Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1991), residência e especial...
iRedatora especializada em saúde, bem-estar, alimentação e família.
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) infecta células do sistema imunológico, destruindo ou prejudicando seu funcionamento. A infecção com esse vírus resulta em uma progressiva deterioração das defesas do paciente, facilitando o surgimento de outras infecções e outros problemas de saúde.
O relatório de 2014 da Organização das Nações Unidas (ONU) sugere que a epidemia de Aids pode estar diminuindo: o número de novas infecções pelo HIV em todo o mundo está em um recorde de baixa, as mortes relacionadas com a Aids estão abaixo de 35% e mais pessoas com HIV estão recebendo os medicamentos que necessitam.
O primeiro passo para prevenção é manter hábitos de sexo seguro e fazer os exames para detecção precoce do vírus com regularidade. Mulheres já diagnosticadas com HIV podem se sentir desconfortáveis em discutir essa questão em um relacionamento, e a falta de informação pode facilitar a transmissão da doença. Pensando nisso, conversamos com especialistas para tirar as principais dúvidas de mulheres soropositivas:
Meu marido me passou HIV. Será que ele me traiu?
"Depende primeiro de há quanto tempo essas pessoas estão casadas", afirma o clínico geral, doutor em imunologia Eduardo Finger, chefe do departamento de pesquisa e desenvolvimento do SalomãoZoppi Diagnósticos, em São Paulo.
Isso porque a infecção por HIV pode demorar muito tempo para manifestar sintomas ou aparecer no resultado de exames. Assim, há pessoas que têm o vírus, mas não sabem dessa condição, podendo transmiti-lo inadvertidamente. "Por isso que é importante fazer os exames periodicamente e usar camisinha nas relações sexuais."
Meu marido fez o teste há muito tempo e deu positivo, mas ele achou que o resultado estava errado porque ele não é gay. Devo insistir para ele repetir o teste?
"Nesse caso, ambos devem realizar o teste assim que possível", diz a infectologista Rosana Del Bianco, do setor de assistência do Programa Municipal de DST/Aids da cidade de São Paulo. "Além disso, o vírus HIV não distingue a preferência sexual das pessoas", alerta Eduardo Finger.
Qualquer pessoa exposta a fluidos sexuais e sangue está suscetível à transmissão por HIV, independe de ser heterossexual ou homossexual. Os testes atuais para confirmar o HIV raramente dão resultados errados. No entanto, há mulheres que, diante de um resultado positivo, não acreditam ou preferem não compartilhar suas histórias com outras mulheres soropositivas para saber como cada uma lidou com a questão.
Ter uma boa rede de apoio pode ser de grande ajuda quando houver esse tipo de dúvida. "Quanto mais rápido o casal tiver o conhecimento do status sorológico do HIV, mais rápido podem iniciar o tratamento e a prevenção e, consequentemente, ter uma melhor qualidade de vida", lembra Rosana.
Tenho HIV, mas meu parceiro não. Ele insiste em não usar preservativos. Como lidar?
Muitos homens alegam que o preservativo incomoda e acreditam que mulheres não são capazes de passar HIV para homens. Além de ser uma percepção equivocada, pode colocar a saúde do casal em risco. As mulheres transmitem, sim, HIV, embora a transmissão de homens para mulheres seja mais fácil.
"O preservativo não só previne a transmissão do HIV, mas também de outras DSTs, como sífilis, HPV, clamídia, gonorreia e as hepatites B e C", lembra a infectologista Rosana. O uso de preservativos também é uma questão de hábito e adaptação. Um casal pode experimentar diferentes marcas e tipos de camisinha, até descobrir a que melhor se adapta a ambos. Informe-se também sobre o preservativo feminino, visto que pode estar disponível nos serviços de saúde.
É muito importante que todas as mulheres possam discutir com seus parceiros sobre a importância do uso do preservativo em todas as relações. "Por isso, a mulher deve retomar essa negociação sempre que possível", aconselha Rosana.
Caso ele não mude de ideia e você esteja preocupada com a transmissão, o melhor conselho é seguir o tratamento com medicamentos antirretrovirais e acompanhar a sua carga viral. "Se não há vírus circulante, ou seja, a carga viral é próxima de zero, o risco de transmissão do HIV é muito baixo - porém não é inexistente."
Tenho HIV e estou iniciando um novo relacionamento. Devo contar?
Esse medo é bastante compreensível, porque ainda há muito preconceito em relação ao vírus e às pessoas que têm a infecção. Contudo, esconder sua condição sorológica é alimentar o preconceito, achando que ter HIV é algo do que se envergonhar. "Você deve procurar o momento mais adequado do relacionamento para revelar seu status sorológico, e até que isso aconteça tenha sempre relações sexuais com preservativos", diz a infectologista Rosana.
Mulheres com HIV também podem buscar conhecer a história de outras mulheres soropositivas para saber como cada uma lidou com essa questão. Ter uma boa rede de apoio pode ser de grande ajuda quando houver esse tipo de dúvida. Se você se preocupa com a pessoa na sua frente, seja franco. "Não adianta fingir que esse problema não existe", completa a médica.
Caso você tenha relações sexuais casuais e não quer contar, use o preservativo. Segundo o doutor em imunologia Eduardo Finger, as chances de transmissão do vírus HIV em uma única relação sexual é próxima de zero - mas isso não elimina a necessidade de camisinha.
O ideal é que todas as pessoas que passem por uma situação de risco (sexo sem preservativo ou o compartilhamento de utensílios para uso de drogas) façam o teste para diagnóstico do HIV. "Em até 72 horas, a pessoa exposta pode utilizar o que chamamos de Profilaxia Pós Exposição (PEP), ou seja, o uso de medicamento antirretroviral para diminuir a chance de infecção pelo HIV", diz Rosana Del Bianco. O ideal é iniciar a PEP em até duas horas após a situação de risco, pois a eficácia diminui conforme as horas passam.
Descobri que sou portadora de HIV. Aconselharam-me a encontrar todas as pessoas com quem me relacionei para contar. É realmente necessário?
O HIV é apenas um vírus. Entretanto, algum dos seus parceiros transmitiu-o a você e pode ser que ele não saiba da sua condição de portador. Alertá-lo para que faça o teste pode ajudá-lo a iniciar o tratamento mais precocemente e com menos chance de estar com o sistema imunológico prejudicado.
"Caso seja desconfortável para você contatar essas pessoas, tente fazê-lo de forma anônima, mas é importante encontrar meios de contar", afirma Eduardo Finger. Como você não sabe desde quando está com o vírus, também pode tê-lo transmitido para algum dos seus parceiros. "Não contar é impedir a pessoa de se tratar precocemente."
Posso fazer sexo casual mesmo sendo HIV positivo? Quais os riscos?
Sim, desde que com o uso do preservativo. "No caso de rompimento da camisinha, oriente seu parceiro a buscar, em até 72 horas, o uso de medicamento antirretroviral para diminuir a chance de infecção pelo HIV", alerta a infectologista Rosana. Manter o tratamento do HIV e certificar-se que de sua carga viral está controlada também é essencial nesses casos, pois diminui ainda mais as chances de transmissão.
Por que usar preservativos se eu e meu parceiro somos portadores do HIV?
Porque os vírus podem ser diferentes: as mutações e resistências são diferentes em cada organismo. Neste caso, fazer sexo sem preservativo, coloca em risco você e seu parceiro para a transmissão de um vírus mais resistente. "Quando você é infectado, é infectado por um número pequeno de vírus", explica Eduardo Finger.
Esse vírus sofre mutações e seu organismo mata algumas delas, ficando apenas a mutação que mais se adaptou ao seu organismo. Ao fazer sexo com outra pessoa soropositiva sem preservativo, os vírus podem sofrer novas mutações e se tornar mais agressivo ou mais resistente aos medicamentos.
"Além disso, o preservativo evita a aquisição de outras doenças sexualmente transmissíveis, como hepatite B, sífilis, gonorreia, entre outras, que podem ser difíceis de tratar e curar."
Se minha carga viral do HIV está indetectável, preciso transar com camisinha?
Sim. A carga viral "zerada" reflete o sucesso do tratamento em uso, mas não significa que o vírus tenha sido eliminado - ele ainda está presente em algumas células esperando a oportunidade de passar para outro corpo que não tenha os remédios em ação. Além disso, existem locais do corpo em que os medicamentos não agem tão bem.
"As chances de transmissão são muito pequenas, mas nunca nulas", afirma Eduardo Finger. Além disso, os exames indicando as cargas próximas de zero pode ser um falso negativo ou o tratamento pode se tornar menos eficaz em algum momento por diversos fatores. Dessa forma, não é possível saber com certeza como está a sua carga viral no momento da relação sexual. "Transar uma vez sem camisinha já é um risco."