Psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, pós-graduada em Psicanálise e Saúde Mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa d...
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Relacionamentos amorosos podem ser complicados, pois são diversos os fatores que envolvem as relações afetivas. No contexto de pessoas com narcisismo patológico, o padrão comportamental pode gerar ainda mais conflitos e, consequentemente, levar a um relacionamento disfuncional e abusivo.
Uma pessoa narcisista apresenta traços típicos de egocentrismo, grandiosidade e egoísmo, acreditando ser superior a outras e desejando ser sempre o centro de qualquer relação — especialmente nos relacionamentos românticos. Segundo Lala Fonseca, psicóloga e especialista em burnout e ansiedade, o amor narcisista é condicionado e proporcional ao ganho.
Isso significa que, se a outra pessoa ceder aos caprichos e desejos do narcisista, ele poderá retribuir de alguma forma. Por esse motivo, Lala aponta que o envolvimento facilmente se torna um relacionamento abusivo. “Você cede para não sofrer com a forma racional, egocêntrica e até superior de como eles lidam com os conflitos”, explica a especialista.
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Pessoas narcisistas são capazes de se apaixonar?
A resposta é sim, mas é importante destacar que as características dessa paixão são diferentes das convencionais, uma vez que a forma como elas se enxergam e enxergam o outro é diferente. “Ela pode se apaixonar, mas não deixará de se colocar em primeiro lugar, nem que para isso precise ser hostil em algum momento”, acrescenta Mônica Machado, psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C.
Isso porque um dos pilares de um relacionamento saudável e duradouro é a empatia, sentimento difícil aos narcisistas. Sendo incapazes de se identificarem com o sofrimento da outra pessoa de forma genuína, é comum que ignorem a dor do parceiro (a) e se dediquem somente a atender às suas próprias necessidades e carências.
Outras características também marcam esse tipo de relacionamento, como a incapacidade de pedir desculpas, o distanciamento emocional e a autoestima bastante frágil. Segundo Mônica, muitas relações de uma pessoa com narcisismo são disfuncionais e/ou abusivas. “Os comportamentos do narcisista sempre causarão algum tipo de prejuízo emocional e isso se agrava se o parceiro já estiver vulnerável psicologicamente”, aponta.
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Ressalta-se que, na maioria dos casos, uma pessoa com transtorno de personalidade narcisista não têm consciência de que seu comportamento é problemático. Isso porque, ao se colocar no centro, ela acredita que as outras pessoas sempre estarão erradas em se comportarem de determinada forma.
Como é o relacionamento de uma pessoa com narcisismo?
De acordo com Mônica, uma pessoa narcisista sempre se coloca como prioridade em um relacionamento. É comum que ela crie situações para que a outra pessoa acredite que está errada. “No transtorno narcisista existe um alto nível de manipulação, justamente para que ele esteja nessa posição de superior”, diz a psicóloga.
Além disso, a pessoa que está na relação será frequentemente inferiorizada e seus sentimentos invalidados para enaltecer o narcisista. Isso pode desencadear problemas de autoestima, instabilidade emocional e sensação de solidão. Em alguns casos, o comportamento abusivo pode fazer com que a outra pessoa seja isolada socialmente, pois o parceiro narcisista sempre exigirá total atenção.
Destaca-se que, quando uma pessoa narcisista se relaciona com indivíduos que possuem a mente estruturada, o envolvimento tende a não durar. Ao notar os sinais comportamentais, é comum que o outro corte laços. Se não for o caso, o relacionamento pode continuar e evoluir para um caso de dependência emocional.
Homens e mulheres podem apresentar comportamentos diferentes?
O comportamento de homens e mulheres também pode ser diferente. Mônica aponta que cada gênero irá usar o artifício socialmente mais aceito. Por exemplo, é comum que mulheres narcisistas se coloquem em posição de vítima e, durante uma discussão, comecem a chorar para manipular.
Por outro lado, homens narcisistas podem usar força física para conterem a parceira e manipulação psicológica mais agressiva para atingirem o mesmo objetivo, além possuírem uma tendência maior em exercerem autoridade, reivindicarem privilégios e terem maior desejo de poder e de segurança. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Buffalo (EUA), homens também têm maior tendência a serem narcisistas.
“Se uma mulher se mostra autoritária e agressiva, ela sofre mais pressão do que o sexo masculino, o que as faz controlar mais seu comportamento narcisista. Além disso, os homens sentem-se mais merecedores do sucesso do que o sexo feminino. As mulheres acreditam que seu sucesso é em decorrência da sorte e não de seu árduo trabalho”, explica Lala.
Terapia é necessária após relacionamentos abusivos
Uma relação abusiva é capaz de provocar diversos traumas à vítima, afetando os lados emocional, físico, cultural e sexual. Segundo Mônica, a manipulação, a humilhação e a violência psicológica a longo prazo podem atingir diretamente a segurança da pessoa em se relacionar com outros indivíduos — e não somente em relacionamentos românticos, mas em amizades e no ambiente de trabalho.
Por esse motivo, a psicoterapia é indispensável para tratar os danos causados pela situação. “A terapia ajudará a vítima a se entender e a se priorizar, tomando consciência de que aquela pessoa faz mal a ela”, diz Mônica.
No caso de pessoas narcisistas, não existe tratamento específico ou medicamentoso para tratar o transtorno de personalidade. O melhor caminho a seguir é a psicoterapia. Todavia, buscar ajuda psicológica implica reconhecer o próprio transtorno, o que é algo muito difícil de acontecer.
“A terapia pode ajudá-las a tomarem consciência de que seus comportamentos prejudicam o próximo e, em vez de se colocarem como centro e serem admiradas, as pessoas irão se afastar cada vez mais, pois esses sujeitos causam sofrimento em suas relações. Mas, com um acompanhamento de um psicólogo, essas características podem ser amenizadas”, finaliza Mônica.
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