O déficit de atenção pode ser usado como desculpa para não se assumir responsabilidades e decisões da vida? Respostas dos nossos especialistas

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou Distúrbia do Déficit de Atenção (DDA) é uma condição controversa. Embora alguns sites - principalmente aqueles de instituições especializadas no tal "transtorno" - indiquem que não há dúvidas quanto a sua existência, o que vemos hoje é certa divisão no meio acadêmico entre profissionais que acreditam que tal "doença" existe e que deve ser tratada com o uso de medicação e aqueles que acreditam que pode haver momentos da vida em que a pessoa tem comportamentos de desatenção, inquietude e impulsividade, que caracterizam a condição.

A discussão é importante: ela permite que paremos para refletir e, talvez, encontrar um "meio termo feliz" nessa questão. Nem tudo o que dizem que é TDAH realmente é. Mas também nem tudo o que se diz que não é, não é. É bastante provável que estejamos vivendo um momento de sobrenotificação desse quadro, ou seja, um momento em que pessoas que apenas apresentam sintomas episódicos, são diagnosticadas como tendo o transtorno.

O principal no meio dessa história é que a pessoa que tem suspeita de TDAH procure profissionais de confiança - psicólogos e psiquiatras - para uma avaliação. Como todo o diagnóstico, ele pode servir para que a pessoa tenha um acompanhamento adequado ou apenas para que ela tenha a "etiqueta" daquilo que tem para sair por aí justificando seus comportamentos - que é o caso de sua pergunta. Um profissional poderá ajudá-la a refletir sobre isso e seguir o primeiro caminho, que é certamente o mais bacana.

Forte abraço!

Não assumir responsabilidades ou decisões, é um comportamento cujo a causa primária estaria na personalidade e não no TDAH, sendo que nem todo portador do transtorno apresentará este tipo de comportamento. Por outro lado, sabemos que as pessoas com TDAH apresentam alterações em algumas regiões cerebrais, que ocasionam as chamadas "disfunções executivas", as quais consistem em deficiências em habilidades fundamentais para o autogerenciamento da maneira como pensamos, sentimos e agimos. Considerando que processo de desenvolvimento psicológico do ser humano é por natureza complexo e sujeito a diversos tipos de problemas ao longo do percurso que vai da gestação até a idade adulta, podemos dizer que para os indivíduos com TDAH esse desafio é consideravelmente maior. Captar e perceber a realidade para poder estruturar-se de forma saudável como adulto exige a vivência de processos psicológicos sutis, que podem ser prejudicados pela captação e processamento insuficientes das informações, tendo como agravante os problemas no gerenciamento das próprias emoções. Diante de todas as dificuldades de crescer com TDAH, não é raro que se observe repercussões na estruturação da personalidade, que pode vir a apresentar baixa autoestima, grau acentuado de neuroticismo, e a manutenção de padrões disfuncionais de relacionamento. Sendo assim, o TDAH pode estar ligado de forma indireta ao desenvolvimentos de comportamentos ligados a vitimização, mas jamais poderá ser usado como desculpa, uma vez que estes comportamentos estão ligados a traços de personalidade que devem ser avidamente combatidos.