Endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Membro do Corpo Clínico do Hospital Si...
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O que é Diabetes insipidus?
O diabetes insipidus é uma doença que altera o controle da água no organismo, da qual os rins não conseguem reter adequadamente a água que é filtrada. Como consequência, o paciente passa a apresentar sede excessiva e um aumento considerável no volume de urina (poliúria), que ultrapassa facilmente os 3 litros por dia, podendo chegar a mais de 10 litros de urina.
Diabetes mellitus e insipidus: qual a diferença?
Apesar de ambas conterem nomes parecidos, o diabetes mellitus e o insipidus são duas doenças completamente diferentes. Enquanto no diabetes mellitus o paciente apresenta altos níveis de açúcar no sangue, seja por origem autoimune ou devido à resistência a insulina, o diabetes insipidus acontece devido a uma alteração no equilíbrio de líquidos do corpo, administrado pelo hormônio antidiurético (ADH), também chamado de vasopressina.
O nome insipidus vem do fato da urina ser bastante diluída e, por isso, estar “sem gosto”. No diabetes mellitus, o paciente perde muita água e açúcar pela urina (quando o diabetes está descompensado), podendo ficar “doce”.
"Para resumir, podemos dizer que no diabetes mellitus o paciente apresenta altos níveis de açúcar no sangue, seja por origem autoimune ou devido à resistência à insulina, enquanto o diabetes insipidus acontece devido a uma alteração no equilíbrio de líquidos do corpo, administrado pelo hormônio antidiurético (ADH), também chamado de vasopressina", explica o endocrinologista Renato Zilli.
Causas
As causas de diabetes insipidus variam de acordo com o tipo. Entenda a seguir:
Diabetes insipidus central
As principais causas de diabetes insipidus central são tumores que acometem a região hipotalâmica hipofisária, como, por exemplo:
- Germinomas
- Craniofaringioma
- Metástases de outros tumores fora do sistema nervoso (pulmão e mama)
O diabetes insipidus central também pode ser causado por doenças inflamatórias do sistema nervoso central, como sarcoidose, histiocitose e por doenças autoimunes como as hipofisites. O trauma do sistema nervoso central após acidentes também podem causar DI.
Outras causas menos comuns do diabetes insipidus central são:
- Infecções: toxoplasmose, meningite, encefalite
- Doenças autoimune: infundibulite, lúpus
- Toxinas: veneno de cobra, tetrodotoxina
- Alterações vasculares: Síndrome de Sheehan, encefalopatia hipóxica
- Doenças genéticas, como por exemplo: Síndrome de Wolfram, mutações no gene do ADH, displasia septo-ótica, etc
- Idiopática (causa desconhecida)
Diabetes insipidos nefrogênico
O diabetes insipidus nefrogênico pode ser causado principalmente por uso de medicamentos tóxicos aos rins, como lítio, anfotericina B, demeclociclina, dentre outros. Também pode ocorrer em crianças devido mutações genéticas que alteram o receptor do ADH ou proteínas relacionadas a sua função. Causas menos comuns de ADH estão listadas abaixo:
- Causas genéticas
- Causas metabólicas
- Obstrução crônica renal
- Doenças vasculares renais (anemia falciforme e isquemia renal)
- Doenças granulomatosas (sarcoidose)
- Neoplasia (sarcoma)
- Infiltração renal (amiloidose)
- Idiopática (causa desconhecida)
Diabetes insipidus gestacional
O diabetes insipidus gestacional é raro, mas pode acontecer a partir do terceiro trimestre da gestação. A sua causa é a produção de uma enzima pela placenta, que degrada o ADH. A condição se normaliza quatro ou seis semanas após o parto.
Tipos
O diabetes insipidus pode ser classificado em diferentes tipos, de acordo com a causa:
Diabetes insipidus central
O diabetes insipidus central tem origem no sistema nervoso central. O hipotálamo e a hipófise (glândulas localizadas na base do cérebro) são responsáveis pela produção do hormônio antidiurético. Ele age nos rins estimulando a reabsorção de água, impedindo que a substância se perca pela urina.
Quando ocorre alguma lesão nestas estruturas, comprometendo a produção e/ou liberação do ADH, há a queda das concentrações deste hormônio no sangue. Assim, os rins perdem a capacidade de reter a água filtrada, que escapa através da urina em grandes quantidades.
Diabetes insipidus nefrogênico
No caso do diabetes insipidus nefrogênico, o hipotálamo e a hipófise funcionam corretamente e produzem quantidades adequadas do ADH. No entanto, este hormônio não funciona bem devido a um problema originado nos próprios rins.
Diabetes insipidus gestacional
O diabetes insipidos gestacional é uma forma fisiológica de diabetes insipidus que ocorre na gravidez, devido a produção de uma enzima pela placenta, chamada vasopressinase. Essa enzima degrada o hormônio ADH, levando ao aumento da urina. Em geral é autolimitada, ou seja, a condição se normaliza ao término da gravidez.
Sintomas
Os sintomas do diabetes insipidus são comuns entre os diferentes tipos. Os principais sinais da doença são:
- Volume de urina muito alto (acima de três litros por dia)
- Sede intensa, com preferência por líquidos gelados
- Urina clara e diluída
- Vontade de urinar durante a noite (noctúria)
Diagnóstico
O diagnóstico do diabetes insipidus é feito através da análise do histórico clínico do paciente e por meio de exames de urina e de sangue, em que são avaliadas as concentrações de sódio e glicose, e através da confirmação do volume urinário, realizado através da medida de 24 horas.
Após esta etapa, pode ser necessário realizar o teste de restrição hídrica para definir a causa diabetes insipidus. Neste procedimento, geralmente feito em internação, o paciente é colocado em jejum de água e exames são feitos a cada duas horas, até que certos critérios laboratoriais ou de perda de peso sejam alcançados.
Neste momento, é aplicado uma dose do hormônio sintético desmopressina (semelhante ao ADH humano) e é observada a resposta no volume urinário e nos demais exames laboratoriais realizados posteriormente. Com este estudo, é possível definir o tipo de diabetes insipidus em uma parcela dos casos.
A dosagem do ADH pode auxiliar neste processo, mas este hormônio não é realizado na rotina pela grande maioria dos laboratórios. Em geral, são feitos exames de sangue e urina e pode ser necessário realizar um exame de ressonância magnética da hipófise e/ou exame de imagem das vias urinárias. Se causas especificas, como por exemplo, sarcoidose, estiverem sendo cogitadas, serão realizados exames direcionados.
Tratamento
O tratamento de diabetes insipidus é feito de acordo com a causa. No caso do diabetes insipidus central, o tratamento é feito com desmopressina, um medicamento que repõe ADH sintético via oral ou intra-nasal. A dose deve ser ajustada para manter o equilíbrio hídrico do corpo e a produção normal de urina.
No tratamento de diabetes insipidus nefrogênico, em que o problema não é a falta de ADH, é feita a redução da osmolaridade urinária (concentração de solutos na urina). Para isso, o paciente deve fazer uma dieta pobre em sal e em proteínas.
Alguns medicamentos que estimulam a produção de ADH, além de diuréticos tiazídicos. Porém, eles podem não aliviar os sintomas em pessoas com quadros graves de diabetes insipidus.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de diabetes insipidus são:
- Carbamazepina
- Clorpropamida
-
Clofibrato
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Diuréticos tiazídicos
Tem cura?
O diabetes insipidus não tem cura, mas os sintomas podem ser aliviados através do tratamento adequado.
Complicações possíveis
Com relação ao diabetes insipidus, isoladamente, a principal complicação é a desidratação. Nos pacientes com sensação de sede regular e com acesso normal a água, o maior inconveniente é ter de beber água constantemente e ir ao banheiro com muita frequência. O sono também pode ser severamente prejudicado pelas idas noturnas ao banheiro e pelo despertar para beber água.
A situação de maior risco para o diabetes insipidus é naqueles casos em que a pessoa perde a consciência e não pode beber água corretamente. É o caso de pacientes acidentados ou que não informem esta condição a equipe médica previamente a uma cirurgia. Nesse cenário, o paciente pode desidratar severamente, podendo ocorrer complicações sérias.