Se possível, evite sestas. Além disso, corte cafeína, álcool e nicotina de sua rotina
- Organize suas atividades para que você não as faça todas no mesmo dia. Aprender a gerenciar melhor o tempo e suas ocupações podem ajudar nesta tarefa.
Embora essas soluções possam ajudar, Carlos Reu reforça que o mais importante é identificar a SFC e tratá-la.
Referências
Dra Giovana Gabriela Koptian - Reumatologista - CRM 191118/SP