Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1989), mestrado em Medicina (Cirurgia Geral) pela Univ...
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O que é Endometriose?
A endometriose é uma doença na qual o tecido que reveste a parede interna do útero, chamada de endométrio, cresce fora da cavidade uterina. Essa formação de tecido ocorre, normalmente, na região pélvica, nos ovários, no intestino, no reto, na bexiga e na pélvis, causando cólicas menstruais intensas e dor durante a relação sexual.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2022, a estimativa é de que uma a cada 10 mulheres sofrem com endometriose no Brasil. Em 2021, mais de 26,4 mil atendimentos foram feitos no Sistema Único de Saúde (SUS) e oito mil internações foram registradas na rede pública, com relação à doença. No mundo, a estimativa é de que 180 milhões de mulheres tenham a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Normalmente, a endometriose é diagnosticada entre 25 e 35 anos de idade, porém a doença, provavelmente, começa já alguns meses após o início da primeira menstruação, podendo ser descoberta ainda na adolescência. Estima-se, internacionalmente, que o atraso no diagnóstico chegue a oito anos. Isso acontece porque o principal sintoma é a cólica menstrual intensa, que pode ser confundida com as dores comuns no período menstrual.
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O que é endometriose?
A endometriose é caracterizada pela presença de fragmentos do tecido endometrial, que reveste o útero e é chamado de endométrio, em outras partes do corpo. É esse tecido que permite que o óvulo se instale ali para ser fecundado pelo espermatozoide, sendo importante para o sistema reprodutivo.
Ao final do ciclo menstrual, o endométrio costuma ser expelido do corpo através da menstruação. Porém, quando há a endometriose, isso não acontece, gerando dores intensas e afetando a vida cotidiana da mulher.
Causas
Ainda não está claro o que causa a endometriose, especificamente. Porém, estudos já levantaram algumas hipóteses. São elas:
Menstruação retrógrada
Isso acontece quando o sangue da menstruação, que contém células do endométrio, sofre um refluxo para a cavidade pélvica por meio das trompas de falópio, canais que ligam o útero aos ovários. As células endométricas perdidas instalam-se nas paredes dos órgãos da região pélvica e começam a crescer.
Esse refluxo parece acontecer durante o período menstrual em praticamente todas as mulheres. Acredita-se que o sistema imunológico exerce papel fundamental na proteção contra a implantação e o crescimento das células endometriais.
Crescimento de células embrionárias
As células que revestem o abdômen e as cavidades pélvicas são originárias de células embrionárias comuns. No processo de diferenciação tecidual, sob determinados estímulos ainda desconhecidos, algumas células que revestem essas cavidades podem se converter em tecido endometrial, iniciando a doença.
Sistema imunológico deficiente
Deficiências no sistema imunológico também podem facilitar o surgimento da doença, tornando o corpo incapaz de reconhecer e destruir as células endometriais que crescem no lugar errado.
Quais as outras possíveis causas de endometriose?
Após alguma cirurgia, como histerectomia ou cesariana, por exemplo, as células do endométrio podem prender-se às incisões cirúrgicas. O sistema linfático pode, também, transportar células do endométrio para outras partes do corpo e dar origem a um quadro de endometriose em locais mais distantes, como o umbigo, por exemplo.
Saiba mais: Endometriose pode afetar órgãos fora do sistema reprodutivo
Tipos
Existem seis tipos de endometriose: profunda, superficial, intestinal, nos ovários, de parede e no pulmão. Entenda cada uma delas a seguir:
Endometriose profunda
A endometriose profunda ocorre quando as células do endométrio se infiltram na parede de outros órgãos, como a bexiga e o intestino, também podendo afetar regiões como o pulmão e o cérebro. A doença é considerada profunda quando o fragmento da doença passa a ter mais de cinco milímetros, estando fixado de uma maneira profunda naquela região.
Os sintomas no período menstrual tornam-se bem mais intensos, e a paciente, dependendo do local afetado e da extensão da doença, pode ter que se submeter a tratamento cirúrgico imediato. Entenda mais sobre a endometriose profunda.
Endometriose superficial
A endometriose superficial é aquela que normalmente atinge mais o peritônio, tecido que recobre internamente os órgãos da cavidade abdominal e pélvica, como a bexiga.
Endometriose intestinal
A endometriose intestinal é caracterizada pelo desenvolvimento do endométrio nas paredes do intestino, dificultando o funcionamento do órgão. Esse tipo da doença pode causar sintomas gastrointestinais, como dor abdominal intensa, dificuldade para evacuar, diarreia persistente e presença de sangue nas fezes.
Endometriose no ovário
A endometriose ovariana é aquela que acomete os ovários, sendo principalmente ocasionada pela formação de cistos com um conteúdo sanguinolento dentro da região.
Endometriose de parede
A endometriose de parede acomete a parede abdominal, notadamente em áreas submetidas previamente à cirurgia. O procedimento que mais leva ao problema é a cesariana, especialmente em casos de interrupção prematura. Outro local de endometriose de parede é na região do umbigo. Os nódulos de parede abdominal ficam mais dolorosos e aumentam no período menstrual.
Endometriose pulmonar
A endometriose pulmonar é uma forma bastante rara da doença. Ela ocorre quando o tecido endometrial se desenvolve na região pulmonar. A manifestação clínica desta doença é através do sangramento nas vias áreas no período menstrual, normalmente por meio da tosse.
Endometriose em outros órgãos
A endometriose é capaz de afetar até mesmo tecidos distantes, como o nervo ciático, o cérebro e o diafragma. No entanto, é importante destacar que a doença não se espalha como um câncer. Inclusive, é possível ter focos à distância sem ter endometriose na pelve.
Uma das explicações para o fenômeno é que, embora a grande maioria dos episódios seja causada pela regurgitação do sangue menstrual nas proximidades do útero, há situações em que os focos são transportados diretamente pelo sangue ou se tratam de restos embrionários (pequena parte de tecido uterino que ficou na região no momento da formação do embrião).
Sintomas
O principal sintoma da endometriose é a dor pélvica, quase sempre associada ao ciclo menstrual, podendo ser confundida com as cólicas menstruais. Porém, a dor da endometriose pode ser mais intensa do que o normal em algumas pessoas.
Outros sintomas de endometriose mais comuns são:
- Dismenorreia (dores no período menstrual)
- Dor no baixo abdômen ou cólicas que podem ocorrer por uma semana ou duas antes da menstruação de forma cíclica
- Dores nas relações sexuais com penetração, especialmente com profundidade
- Dores ao urinar e evacuar, especialmente no período menstrual
- Fadiga
- Diarreia, especialmente no período menstrual.
A intensidade da dor nem sempre está relacionada à extensão do problema. Algumas mulheres com doença muito extensa não têm dor alguma, enquanto outras com pequenos focos sentem dor a ponto de necessitarem ir a uma emergência.
Além disso, muitas vezes os sinais da endometriose podem ser confundidos com os de outras doenças, por isso é muito importante consultar um médico antes de dar início a qualquer tipo de tratamento.
Diagnóstico
O diagnóstico de endometriose pode ser feito pelo médico através da descrição dos sintomas, mas alguns exames podem auxiliar para a confirmação do quadro. Os mais comuns são:
- Exame pélvico com toque vaginal e retal: em que o médico investiga a região pélvica da paciente, procurando por anormalidades, como massas ou nódulos nos órgãos reprodutores, intestinais ou nas vias urinárias
- Ultrassom especializado: a análise das imagens permite ao médico averiguar se há presença de cistos nos órgãos da região pélvica. Este exame não permite ao especialista diagnosticar a paciente com endometriose, mas ajuda na identificação de endometriomas, que são cistos associados à endometriose. O ultrassom com preparo intestinal pode identificar focos profundos da doença
- Ressonância magnética: pode detectar, especialmente, a presença de cistos endometrióticos e a endometriose profunda. É um exame que não usa radiação e possibilita um mapeamento completo das lesões da pelve e do abdômen
- Laparoscopia: devido aos avanços dos exames de imagem, a laparoscopia é cada vez menos usada como método diagnóstico - seu papel atual é o de opção de tratamento quando já há suspeita. O cirurgião faz uma pequena abertura na região do abdômen e, com a ajuda de um laparoscópico, avalia a cavidade pélvica e abdominal à procura de pontos de endométrio ectópico ou endometriomas (cistos de endometriose). Uma vez encontradas lesões suspeitas, ele deve remover todas e enviá-las para análise laboratorial. O resultado do exame indicará se a paciente está com endometriose ou não.
Saiba mais: Entenda se é possível ter um diagnóstico precoce da endometriose
Fatores de risco
Uma mulher cuja mãe ou irmã tem endometriose apresenta seis vezes mais probabilidade de desenvolver endometriose do que as mulheres em geral. Outros possíveis fatores de risco:
- Começar a menstruar muito cedo
- Nunca ter tido filhos ou ter tido o primeiro bebê após os 30 anos de idade
- Ciclos menstruais curtos (inferiores a 27 dias), mas com menstruações de fluxos intensos e que duram mais de oito dias
- Anormalidades estruturais no útero.
Buscando ajuda médica
Ao sentir os primeiros sintomas da endometriose, procure um médico. Sentir dores acima do normal durante o período menstrual não é comum e a causa deve ser investigada o mais rápido possível. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar possíveis complicações.
Tratamento
Existem diversas opções de tratamento de endometriose e o tipo pode depender de alguns fatores, como idade do paciente, gravidade dos sintomas e se existe o desejo de ter filhos. As possibilidades mais comuns são:
- Medicamentos para controlar a dor e minimizar a progressão da doença
- Cirurgia para retirar as áreas afetadas pela endometriose
- Cirurgia radical: histerectomia com retirada dos ovários.
Remédio para endometriose
Em alguns casos, podem ser receitados medicamentos que impedem a produção de estrogênio pelos ovários, conhecidos como agonistas do GnRH, retardando o crescimento do tecido endometrial e reduzindo o sangramento e a dor. Além disso, também podem ser receitados medicamentos anti-inflamatórios não esteroides para aliviar a dor.
Outras opções são os anticoncepcionais orais combinados, que possuem estrogênio e progestina em sua composição. Eles devem ser utilizados de forma contínua, ou seja, sem pausas para que a menstruação ocorra. Este tipo de terapia é recomendada para mulheres que não desejam engravidar e alivia a maioria dos sintomas da endometriose, mas não elimina os focos da doença.
Leia mais: Saiba o que é e como tratar a endometriose
Cirurgia para endometriose
Outra opção de tratamento é a cirurgia para endometriose, conhecida como laparoscopia. Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, mas, ao mesmo tempo, resolutivo. Atualmente, é a escolha mais comum quando há necessidade de intervenção cirúrgica para o tratamento.
As técnicas permitem remover todos os focos, drenar os cistos endometriais e depois retirar a capa que os reveste. Pode-se ainda fazer a ressecção de porções intestinais ou de bexiga quando há lesões envolvendo esses órgãos. Em alguns casos, a histerectomia (retirada do útero, trompas e dos ovários) também pode ser realizada. A retirada dos órgãos pélvicos femininos fica restrita aos casos que não responderam bem aos tratamentos anteriores e a mulher já tem filhos.
Tem cura?
A endometriose não tem cura. No entanto, o tratamento pode aliviar os sintomas de modo parcial ou completo em muitas pessoas por vários anos. A histerectomia total, com ressecção total dos focos representa a melhor chance de cura definitiva da endometriose. Talvez seja necessário fazer terapia hormonal se ambos os ovários forem removidos. Em alguns casos, a doença pode voltar, mesmo após a histerectomia, mas é muito raro.
A endometriose pode causar infertilidade, mas não em todas as pacientes, principalmente se a doença for leve. A cirurgia laparoscópica pode ajudar a aumentar a fertilidade. A chance de sucesso depende da gravidade da endometriose.
Prevenção
Não há formas de prevenir a endometriose, mas recomenda-se manter hábitos saudáveis, como uma dieta equilibrada, sono regular, praticar atividades físicas e evitar situações estressantes. Ter filhos mais cedo e amamentar pelo maior tempo possível também são fatores protetores. Veja mais detalhes sobre a prevenção da endometriose.
Convivendo (Prognóstico)
Em casa, algumas medidas podem ser tomadas para aliviar os sintomas da endometriose, tais como:
- Tome banhos quentes e utilize bolsas de água quente. Ambos ajudam a relaxar os músculos da região pélvica, reduzindo a dor no local
- Alguns analgésicos também podem ser úteis para aliviar as dores causadas pela doença
- Exercite-se frequentemente. Alguns estudos mostram que a prática de atividades físicas ajuda a amenizar os sintomas.
Complicações possíveis
Quem tem endometriose pode engravidar?
Entre 25% a 50% das mulheres com endometriose apresentam alguma dificuldade para engravidar segundo o artigo “Obstetrics, Gynaecology & Reproductive Medicine”. Atualmente, os métodos de concepção para mulheres que desejam engravidar e que são sabidamente eficazes são a cirurgia de remoção completa dos focos (preferencial nos casos mais graves e quando a mulher tem queixa álgica mais intensa) e a fertilização in vitro (preferencial nas pacientes com mais idade e nos casos não tão graves, especialmente quando não existe queixa de dor).
Saiba mais: A endometriose pode levar à morte? Especialista explica
O uso de hormônios antes da fertilização in vitro pode ser útil para desinflamar os focos de endometriose e tentar minimizar o seu crescimento. Ainda não existe, porém, nenhum tratamento medicamentoso ou mesmo algum estímulo hormonal para que a mulher com endometriose possa engravidar.
O que mais a endometriose pode causar?
- Dor pélvica crônica ou prolongada que interfere na vida social ou no trabalho
- Cistos grandes na pélvis (chamados de endometriomas) que podem sofrer ruptura e necessitar de cirurgia de emergência
- Implantes de endometriose podem causar obstruções no trato gastrointestinal ou urinário.
Referências
(1) Jurandir Piassi Passos, ginecologista do Laboratório Atalaia de Goiânia - CRM 60633
(2) Sidney Tomyo Nishida Arazawa, ginecologista, CRM 120351/SP
(3) Flávia Fairbanks, ginecologista - CRM 93879/SP.
(4) Ministério da Saúde
(5) Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(6) Mayo Clinic