Alergista e imunologista, diretor da Clínica Croce. Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Fundação Universi...
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O que é Asma grave?
A asma grave, ou asma grau 4, é a forma mais agressiva da doença inflamatória crônica das vias aéreas. Para o paciente receber essa classificação no diagnóstico de asma, os sintomas devem ser severos, de forma a interferirem na rotina e no estilo de vida, mesmo com o uso de medicamentos. É o caso da respiração curta e acelerada, sibilos, falta de ar, tosse, dor no peito, sensação de sufoco e falta de ar.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, cerca de 10% a 15% dos pacientes com asma grave não conseguem controlar a doença com medicamentos convencionais, que são mais eficazes aqueles que apresentam os tipos leve e moderado. No Brasil, os asmáticos graves chegam a procurar 15 vezes mais hospitais do que os outros pacientes, e são hospitalizados 20 vezes mais.
O que é asma?
A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas. Durante a crise de asma, os brônquios se inflamam e reduzem a passagem de ar. A principal causa é a exposição a agentes irritantes, como pó, poeira, mofo, perfumes e odores fortes. Na asma grave, os sintomas persistem mesmo após o uso de altas doses de medicações.
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Causas
Não se sabe exatamente as causas da asma grave, uma vez que cada pessoa apresenta uma sensibilidade a gatilhos diferentes. Dessa forma, é importante entender o que causa os ataques de asma e tentar reduzir a exposição a esses agentes ou buscar tratamentos mais adequados. Aqui estão os gatilhos mais comuns da asma:
- Substâncias e agentes alérgenos: a exposição a substâncias como ácaros e poeira, poluição, pólen, mofo, pelos de animais e fumaça de cigarro, além de tinta, desinfetantes e produtos de limpeza
- Alimentação: alergias alimentares podem causar crises de asma. Os alimentos mais relacionados com asma alérgica são ovos, leite de vaca, amendoim, soja, trigo, peixe e frutos do mar, saladas e frutas frescas
- Asma induzida por exercício: o estreitamento das vias aéreas tem um pico de cinco a vinte minutos após o início do exercício, dificultando a retomada de fôlego
- Asma ocupacional: comum em pessoas que trabalham em usinas ou são expostas a agentes químicos, tinturas e agrotóxicos
- Asma noturna: crises que ocorrem durante o sono, que podem ser desencadeadas pelo ritmo circadiano. É comum em casos de refluxo gastroesofágico e apneia do sono
- Mudanças de temperatura: a mudança brusca de temperatura pode ser agressiva para pessoas com vias aéreas mais sensíveis
- Medicamentos: anti-inflamatórios não hormonais, como o ácido acetilsalicílico, o diclofenaco e o ibuprofeno, podem desencadear crises de asma
- Problemas de saúde diversos: doenças como apneia do sono, tumores pulmonares, embolia pulmonar, anomalias nas cordas vocais e alterações na deglutição podem causar asma
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Sintomas
Sintomas de asma grave
Na asma grave, os sintomas persistem mesmo após o início do tratamento. Além disso, os episódios de crise podem ser mais graves em determinados períodos, podendo durar dias e se tornarem perigosos se o fluxo de ar estiver muito restrito. Os principais sintomas de asma grave são:
- Tosse com ou sem muco
- Respiração acelerada e curta, com pele repuxada entre as costelas (retrações intercostais)
- Dificuldade de respirar que piora com o exercício físico
- Respiração ruidosa (sibilos, produção de sons diversos ao respirar)
- Dor no peito
- Aperto no tórax
Além disso, um sintoma muito presente nas crises de asma grave é a respiração ofegante, que: vem em episódios intercalados sem sintomas, piora à noite ou no início da manhã, piora quando se inspira ar frio ou durante o exercício, piora com a azia e melhora a partir do uso de medicamentos broncodilatadores.
Alguns sinais indicam situações de emergência, como:
- Lábios e rosto de cor azulada
- Nível diminuído de agilidade, como sonolência grave ou confusão, durante um ataque de asma
- Extrema dificuldade de respirar
- Pulsação rápida
- Ansiedade grave devido à deficiência respiratória
- Sudorese.
Diagnóstico
O principal para o diagnóstico de asma grave é a história do paciente e os exames. É a partir dessa análise que o médico determina o grau de asma, classificando-a em asma leve, moderada ou grave. Como já vimos, a asma grave é aquela cujos sintomas persistem mesmo com o tratamento medicamentoso adequado.
Entre os exames que ajudam a confirmar o diagnóstico de asma estão:
- Teste de função pulmonar: mede a função dos pulmões durante uma crise e após o uso de broncodilatador. Caso a função pulmonar esteja alterada no primeiro resultado e estabilizada no segundo, o diagnóstico de asma é confirmado
- Espirometria: é um teste que avalia o estreitamento dos brônquios e está incluso no exame de função pulmonar. Ele verifica a quantidade de ar que o paciente pode exalar depois de uma respiração profunda e quão rápido a pessoa pode colocar o ar para fora
Exames adicionais
Outros testes para diagnosticar a asma grave incluem:
- Teste de óxido nítrico: embora pouco usado, esse teste mede a quantidade do gás óxido nítrico que o paciente tem em sua respiração. Quando as vias aéreas estão inflamadas um sinal de asma você pode ter níveis maiores de óxido nítrico do que pessoas saudáveis
- Exames de imagem: radiografia de tórax e tomografia computadorizada (TC) dos pulmões e cavidades do nariz podem identificar quaisquer anormalidades estruturais ou doenças que estejam causando ou agravando problemas respiratórios
- Gasometria arterial: a gasometria arterial mede o pH e os níveis de oxigênio e gás carbônico no sangue de uma artéria. Esse exame é utilizado para verificar se os pulmões são capazes de mover o oxigênio dos alvéolos para o sangue e remover o dióxido de carbono do sangue.
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Fatores de risco
Os fatores de risco para asma grave são os mesmos da asma e incluem:
- Histórico familiar: pessoas com casos de alergia e asma na família têm predisposição genética para desenvolver asma
- Histórico de alergias: pessoas com alergias têm maior predisposição a ter outros tipos de reações alérgicas, incluindo a asma
- Obesidade: pessoas com obesidade têm risco maior de asma e asma grave, pois a condição desencadeia uma série de processos inflamatórios, incluindo a asma
- Baixo peso ao nascer e hábitos da gravidez: o bebê prematuro tem mais risco de ter quadros inflamatórios no pulmão, assim como bebês filhos de mães fumantes que apresentam menor peso ao nascer. Além disso, alergias, insônia, ansiedade e depressão durante a gravidez podem influenciar no aparecimento de asma
- Refluxo gastroesofágico: nessa doença, o conteúdo do estômago vaza em direção contrária para o esôfago, causando azia e outros sintomas gastrointestinais. Se for aspirado, o refluxo pode parar dentro dos pulmões, favorecendo quadros de pneumonia, bronquite e asma
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Na consulta médica
Ataques graves de asma podem ser fatais. Ao perceber os sinais e sintomas, converse com o médico, pois o tratamento precoce da asma pode evitar uma lesão pulmonar e ajudar a manter o quadro estável, evitando ataques graves. As especialidades médicas que podem diagnosticar e tratar asma e asma grave são:
- Alergista
- Pneumologista
- Clínico geral
Tratamento
Tratamento para asma grave
Prevenção e controle são a chave para impedir que os ataques de asma comecem. Veja as principais linhas de tratamento para asma grave a seguir:
Remédios para asma
Os remédios para asma mais adequados para o paciente dependem de uma série de fatores, incluindo idade, sintomas, gatilhos de asma e o que parece funcionar melhor para manter a doença sob controle.
Os medicamentos preventivos de controle em longo prazo reduzem a inflamação nas vias aéreas, impedindo que os sintomas se iniciem. Os medicamentos contínuos, geralmente tomados diariamente, são a base do tratamento da asma.
Broncodilatadores
Se o paciente usa o broncodilatador várias vezes ao dia, é um sinal de que a sua asma é grave ou está descontrolada e precisa de outras medicações. O maior risco de uma pessoa ter várias crises e usar apenas o broncodilatador é mascarar uma crise de asma grave. Isso pode fazer com que a pessoa subestime a intensidade do quadro, ignorando sua gravidade e vindo a sofrer consequências alarmantes, como uma asfixia, pois o broncodilatador somente pode não dar conta da crise.
Pessoas que usam ou usaram o broncodilatador mais do que três ou quatro vezes em um único dia devem procurar um pronto socorro ou ligar para seu médico, a fim de buscarem formas de tratamento da doença como um todo, não apenas da crise. É importante ressaltar que os broncodilatadores servem para aliviar uma crise de asma, mas não tratam a doença.
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Essas medicações têm início de ação rápido, gerando um alívio imediato do paciente. Há broncodilatadores de curta duração (de quatro a seis horas de ação) e de longa duração (de 12 a 24 horas de ação), mas nenhum desses é um tratamento preventivo, devendo ser associado aos medicamentos.
Os broncodilatadores são usados conforme necessário para alívio rápido dos sintomas durante um ataque de asma. Se você tem asma associada ao exercício, pode ser que o médico indique usar o broncodilatador logo antes de uma série. Os broncodilatadores são ministrados com um inalador portátil ou um nebulizador para que possam ser inalados por meio de uma máscara ou um bocal.
Outros medicamentos
Os corticosteroides também podem ser ministrados em versão injetável, sendo que a frequência será menor - por ser indicado para casos mais graves ou conforme a indicação médica. Se a asma é desencadeada ou agravada por agentes alérgenos, alguns medicamentos para alergias (anti-histamínicos) podem ser indicados, geralmente ministrados por spray oral e nasal.
Há também a termoplastia brônquica, usada para asma severa que não melhora com corticosteroides inalados ou outros medicamentos para asma. A termoplastia brônquica aquece o interior das vias aéreas nos pulmões com ajuda de um eletrodo, reduzindo o músculo liso no interior das vias aéreas. Isso limita a capacidade das vias aéreas de se contraírem, tornando a respiração mais fácil e possivelmente reduzindo os ataques de asma.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de asma grave são:
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Esclareça dúvidas sobre medicamentos que tratam asma
Tem cura?
Asma grave não tem cura, embora os sintomas às vezes melhorem ao longo do tempo. Com autogerenciamento e tratamento apropriados, a maioria das pessoas com asma pode levar uma vida normal.
A asma grave pode ser fatal. Por isso, é de extrema importância que o paciente busque ajuda médica caso apresente extrema dificuldade em respirar, lábios e extremidades azuladas, além de batimentos cardíacos acelerados e sudorese.
Prevenção
A asma em si não pode ser prevenida, uma vez que é decorrente de uma inflamação dos brônquios sem causa aparente. Entretanto, é possível controlar as crises e ter uma qualidade de vida melhor. É o que vamos ver a seguir.
Convivendo (Prognóstico)
Os objetivos prioritários do tratamento da asma grave são controlar os sintomas e evitar internações. Por isso, a disciplina do paciente é fundamental ao seguir o tratamento diário, o que ajudará a prevenir complicações futuras.
Tratar uma asma grave é completamente diferente de tratar uma crise grave de asma. O não controle da doença levará o paciente a inúmeras internações, menos qualidade de vida e sintomas ainda mais severos. Os cuidados que são essenciais durante o tratamento da asma grave incluem:
- Identificar e evitar gatilhos: os testes para alergias respiratórios são feitos para detectar qual é o agente causador da asma. Entram nessa lista ácaros, fungos, mofo, pelos de animais, entre outros alérgenos. Com o teste, é possível evitar a exposição ao agente, prevenindo crises
- Não tratar apenas a crise: a asma é uma doença crônica, que existe tratamento contínuo, como o uso de corticoide inalatório diariamente, em doses prescritas pelo médico
- Garantir as doses de vitamina D: a carência de vitamina D está relacionada a uma série de doenças do sistema imunológico, incluindo a asma
- Evitar cheiros fortes: velas, sprays e aromatizadores são alguns produtos que exalam essências fortes e que podem ser perigosas para quem tem asma, pois irritam as vias aéreas e podem desencadear crises de asma
- Praticar atividade física: a prática de exercícios físicos é indicada para quem tem asma, desde que a doença esteja controlada com o tratamento. O uso de broncodilatadores antes da atividade física, com prescrição médica, costuma controlar bem os sintomas durante o exercício
- Apostar na higiene: mofo, pelos de animais, insetos, ácaros e poeira devem ser eliminados, mantendo a casa limpa e as roupas de cama sempre lavadas e secadas ao sol
- Investir na vacina da gripe: os vírus causadores de infecções respiratórias, como a gripe, também inflamam as vias aéreas e podem causar crises de asma. A vacina pode ajudar a controlar a doença
- Evitar fumar: o cigarro pode ser ainda mais nocivo para a pessoa com asma, incluindo o fumo passivo (principalmente entre as crianças). Isso porque o fumo favorece a evolução de alergias respiratórias e asma
- Agasalhar-se: nos dias de frio, é essencial sair de casa sempre bem agasalhado, com um cachecol ou lenço cobrindo o pescoço e o nariz para que o ar gelado não entre em contato direto com as vias respiratórias
- Cuidar do pet: se o contato com animais não faz bem ao paciente, é aconselhável não tê-los em casa. Caso não seja possível, é interessante, ao menos, evitar que ele durma no mesmo quarto
- Controlar doenças relacionadas: alergias e a doença do refluxo gastroesofágico podem provocar ataques de asma. Se esse for o caso, é importante tratar esses problemas antes de tratar a asma
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Complicações possíveis
As complicações da asma grave incluem:
- Capacidade reduzida de se exercitar
- Tosse persistente
- Dificuldade para respirar que requer ajuda na respiração (ventilação)
- Hospitalização e internação por ataques severos de asma
- Efeitos colaterais de medicações usadas para controlar a asma
- Óbito
Referências
Clóvis Galvão, alergista e Presidente da Associação Brasileira dos Asmáticos - CRM 75503
Roberto Rodrigues Junior, pneumologista do Laboratório Exame, em Brasília - CRM 133172
Marcia Pizzichini, pneumologista da comissão de asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia - CRM 3025
Élcio Vianna, pneumologista da Comissão de Asma da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia - CRM 57520
Rogério de Souza, pneumologista assessor da área de Pneumologia do Fleury Medicina e Saúde - CRM 82330
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia