
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Falamos entre 7.000 e 14.000 palavras por dia e muitas vezes esquecemos o poder que elas têm, especialmente quando usamos com crianças. Nossa paciência pode estar no limite, e o cansaço pode tomar conta. Por isso, ao conversar com nossos filhos, nem sempre nos damos conta de que estamos dizendo coisas que podem afetar negativamente sua confiança ou autoestima.
Algumas frases parecem positivas, como “você vai se sair bem”, mas, podem gerar frustração na criança. Outras são tão normalizadas, apesar de prejudiciais, que acabamos ignorando o poder (negativo) que elas têm. A seguir, analisamos algumas das frases mais prejudiciais, segundo especialistas, que podemos dizer sem perceber.
“Não precisa ficar com medo”
Como essa frase, dita com boa intenção, pode ser negativa? Porque estamos sinalizando à criança que algumas emoções que ela sente são ruins. Com isso, fazemos com que ela associe emoções desagradáveis a algo que deve ser evitado, quando, na verdade, o correto seria ajudá-la a aprender a lidar com elas.
A psicóloga infantil Blanca Torres explicou, no curso "Medo na Infância", que para começar a entender os medos, "a primeira coisa que devemos fazer é parar de negá-los". É muito melhor validar essa emoção para que a criança compreenda que existe uma ampla gama de sentimentos e que não há problema em senti-los; o importante é aprender a administrá-los.
“Você me deixa com raiva”
A psicóloga e especialista em parentalidade Amy Morin explicou em seu livro 13 coisas que pais mentalmente fortes não fazem que os pais devem aprender a regular suas próprias emoções para dar o exemplo aos filhos e ajudá-los a desenvolver força mental. Culpar a criança pelas emoções dos adultos, no entanto, tem o efeito oposto.
A especialista esclareceu à CNBC que, em vez de demonstrar raiva pelo que a criança fez e dizer que ela causou essa emoção, uma resposta mais saudável seria explicar que você não gosta daquela atitude e detalhar por que ela é inadequada. “É importante que as crianças entendam como seu comportamento pode afetar os outros”, diz Morin. “Mas, ao manter a calma, você ensina ao seu filho que todos temos a capacidade de controlar nossos sentimentos e que cabe a nós administrá-los de forma saudável.”
“Por que você não é como seu irmão?”
Mesmo sendo irmãos, é impossível que sejam iguais. A educadora Mariana Martínez afirma que, ao pedir que uma criança aja como o irmão, estamos, na verdade, rejeitando quem ela é. “Estamos indiretamente pedindo que ela seja ‘alguém diferente’, a quem valorizamos mais.” Como consequência, a criança "perde a noção de seu valor intrínseco, aquele que ela tem apenas por ser quem é. Ela se sentirá insegura, incapaz, inútil e, claro, menos amada".
“Você é burro?” ou “O que há de errado com você?”
As críticas dos pais influenciam diretamente a maneira como o cérebro das crianças responde às emoções. Segundo pesquisas, crianças com pais críticos tendem a usar estratégias de enfrentamento evitativas em situações de estresse, ao contrário daquelas criadas em ambientes mais acolhedores.
A psicóloga clínica Dra. Jazmine McCoy também destaca que a maneira como falamos com nossos filhos se torna a voz interior deles. “Se dissermos que são burros ou fizermos críticas duras, eles acreditarão em nós”, alerta a especialista. Mesmo que estejamos cansados ou irritados, é essencial escolher as palavras com cuidado, pois “as crianças não esquecem o que dizemos”.
“Para de chorar” ou “Fica calmo”
A psicóloga clínica Martha Deiros Collado disse ao HuffPost que essas frases são contraproducentes em momentos de sobrecarga emocional, tanto para crianças quanto para adultos. “Você não pode reprimir uma emoção que precisa ser liberada”, explica. Pedir que a criança se acalme imediatamente “só aumenta a probabilidade de uma explosão emocional. Antes de se acalmar, a emoção precisa ser expressada, e o que ela tenta comunicar precisa ser ouvido.” Mesmo que, do seu ponto de vista adulto, o motivo do choro pareça pequeno, para a criança ele é real e importante.
“Porque eu disse”
Essa é uma das frases mais comuns e muitas vezes reflete apenas a perda de paciência dos pais. Talvez a criança tenha feito muitas perguntas e você esteja exausto, desejando apenas que ela obedeça. No entanto, como explica a psicóloga Cindy T. Graham, ouvir “porque eu disse” quando se busca uma explicação é extremamente frustrante, pois "falta uma justificativa para uma decisão importante para quem pergunta". E as crianças também merecem essas explicações, adaptadas à sua idade.
"Se a criança continuar perguntando, em vez de dizer 'porque eu disse', valido seus sentimentos", orienta Graham. Você pode fazer isso dizendo: "Eu sei que você queria X, mas já expliquei por que precisa ser Y, então não vamos mais discutir sobre isso."
Antes de terminar, é importante lembrar que nenhum pai ou mãe é perfeito, e fingir ser é impossível. Agora que você conhece o impacto de algumas frases, pode ser que, em momentos de cansaço, acabe repetindo elas — e tudo bem.
Mudanças verdadeiras levam tempo e esforço. Se perceber que disse algo negativo, não hesite em pedir desculpas ao seu filho. Você ensinará a ele uma lição poderosa, mais valiosa do que imagina.
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