Drunkorexia ou alcoorexia. Esses são os nomes do drama enfrentado pela personagem Renata, interpretada pela atriz Bárbara Paz, na novela Viver a Vida (Globo).
Trata-se de um transtorno misto, que envolve sintomas tanto da anorexia como do alcoolismo, mas que não se encaixa por completo na definição de nenhuma destas duas doenças. De acordo com um levantamento feito pelo Center for Motivation and Change, clínica de reabilitação dos Estados Unidos, cerca de 30% das mulheres alcoólatras também apresentam algum sintoma de anorexia. O público feminino é o principal alvo da doença.
"A paciente com este quadro clínico deixa de comer para não engordar e consome bebidas alcoólicas para se sentir livre e se mostrar independente perante seu grupo", explica o psiquiatra Marcelo Niel, colaborador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp. "Uma pessoa anoréxica tem problemas de aceitação com a própria imagem, mas isso fica só com ela; é uma doença silenciosa. Enquanto uma pessoa com drunkorexia (alcoólatra ou que abusa do álcool), em seu estado de embriaguez, pode cair, se machucar, ficar agressiva, como acontece com a personagem da novela", continua Marcelo.
Anorexia x drunkorexia
É comum tratar a drunkorexia como uma nova versão da anorexia , mas essa concepção é equivocada, podendo comprometer o tratamento. Embora sejam muito parecidas, estas duas doenças se distinguem por sua motivação: na anorexia, o dilema enfrentado pela paciente é a obsessão por emagrecer.
"A percepção de seu corpo se altera e tudo é feito para perder peso", diz Marcelo.
Quando o quadro é a drunkorexia, observa-se uma relação com o peso, mas a motivação principal é o prazer que o álcool proporciona. "Também existe a preocupação em passar uma imagem de independência", explica o psiquiatra, diz ele.
Sintomas da anorexia
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Obsessão em perder peso
- Não se alimentar e beber muita água para saciar a fome
- Alterações emocionais
- Depressão
- Distorção da própria imagem
- Demora em perceber e admitir o problema
- Provoca vômitos para emagrecer
Perfil das pacientes: homens e mulheres, entre 25 e 35 anos. "Geralmente foram gordinhos na infância ou adolescência mas, após terem feito uma dieta incorreta, realizada por conta própria, perderam peso e desenvolveram o transtorno", explica Marcelo.
Drunkorexia
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Não quer ganhar peso
- Não se alimenta e ingere bebida alcoólica para saciar a fome, já que ele é um inibidor de apetite, mas recorre à bebida, principalmente para saborear a sensação de liberdade nas baladas e em encontros com os amigos.
- Também pode ter motivações emocionais, como ocorre na anorexia, mas o foco não é canalizar isso na forma física, e sim na bebida e no prazer que ela proporciona. Pode haver, ou não, dependência do álcool.
- Depressão
- Não há distorção da própria imagem
- A descoberta da doença é mais rápida, afinal, a exposição é muito maior, em função da embriaguez que o álcool provoca - Provocar vômitos para poder beber mais
Perfil das pacientes: mulheres, entre 25 e 35 anos. "Não tiveram problemas com peso antes e não têm obsessão por isso, querem se sentir independentes", continua o psiquiatra.
A combinação álcool-estômago vazio
As mulheres, principalmente na faixa entre 25 e 35 anos de idade, ingerem doses excessivas de álcool para driblar a fome e amenizar as dores no estômago, substituindo refeições por bebidas e enviando estímulos falsos ao aparelho digestivo.
A combinação álcool e anorexia pode ser fatal, já que seus efeitos são extremamente nocivos ao organismo. Doses elevadas de bebidas aliadas a não ingestão de alimentos pode levar, em pouco tempo, a um quadro de intoxicação grave e provocar coma alcoólico.
Além de consequências imediatas, há também efeitos em longo prazo. O organismo feminino não absorve o álcool da mesma maneira que o masculino, tornando-o ainda mais suscetível ao alcoolismo e outras doenças, como a cirrose.
Saiba mais: Drunkorexia
Dependência x Abuso do uso do álcool
"A dependência (alcoolismo) se caracteriza pelo consumo exagerado, compulsivo e descontrolado de bebidas alcoólicas. Além dos danos à saúde, a doença compromete o desempenho no trabalho e altera o convívio social e familiar. Já o abuso, é marcado pelo consumo de doses excessivas, mal-estar, mas não altera de maneira contínua a vida social da pessoa e a dificuldade de romper com o problema", explica Marcelo Niel.
Males desencadeados pela drunkorexia
-Desmaio por hipoglicemia
Problemas estomacais
- Dependência
- Quedas e fraturas
Tratamento
O tratamento desta doença é lento e requer o uso de medicamentos, de auxilio psicológico e apoio familiar. "Porém, se a paciente não se encontrar em estágio crônico, a orientação pode resolver o quadro", explica o psiquiatra.