Existe uma crença de que cárie em dente de leite não seria tão ruim quanto cárie em dente permanente. Segundo especialistas, esse pensamento está completamente equivocado. Os dentes de leite, mesmo que todos saibam que eles vão eventualmente cair, precisam ser bem cuidados desde o seu nascimento.
"A cárie, além de comprometer o dente precocemente, também pode causar dor, inflamação e outros problemas para a criança. É preciso lembrar também que o dente de leite 'reserva' o espaço para o permanente que vai nascer naquele local. Quando ele cai antes da hora, o dente que nasceria ali corre o risco de perder esse espaço", esclarece a odontopediatra Erika Josgrilberg Guimarães (CRO-SP-CD-70669), professora da Universidade Metodista de São Paulo.
"Quando a cárie não é tratada no dente de leite, pode evoluir e atingir a polpa, que é o nervo do dente. Isso pode promover uma infecção, que, em alguns casos, afeta o dente permanente que está logo abaixo. Com isso, o permanente pode nascer já com alguma imperfeição, como má formação ou manchas", destaca a odontopediatra Lúcia Coutinho (CRO-SP 23626).
Alimentos açucarados
Quando o assunto é cárie na infância os grandes vilões são, sem dúvida, a alimentação e a escovação - ou a falta dela. Isso porque os dois itens caminham de mãos dadas. Quando uma criança ingere açúcares, mesmo que seja só um pouco, a higienização da boca é fundamental.
"A cárie dentária é um processo crônico e multifatorial causada pela interação entre bactérias e a ingestão frequente de carboidratos fermentáveis, que são os açúcares/sacarose, associadas a uma higiene deficiente", esclarece Lúcia.
E se engana quem acha que apenas refrigerantes e doces contêm açúcar. "Tem que sempre estar atento e se preocupar com isso na hora de comprar os alimentos. O pãozinho do mercado tem açúcar, por exemplo. Os pais precisam ler as embalagens e controlar o que seus filhos ingerem", afirma Erika. Portanto, evite criar o hábito de oferecer itens açucarados para a criança. Prefira frutas e alimentos naturais mais saudáveis.
Esquecer de escovar os dentes
A escovação da criança deve ser como a do adulto, após as refeições. Pular ou esquecer de realizar essa tarefa é prejudicial para a saúde bucal dos pequenos. Quando for higienizar a boca do bebê, use uma gaze ou uma fralda limpa para fazer a limpeza. Para crianças maiores, escolha escova com cerdas macias e com a cabeça pequena.
Desde os primeiros dentes, a higienização deve ser feita com pasta que contém flúor, em quantidades mínimas. Para uma criança de até dois anos, a recomendação é que se use o equivalente ao tamanho de um grão de arroz cru e que a quantidade aumente até um grão de ervilha para os maiores.
"Faça movimentos de escovação suaves tanto nas paredes internas como nas externas dos dentinhos. Não se esqueça da língua, para não haver acúmulo de bactérias que causam mau hálito. Como a quantidade de creme dental é realmente bem pequena, não há necessidade de enxágue, porém crie esse hábito logo que o bebê conseguir cuspir", ensina o odontopediatra Fabio Bibancos (SP-CD-34408).
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Ele esclarece que, enquanto os dentes do bebê tiverem espaço entre si, não é necessário se preocupar com o fio dental. Mas assim que isso ocorrer, passe a incentivar o uso dele pela criança.
Uso de chupeta e objetos pessoais
Por mais que muitos pais não queiram abdicar do uso da chupeta, ela não é vista com bons olhos. Além dos prejuízos respiratórios que pode trazer (a criança respira mais pela boca o que piora a elevação do palato, o céu da boca), quando associada a hábitos equivocados pode favorecer o aparecimento de cárie.
"A chupeta pode influenciar indiretamente a cárie já que muitos pais têm o hábito de colocar algo doce no bico para acalmar o bebê. Além disso, como a tendência é respirar pela boca, o ambiente fica mais seco e isso pode favorecer o aparecimento de cárie. A saliva ajuda a limpar o dente", alerta Erika.
Hábitos como provar a papinha e dar para o bebê na mesma colher ou usar a mamadeira da criança não contribuem para a boa higiene bucal. "A cárie só acontece na presença de bactérias na cavidade oral e retardar o aparecimento das mesmas ou não desequilibrar a flora natural do bebê é um ponto importante para a saúde bucal dele", afirma Bibancos.
Não visitar o dentista
Adiar a visita das crianças ao dentista não é uma opção. Fazer consultas regulares com o odontopediatra é fundamental. E melhor ainda se a rotina de cuidados for feita por um profissional especializado no público infantil. A ideia é que, com muita didática e paciência, ele conquiste a confiança do paciente mirim, sem provocar traumas.
"Normalmente, a primeira consulta deverá acontecer por volta de um ano de idade da criança, que é quando ela apresenta seus primeiros dentes. Na consulta, a mãe receberá orientações sobre escovação, alimentação correta e auxílio na remoção do uso prolongado da chupeta, sucção de dedo e no uso indiscriminado da mamadeira. São informações essenciais para a prevenção não apenas da cárie, mas outros problemas", ensina Lúcia.
Ela ressalta que a visita ao consultório deve acontecer a cada seis meses, desde que a criança tenha bons hábitos alimentares e boa higiene bucal. Caso contrário, os retornos deverão ser mais frequentes, a cada dois meses.