Ginecologista e obstetra da Pineapple Medicina Integrativa. Graduada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janei...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O que são pessários?
Os pessários são componentes maleáveis de uso ginecológico, de vários tamanhos e formatos, que são utilizados como suporte aos órgãos da pélvis - bexiga, útero ou reto. Os mais comuns são os anéis de silicone, que são introduzidos manualmente na vagina e atuam melhorando o suporte da região.
Atualmente, os pessários são mais usados no tratamento conservador de diversos problemas ginecológicos, seja pelos altos riscos oferecidos em uma cirurgia ou por escolha da paciente.
Para que serve?
O pessário funciona como uma solução para mulheres que convivem, principalmente, com incontinência urinária, prolapso e até gestantes com o colo do útero curto e alto risco de parto prematuro.
Segundo Isabella Albuquerque, ginecologista e obstetra da Pineapple Medicina Integrativa, o uso do pessário não é somente seguro, mas é a primeira indicação para as pacientes com problemas de saúde que restringem as cirurgias. Além disso, a utilização do dispositivo pode ser indicada também para mulheres que já foram operadas, mas sofreram uma recidiva e não desejam passar por uma cirurgia novamente.
"Os pessários são dispositivos de fácil manuseio, sendo que a própria paciente pode colocá-lo e tirá-lo para realizar a limpeza e manutenção", acrescenta a especialista.
Quando o pessário é indicado
Prolapso pélvico
O prolapso dos órgãos pélvicos, ou prolapso uterino, ocorre quando os músculos e ligamentos do assoalho pélvico se tornam distendidos e flácidos, ocasionando uma queda ou descida para a vagina ou região externa. Segundo estimativas, cerca de 40% das mulheres acima de 50 anos de idade sofrem com algum tipo de prolapso, sendo esse um fenômeno comum a partir da menopausa.
"Dessa forma, tanto a bexiga quanto o reto, que se apoiam nas paredes vaginais anterior e posterior, podem também ficar mais baixos, causando desde uma sensação de bola na vagina até sintomas urinários ou de dificuldade da evacuação", explica Isabella Albuquerque.
No entanto, conforme acrescenta a ginecologista, o prolapso não é uma condição exclusiva de pacientes idosas e pode acontecer em qualquer idade, já que muitas condições que alteram a anatomia ou aumentam muito a força intra-abdominal podem acarretar na dificuldade do suporte dos órgãos pélvicos, como:
- Prisão de ventre ou tosses crônicas
- Múltiplas gestações
- Obesidade
- Levantamento de peso excessivo ao longo da vida
Nesse contexto, o pessário é alojado profundamente na vagina, servindo como um suporte para os órgãos que decaíram.
Incontinência urinária
Caracterizada pela perda involuntária da urina, a incontinência atinge 10 milhões de brasileiros de todas as idades, porém é mais comum acometer o público idoso e do sexo feminino.
A condição pode ocorrer devido ao consumo de certas bebidas, alimentos e a administração de medicamentos que atuam como diuréticos - ou seja, que estimulam a bexiga e aumentam seu volume de urina. No entanto, algumas condições médicas podem causar a incontinência, como prisão de ventre e estresse emocional.
Aqui, o pessário ajuda a segurar a bexiga, que fica perto da vagina, e assim evita a perda de urina. Além dele, existem outros meios de tratar a condição, como tratamentos comportamentais ou terapias feitas com medicamentos.
Colo do útero curto durante a gravidez
Embora seja comum que o colo do útero encurte durante a gravidez, em razão do crescimento do bebê, há o risco de trabalho de parto prematuro caso isso ocorra cedo demais.
A principal causa seria a incompetência istmocervical, ou insuficiência cervical, que ocorre quando o bebê, já maior e mais pesado, pressiona o colo do útero. Se ele for curto, a pressão exercida pode fazer com que ele se abra antes da hora. O encurtamento pode ser diagnosticado através de um exame transvaginal, feito a partir da 18ª semana de gestação.
Neste caso, o uso do pessário reduz as chances de parto prematuro. O anel de silicone, ao ser inserido na vagina, ajuda a manter o colo do útero fechado, suportando o peso do bebê. Ele pode ser colocado entre a 18ª e 22ª semana e retirado a partir da 37ª, para que, enfim, ocorra o trabalho de parto. O procedimento deve ser sempre realizado por um obstetra.
Leia também: Entenda o que acontece com o corpo da mulher na gravidez
Tipos de pessário
Os tipos de pessário vaginal são variados, de modo que o ginecologista avaliará o modelo ideal para cada caso. No mercado, atualmente, existem as seguintes opções:
- Cubo
- Anel
- Donut
- Donut inflável
- Shaatz
- Anel com suporte
- Gellhorn
- Disco para incontinência
Como o pessário é utilizado
O primeiro contato da paciente com o pessário deve ser junto ao ginecologista, que avaliará o tipo e o tamanho adequado para o caso. "Isso porque o pessário ideal não escapa sozinho, nem causa nenhum tipo de dor ou desconforto. Algumas tentativas podem ser necessárias e até períodos de teste antes da definição final", esclarece Isabella Albuquerque.
Após isso, a própria paciente pode introduzir o pessário sozinha, seguindo instruções do médico. O dispositivo deve ser introduzido completamente na vagina até se adaptar à anatomia local. Segundo a ginecologista, não há necessidade de retirá-lo para realizar qualquer tipo de atividade diária, apenas para a higienização do produto.
Cuidados necessários
Em mulheres na pós-menopausa, é recomendado o preparo prévio do tecido vaginal com cremes à base de estrogênios, que também devem ser mantidos durante o uso do pessário. Isso porque, após a menopausa, a pele da vagina atrofia em razão da falta do hormônio - deixando a mucosa vaginal mais seca e propensa à ulcerações pelo uso do pessário. O ginecologista poderá indicar os cremes mais adequados, além de discutir as reações deles.
Ademais, os pessários devem ser retirados a cada 30 a 60 dias para lavagem e reintroduzidos depois da higienização. De acordo com Isabella Albuquerque, é importante também a reavaliação periódica do tecido e do conteúdo vaginal, a fim de tratar qualquer possível infecção ou trauma local.
Quem usa pessário pode ter relações sexuais?
Sim, caso o pessário utilizado seja em formato de anel. Porém, é possível que a paciente ou o parceiro sinta o dispositivo durante a relação sexual. Nesse caso, o pessário pode ser retirado e recolocado novamente após o ato.
Outros dispositivos, como os pessários de cubo ou de Gelhorn, por preencherem grande parte da vagina, impedem que a paciente tenha relações sexuais com eles introduzidos.
Desvantagens e possíveis efeitos colaterais
Existem poucos relatos de complicações pelo uso do pessário, mas é possível que ocorram alguns problemas a depender do tipo utilizado. O pessário de cubo, por exemplo, por ser mais aderente à parede e a mucosa vaginal, facilita o aparecimento de úlceras e secreção vaginal. Aqui, pode surgir um corrimento rosado e com sangue, e a úlcera é facilmente curada quando o pessário é retirado.
Entre outras complicações relacionadas ao uso do pessário, é possível destacar:
- Dor e desconforto: normalmente, ocorrem pela colocação ou tamanho inadequado do pessário, podendo ser ele muito grande ou muito pequeno
- Corrimento esbranquiçado: é mais comum que ocorra pelo uso de pessários em anel, porém o corrimento não deve ter cor ou cheiro desagradável
- Expulsão do pessário ao realizar atividades diárias: o tamanho do dispositivo também pode levar à sua expulsão após a realização das atividades rotineiras, o que não é adequado
Onde encontrar
Os pessários vaginais podem ser encontrados em lojas de artigos hospitalares. Através de um formulário, o ginecologista indicará o modelo correto e informações complementares para sua identificação na hora da compra.
Preço do pessário vaginal
O preço do pessário pode variar de acordo com a marca, tamanho e tipo. Modelos mais comuns, como os pessários de anel e donut, podem ser encontrados a partir de R$ 350 e chegam aos R$ 650.