Graduada em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba em 1980. Especialista em Pediatria pelo Conselho...
iPouco após o bebê nascer, entre o 5º e 7º dias de vida do pequeno, ele deverá ser levado ao pediatra para sua primeira consulta. Nela, cuidamos da mãe, em recuperação do parto, e do bebê, tendo sempre o apoio do pai. Orientamos as dúvidas e ansiedades que neste momento são muitas.
A avaliação do bebê leva em conta o peso, mas também a estatura e o perímetro cefálico (PC). Por vezes existe aumento de um ou do outro, mas não obrigatoriamente das três medidas. Essa avaliação envolve também a vitalidade, os reflexos, a sucção, a interação com meio ambiente e as eliminações.
Falar de peso somente como decisivo para introdução de fórmula infantil (aquele "leite" em pó usado para complementar a alimentação do bebê) configura uma conduta simplista, muito mais matemática do que pediátrica.
Saiba mais: Por que o bebê não está ganhando peso?
Existe uma perda de peso do bebê fisiológica, que costuma ser recuperada no 10º dia de vida, quando se espera que a criança tenha o peso de nascimento. No entanto essa recuperação depende de vários fatores: tipo de parto (normal ou cesárea), nota de Apgar ao nascer, presença de boa sucção, avaliação de mamas, acompanhamento pelo pediatra de uma mamada, exame da cavidade oral do bebê para observar frênulo lingual, peso de nascimento e idade gestacional, além de eventual processo infeccioso (infecção urinária).
Por isso, acreditar que, ou o bebê recupera o peso de nascimento no 10º dia de vida, ou deve tomar fórmula pode levar ao prejuízo da complementação das mamadas e ao desmame precoce.
A introdução de fórmula repentinamente poderá também desencadear processos como asma na infância. Isso tem mais chance de acontecer se há herança familiar, ou seja, se irmãos ou pais tiveram asma.
Como fazer o bebê ganhar peso sem dar fórmula em pó?
Desta forma, a introdução da fórmula infantil deverá ser cautelosa e como necessidade para o bom crescimento do bebê, mas só após serem exploradas todas as possibilidades. Antes de o pediatra receitar fórmula em pó, ele pode indicar:
- translactação
- uso de copinho
- uso de banco de leite
Há sinais que mostram que um bebê recém-nascido está equilibrado em suas funções fisiológicas: boa atividade, choro forte, boa sucção e fraldas molhadas em todas as mamadas são alguns deles.
E se, mesmo assim, ao pesar o bebê constatamos que ele não recuperou seu peso de nascimento, é importante aguardar, mas pesar a cada dois dias ou diariamente. Por vezes, o bebê demora mais alguns dias para retornar ao peso esperado.
Existe peso ideal do bebê?
Existem diferentes gráficos utilizados para averiguar e acompanhar as medidas do bebê. Com certeza o pediatra de seu filho já mostrou para você, para se ter avaliação geral de como está o crescimento. A anotação de peso estatura e perímetro cefálico auxilia o bom seguimento dos bebês se houver troca de pediatras.
Atualmente, se utiliza em consultas o gráfico elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com a média de crescimento de cinco países do mundo. Existem também gráficos na caderneta de vacina das crianças, fornecido pelo Ministério da Saúde em postos de saúde.
As tabelas e gráficos têm muita importância quando falamos de avaliação de uma população, dados estatísticos, mas na avaliação de nossos bebês devemos ter um olhar mais individual.
A questão a ser considerada é: para que queremos um bebê gordinho? Existe um ganho de peso mínimo que ele deverá atingir, mas nem todos os bebês são gordinhos.
Na vida real, existem dificuldades. Nem sempre a adaptação é tranquila, tanto da parte da família com o novo membro da casa (que chora muito!) e do bebê que deverá, rapidamente, adaptar-se ao meio externo (respirar, sugar, digerir, evacuar).
Cabe ao pediatra empoderar e tranquilizar essa família. O trio papai, mamãe e bebê precisa de acolhimento e carinho.
Consequências de oferecer fórmula precipitadamente
A última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (2006) traça um perfil da população feminina em idade fértil e das crianças menores de cinco anos. Ela chegou à conclusão: "Apesar dos avanços observados, a maioria dos lactentes brasileiros ainda está sujeita a práticas inadequadas de aleitamento materno e à baixa qualidade da alimentação complementar ou substituta do leite materno. Portanto, é fundamental a revitalização de políticas de saúde que contemplem a melhoria dessas práticas".
A nível nacional, a prática de introdução precoce de fórmulas tem levado a um aumento da de doenças atópicas, como a asma e a obesidade futura.
Cerca de 40% de nossas crianças entre 8 e 12 anos têm obesidade ou sobrepeso, com todas as suas consequências. Além disso pesquisas demonstram que a proteção conferida pelo leite materno podem durar até a idade adulta protegendo contra hipertensão, diabetes e obesidade.
Amamentar é um processo de suma importância para mãe e bebê. É natural mas não é fácil, e depende da ajuda de todos e da firme e carinhosa orientação do pediatra.