Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003), residência médica pela Universidade de Sã...
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O que é Mucormicose?
A mucormicose, também conhecida como fungo negro, é uma doeça infecciosa fúngica rara provocada por vários fungos da classe mucormicetos - antigamente, chamados de zigomicetos. Geralmente, estes fungos são encontrados em abundância no solo ou em matéria orgânica em decomposição. A infecção ocorre após a inalação dos esporos liberados pelos fungos.
“Nós inalamos esses esporos, que acabam virando hifas no nosso organismo. Essas hifas invadem os nossos vasos sanguíneos e acabam causando trombose e, depois, necrose do tecido. Depois, quando invade os vasos sanguíneos, a doença pode acabar disseminando para outros órgãos também”, explica Caroline Thomaz, infectologista da Universidade Santo Amaro (Unisa).
Tipos
A partir da disseminação da mucormicose pelos vasos sanguíneos, a doença pode chegar a outras partes do corpo. De acordo com a área afetada, a infecção pode ser dividida em alguns tipos, como:
- Mucormicose rinocerebral: é a manifestação mais comum da doença, ela atinge seios nasais, olhos, nariz e boca;
- Mucormicose pulmonar: segunda infecção mais comum, esse tipo de mucormicose atinge os pulmões;
- Mucormicose cutânea: nestes casos, a infecção chega a algumas partes da pele, podendo atingir músculos;
- Mucormicose gastrointestinal: é uma das formas de infecção mais raras, na qual o trato gastrointestinal é atingido;
- Mucormicose disseminada: outra manifestação muito rara da doença, que pode atingir outros órgãos do corpo, como o coração.
Sintomas
Os sintomas da mucormicose, ou fungo negro, aparecem de acordo com a área do corpo infectada pelos fungos. Segundo Mirian Dal Ben, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, entre os principais sintomas que podem surgir estão febre, secreção nasal, pele vermelha e quente.
Além disso, conforme a doença progride e é disseminada pelo corpo, outros sintomas podem aparecer. “A pessoa pode apresentar dor facial, dor no seio nasal, dor nos olhos; ficar com a visão turva e, dependendo da gravidade da mucormicose, o olho pode sair da cavidade ocular, que a gente chama de proptose”, detalha Caroline.
Diagnóstico
Geralmente, o diagnóstico da doença pode ser feito por um infectologista ou clínico geral. “A mucormicose é diagnosticada através do quadro clínico sugestivo, tomografia, biópsia e culturas da região afetada”, afirma Mirian.
Porém, de acordo com Caroline, o diagnóstico do fungo negro pode não ser tão simples. “Primeiro, você tem que pensar que o paciente é uma pessoa com fatores de risco para doença e, então, conforme ela apresenta esses sintomas, nós pedimos alguns exames. O ideal é que a gente sempre faça a biópsia da lesão”, explica. “Então, junto com um exame de imagem e com os sintomas clínicos, a gente fecha o diagnóstico”.
Fatores de risco
Os fatores que aumentam o risco de adquirir a mucormicose estão relacionados principalmente à imunodepressão, segundo Caroline.
“Para nós combatermos esses fungos, precisamos ter algumas células de defesa específicas, bons neutrófilos, bons macrófagos. E quando nós temos algo que influencia a quantidade dessas células de defesa - por exemplo, quimioterapia - ou que altera a qualidade das células - por exemplo, o uso corticoide -, aí estamos predispostos a contrair a doença”, explica a infectologista.
Assim, pacientes com diabetes, câncer, que utilizam corticoides por um longo período ou apresentam uma sobrecarga de ferro podem sofrer com a baixa imunidade, o que aumenta o risco de adquirir a mucormicose.
Tratamento
Inicialmente, o tratamento é realizado através de antifúngicos, como anfotericina, e depois é realizado um procedimento cirúrgico para a retirar a área afetada que sofreu necrose. Muitas vezes, por ser uma doença de progressão rápida, um diagnóstico precoce pode melhorar o desfecho do quadro, segundo Caroline.
A infectologista também explica que é importante que o paciente seja acompanhado durante o tratamento, pois em alguns casos nem todo o material consegue ser retirado, por ser uma doença que atinge partes sensíveis do corpo, como a face. “Tem que ficar de olho porque pode voltar ou tem aqueles que nem melhoram, justamente porque é uma doença difícil, de difícil diagnóstico, de difícil tratamento”, afirma.
Convivendo (Prognóstico)
O prognóstico da mucormicose e suas sequelas dependem muito do quadro apresentado pelo paciente, da velocidade do diagnóstico e da resposta do paciente ao tratamento. Na maioria dos casos, aqueles que sobrevivem à infecção podem acabar convivendo com sequelas.
“Tem pacientes que podem ficar cegos, podem ter insuficiência renal relacionada ao antifúngico, podem ter um AVC, abscesso cerebral, hemorragia intracraniana… Então, tem várias complicações”, relata Caroline.
Fungo negro e COVID-19
Entre junho e agosto de 2021, a Secretaria de Saúde do Mato Grosso do Sul recebeu três notificações de possíveis casos de mucormicose em pacientes com COVID-19. Um dos pacientes, de 71 anos, morreu e teve o diagnóstico confirmado quase dois meses depois. Ele tinha diabetes e hipertensão.
Até o momento, a principal teoria que relaciona a mucormicose com a COVID-19 é o uso de altas doses de corticoides em pacientes infectados pelo vírus, o que pode causar a imunossupressão. “Tem essa alteração do sistema imunológico e a mucormicose está relacionada a essa depressão de neutrófilos e macrófagos, e pode ser por isso que esteja associada à COVID-19. Pode ser, mas isso ainda é uma teoria”, ressalta Caroline.
Referências
Caroline Thomaz - infectologista da Universidade Santo Amaro (Unisa)
Mirian Dal Ben - infectologista do Hospital Sírio-Libanês