Nesta semana, o Ministério da Saúde, seguindo orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), suspendeu o uso da vacina AstraZeneca/Fiocruz para gestantes e puérperas. A medida foi tomada após a morte de uma grávida - caso que ainda está sendo investigado - depois de ter recebido o imunizante.
Isso se soma ao fato que a vacina da COVID-19 da Aztrazeneca já teve como reações, em poucos casos, quadros de formação de coágulo. Como ressalta o ginecologista e obstetra Domingo Mantelli, a trombose pode ser grave e até fatal para qualquer pessoa, mas é ainda mais preocupante em grávidas e em mulheres no pós-parto - por isso a suspensão da vacinação com esse imunizante neste grupo.
"A gravidez e o pós-parto já deixam a mulher em um quadro de hipercoagulabilidade, potencializando ainda mais o risco de trombose", alerta Mantelli. "Como a mulher já tem essa predisposição maior, se a gente introduz uma vacina esse quadro pode se agravar ainda mais nesse nicho de pacientes", completa o ginecologista.
Trombose x vacinas da COVID
De acordo com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), o risco para trombose após o uso do imunizante é possível, mas não é tão comum. A agência, que equivale à Anvisa aqui no Brasil, havia registrado 222 quadros de trombose entre 35 milhões de vacinados até o começo de março.
Como explica Mantelli, o risco existe por causa de alguns componentes na formulação das vacinas da Aztrazeneca e da Janssen e também, muitas vezes, devido à predisposição de cada pessoa a um risco maior de trombose, depende de uma combinação de fatores.
"Por isso que algumas pessoas não sentem absolutamente nada de efeitos colaterais e, para outras, a vacina pode causar alguns efeitos colaterais, como febre, dores no corpo, dor de cabeça, dor no local da aplicação, levando até a um quadro de trombose", comenta o médico.
Trombose como reação da vacina x trombose como complicação da COVID
Mesmo que o risco para trombose exista, profissionais da saúde reafirmam a importância da vacinação. "Quero reiterar a confiança na segurança e eficácia destas vacinas. Todo programa de vacinação é coordenado por uma equipe técnica com suporte de câmara técnica dos mais renomados especialistas do Brasil", afirmou nesta semana o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Estudos indicam que a própria COVID-19 traz muito mais risco de trombose que as vacinas baseadas na tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), como os imunizantes da Pfizer, Moderna e Oxford/AstraZeneca, produzida no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Uma pesquisa recente da Universidade de Oxford analisou casos de formação de coágulo e o surgimento de trombose venosa cerebral (CVT, em inglês) como consequência da infecção pelo coronavírus em comparação com o uso dos imunizantes.
"Embora a magnitude do risco não possa ser quantificada com certeza, o risco [de trombose] após a COVID-19 é aproximadamente de 8 a 10 vezes o relatado para as vacinas e cerca de 100 vezes maior em comparação com a taxa da população. O aumento do índice de CVT com a Covid-19 é notável, sendo muito mais marcante do que os riscos aumentados para outras formas de acidente vascular cerebral e hemorragia cerebral", diz o estudo.
Aqui no Brasil, grávidas e puérperas com comorbidades seguem sendo vacinadas com os imunizantes Coronavac e Pfizer. Se a mulher já tomou a primeira dose da vacina da Astrazeneca, a orientação é se atentar aos sintomas e procurar um médico caso tenha algum problema ou reação. A suspensão da aplicação do imunizante da Astrazeneca pode ser revista depois que for concluída a investigação sobre o caso da grávida morta e também conforme o avanço dos casos e mortes da pandemia.