Michelle Evangelista é enfermeira Obstetra e Consultora de amamentação. Colaboradora da Lansinoh Brasil, Enfermeira Obst...
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O que é amamentação em livre demanda?
A amamentação em livre demanda é a prática na qual a mãe permite que o bebê seja amamentado quantas vezes ele quiser e pelo tempo que sentir vontade, sem restrição de horário e de duração, até ele se sentir satisfeito. Isso irá depender do ritmo de cada criança e, com o tempo, é comum que a livre demanda se ajuste.
Na maior parte das vezes, o bebê pede para se alimentar por sentir fome. Porém, ele também pode buscar a mãe por outras necessidades, como: afeto, proteção, indisposição e sono, segundo Cinthia Calsinski, consultora internacional de amamentação e consultora de assuntos relacionados à gestação e à maternidade da V-Lab.
Quando o bebê nasce, devido ao estômago menor, é normal que ele mame com mais frequência para se saciar e crescer. “Bebês recém-nascidos têm uma demanda maior, mamando em intervalos menores, fazendo com que muitas mães acreditem que seu leite não é o suficiente”, explica Michelle Evangelista, enfermeira obstetra e consultora de amamentação.
Quando a amamentação deve começar?
O aleitamento materno deve começar logo na sala de parto. Imediatamente após o nascimento, o ideal é que o bebê seja colocado pele a pele com a mãe, onde ele buscará pelo seio para iniciar a sucção.
A primeira hora de vida do recém-nascido com a mãe, chamada de hora de ouro, contribui para que a mulher tenha leite mais rapidamente e aumenta o vínculo com a criança. Por auxiliar nas contrações uterinas, ela também diminui o risco de hemorragia pós-parto — aumentando as chances de sucesso do processo.
“Na primeira hora, o bebê quer ser tocado, abraçado e sentir-se bem recebido. Desses primeiros momentos ele vai extrair os alimentos para a sua autoestima futura e para o seu desenvolvimento saudável”, esclareceu o ginecologista e obstetra Cláudio Basbaum em artigo publicado no Minha Vida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a amamentação é, isoladamente, a estratégia que mais contribui para a diminuição da mortalidade infantil no mundo. O leite materno possui todos os nutrientes necessários que os recém-nascidos precisam e é indispensável para o seu desenvolvimento físico, psíquico e imunológico.
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Até que idade se deve fazer a livre demanda?
A amamentação em livre demanda é essencial ao menos até o primeiro ano de vida do bebê. A recomendação da OMS é que o leite materno seja o alimento exclusivo dos bebês até os seis meses de vida e, após esse período, seja oferecido como complemento até os dois anos de idade.
Entre os principais benefícios do leite materno está a prevenção de vários tipos de doenças, como diabetes, asma e leucemia.
Benefícios da amamentação em livre demanda
Para o bebê, ser amamentado em livre demanda auxilia no ganho de peso adequado e no fortalecimento do vínculo com a mãe, segundo Michelle Evangelista. Além disso, ele passa a aprender a distinguir as sensações de fome e de saciedade.
"A livre demanda permite que o bebê regule seu ciclo de fome e de saciedade de forma natural. Isso vai assegurar que o bebê receba os nutrientes conforme a sua real necessidade", falou a pediatra e homeopata Lílian Cristina Moreira em entrevista prévia ao Minha Vida.
Já para a lactante, a livre demanda é a principal forma de prevenir o leite empedrado e de evitar outros problemas durante a amamentação, como mastite e obstrução de ducto.
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A amamentação em livre demanda pode provocar obesidade?
A maioria dos estudos que avaliou a relação entre obesidade em crianças com menos de três anos constatou que a amamentação é um fator protetor significativo contra a obesidade infantil.
Na verdade, segundo um artigo publicado em 2011 na revista JAMA Pediatrics, a introdução precoce de sólidos ou alimentos para bebês está ligada a um risco maior da doença e de alergias alimentares. Por isso, o aleitamento materno em livre demanda é o melhor caminho para combater o ganho de peso entre os filhos.
A partir da livre demanda, o bebê é capaz de aprender desde cedo a regular a ingestão de alimentos, o que o ajuda a desenvolver padrões saudáveis de alimentação e reduz os riscos de que ele tenha obesidade infantil no futuro.
Como conciliar a amamentação em livre demanda com a rotina?
Durante todo o período de aleitamento, contar com uma rede de apoio familiar é essencial para que a lactante consiga conciliar a prática da livre demanda com as suas atividades diárias. Afinal, as multitarefas da vida não param para a amamentação acontecer.
Para que tudo flua naturalmente, é importante que a mãe descanse, tenha momentos de relaxamento e se alimente de forma adequada. Nesse contexto, o parceiro ou parceira pode demonstrar apoio de várias formas.
“Faça uma comidinha gostosa, dê água enquanto ela amamenta, fique com o bebê para que ela possa tomar um banho quentinho e se alimentar. Lembre-a que ela não está sozinha e que pode contar com você”, aconselha Michelle.
Todavia, se esse não for o cenário da lactante, a especialista recomenda um planejamento de pós-parto. “Se a mulher não vai contar com a ajuda de outras pessoas, deixar comidinhas congeladas prontas vai auxiliar naqueles dias mais conturbados para que ela possa se alimentar”, diz Michelle.
Pode ser difícil no início em função da alta demanda do bebê, mas a tendência é que isso reduza e que a criança estabeleça seu próprio ritmo. “À medida que o tempo passa, há melhor conhecimento do bebê e acertar na interpretação das demandas fica mais fácil. No início, a gente acha que tudo é fome, depois ficamos mais experientes em interpretar os bebês”, aponta Cinthia.
Como prosseguir com o aleitamento após o retorno ao trabalho?
O planejamento é um passo fundamental para garantir que o bebê não seja prejudicado com o retorno da mãe ao trabalho. Para que o aleitamento prossiga sem problemas, existem algumas formas de ordenhar e de estocar o leite. Mesmo trabalhando, a lactante pode extrair o leite com o auxílio de bombas extratoras ou até manualmente.
É importante ressaltar que o leite armazenado deve ser ofertado à criança de forma correta a fim de evitar um possível desmame precoce. Segundo Michelle Evangelista, a oferta deve ser realizada sempre no copinho ou na colher.
“A mamadeira pode causar confusão de bico para o bebê, além de a mamadeira ser muito mais fácil para a sucção, fazendo com que o bebê não queira mais o peito”, esclarece a consultora em amamentação.
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