Atualizado dia 14/10/2021
A pandemia do coronavírus ainda assusta brasileiros e traz algumas dúvidas, como por exemplo, a eficácia e os possíveis riscos das vacinas da COVID-19 em grávidas e puérperas. Por outro lado, estudos recentes já mostram bebês que nasceram com anticorpos após a mãe ter sido vacinada na gestação.
Saiba mais: Quais os riscos de pegar COVID-19 na gravidez?
Para entender as orientações sobre a vacinação de grávidas e puérperas, reunimos as mais recentes diretrizes do Ministério da Saúde e conversamos com médicos para tirar suas dúvidas.
Grávidas e puérperas e a vacina da AstraZeneca
A vacinação em gestantes e mulheres que deram à luz há até 45 dias com o imunizante da Astrazeneca/Oxford/Fiocruz foi suspensa em maio deste ano, após orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi uma medida de precaução após a morte de uma gestante que havia sido imunizada, decorrente de um tipo de trombose.
Além disso, a pasta alertou para que as mulheres que já receberam a primeira dose da vacina fiquem atentas e procurem um médico se apresentarem um desses sintomas entre 4 a 28 dias após a aplicação do imunizante da AstraZeneca:
- falta de ar
- dor no peito
- inchaço na perna
- dor abdominal persistente
- sintomas neurológicos, como dor de cabeça persistente e de forte intensidade, vista borrada, dificuldade na fala ou sonolência
- ou pequenas manchas avermelhadas na pele além do local em que foi aplicada a vacina.
Combinação de vacinas
Depois da suspensão, a orientação sobre como deveria ser completado o ciclo vacinal das mulheres desse grupo que já haviam recebido a primeira dose da AstraZeneca mudou algumas vezes.
No começo, segundo o Ministério da Saúde, elas deveriam aguardar o fim da gravidez e do puerpério para receberem a segunda dose também da AstraZeneca. Um mês depois, alguns estados, como Rio de Janeiro e Ceará, passaram a adotar a combinação de vacinas, usando o imunizante da Pfizer na segunda etapa de imunização. A medida, entretanto, foi desaconselhada pela pasta da Saúde na época.
Entretanto, no final de julho, por meio de uma nota técnica da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à COVID-19 (SeCov), a pasta mudou novamente o posicionamento e passou a orientar que grávidas e puérperas, de fato, recebessem a vacina da Pfizer na segunda dose. Na falta do imunizante norte-americano na data prevista para a segunda dose, a indicação é a CoronaVac.
"É importante que as grávidas se vacinem e façam essa intercambialidade, preferencialmente com a vacina da Pfizer, a qual existem estudos já mostrando essa efetividade", afirmou Rosana Leite, secretária Extraordinária de Enfrentamento à COVID-19 na nota. "Na excepcionalidade, elas poderão usar também a CoronaVac que mostra uma boa efetividade", concluiu.
Vacina da AstraZeneca e o risco de trombose
Já foram constatados quadros de trombose após a aplicação do imunizante, mas o número, entretanto, é bem baixo e considerado raro. De acordo com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que equivale à Anvisa aqui no Brasil, foram 222 quadros de trombose entre 35 milhões de vacinados até o começo de março. Alguns casos também foram registrados após o uso da vacina da Janssen.
Isso pode estar relacionado à produção dessas vacinas, que levam dois tipos de adenovírus, e como o corpo reage a isso. Porém, ainda é necessário mais estudos para esclarecer essa relação.
Como na gravidez a mulher já tem um risco maior para trombose, por isso o cuidado de não se aplicar uma vacina como a AstraZeneca que pode, mesmo em uma porcentagem baixa, também aumentar esse risco, como explica o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli.
O médico também ressalta que o aumento do risco de trombose tem relação com diversos outros fatores, como predisposição da mulher à formação de coágulos. As autoridades de saúde também frisam que os riscos de trombose são muito menores que os benefícios das vacinas e até o risco da própria COVID-19 causar trombose em qualquer paciente.
Grávidas e demais vacinas
Atualmente, a orientação geral para grávidas e puérperas que ainda não começaram o ciclo vacinal indica o uso dos imunizantes da Pfizer/BioNTech ou da CoronaVac/Butantan. Ambos não têm o vetor viral que está presente na vacina da AstraZeneca.
Com a recomendação feita pelo Ministério da Saúde para que grupos de risco e profissionais da saúde recebam uma dose de reforço da vacina contra o coronavírus, gestantes também devem procurar postos de saúde para a imunização extra.
Segundo a orientação dada pela Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo, gestantes e puérperas que já completaram o esquema vacinal de duas doses da CoronaVac ou Pfizer devem aguardar seis meses para receber a terceira dose do imunizante.
Logo, grávidas, idosos e trabalhadores da área da saúde fazem parte do grupo em que o esquema vacinal completo é composto por três doses - a última com um intervalo de seis meses entre a segunda. Ainda de acordo com Ministério, vacinas como a influenza e DTPa também podem ser aplicadas junto com a anti-covídica.
No dia 6 de outubro, a Câmara aprovou um projeto de lei que prevê a volta de gestantes ao trabalho presencial após a imunização completa e o fim do estado de emergência. Entretanto, caso a mulher se recuse a se vacinar, é preciso que um termo de responsabilidade seja assinado para que o retorno ao trabalho ocorra.
Toda grávida pode se vacinar?
Larissa Cassiano, obstetra e ginecologista da Theia (clínica de saúde centrada na mulher gestante), explica melhor os pontos que devem ser levados em conta para a vacinação. "Se existe intensa exposição ao vírus, por exemplo, se a mãe trabalha na área de saúde ou em outras profissões de risco, e também as comorbidades das próprias gestante. É importante levar em consideração a opinião da gestante juntamente com o médico que a está acompanhando".
Ela ressalta a importância da imunização desse grupo de mulheres. "A vacinação protege a gestante contra a infecção e as formas graves que na gestação colocam em risco tanto a mãe quanto o bebê", afirma a médica.
Além disso, as mulheres que estão amamentando e apresentam comorbidades também foram liberadas a tomar a vacina da COVID-19 na capital paulista a partir do dia 7 de junho. A estimativa, na primeira etapa, era de que fossem vacinadas 28 mil mulheres desse grupo em São Paulo.
É necessário apresentar o comprovante da comorbidade e de residência do município de São Paulo, além da certidão de nascimento do bebê, de até 12 meses de idade. Para o grupo de lactantes, não há restrição de vacinas a serem administradas.
Anticorpos transmitidos para os bebês
Larissa ainda cita como ponto positivo da vacinação em grávidas o fato de que já há registros no Brasil e em outros países de bebês que nasceram com anticorpos contra o coronavírus após as mães terem sido imunizadas na gestação. Por aqui, o caso foi registrado após o uso da CoronaVac. "Já existem relatos semelhantes com a vacina da Moderna e da Pfizer, mas faltam estudos para que possam alinhar melhor esse efeito", completa a especialista.
Saiba mais:
Bebê nasce com anticorpos contra COVID-19 após mãe receber vacina
Os casos animam, mas ainda são muito recentes e, como também alerta Larissa, ainda não é possível estabelecer o tempo que esses anticorpos vão durar nos bebês. Também ainda estão analisando o melhor momento para fazer a imunização na grávida. "Talvez no início [da gestação] seja melhor para a proteção da mãe, mas para o feto ainda não é possível estimar", diz a obstetra.
E ainda há mais uma esperança: os anticorpos que podem ser levados ao bebê pelo leite materno. "Algumas pesquisas já estão sendo realizadas nesse sentido e dados preliminares mostram que anticorpos foram encontrados no leite materno, um alento para lactantes que se vacinaram", finaliza Larissa.