Médico ginecologista, formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, no ano de 1982. Atua na áre...
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O que é Bebê prematuro?
O bebê prematuro, que também pode ser chamado de pré-termo, é aquele que nasce antes de 37 semanas de gestação completas. Dependendo de quando ele nasça, o recém-nascido terá órgãos e sistemas subdesenvolvimentos — o que pode provocar dificuldade em respirar e de se alimentar. Além disso, ele também é suscetível a hemorragias cerebrais, a infecções e a outros problemas, incluindo de desenvolvimento.
O bebê prematuro é classificado de acordo com a idade gestacional:
- Bebê prematuro extremo: nascido antes de 28 semanas de gestação
- Bebê muito prematuro: nascido entre 28 e 32 semanas de gestação
- Bebê prematuro moderado a tardio: nascido entre 32 e 37 semanas de gestação.
Características do bebê prematuro
O bebê prematuro apresenta as seguintes características, dependendo do grau da prematuridade:
- Cabeça proporcionalmente maior que o corpo
- Tecido subcutâneo escasso por ter pouca gordura corporal
- Pele fina, brilhante e rosada. Em alguns casos, pode ser coberta por uma penugem fina, chamada de lanugo
- Músculos mais fracos e movimentos físicos reduzidos
- Orelhas finas e pouco encurvadas
- Respiração mais rápida e irregular
- Veias visíveis.
Os bebês prematuros também têm dificuldade em manter o calor do corpo, além de estarem sujeitos a outras complicações — como as respiratórias, reflexos de sucção e deglutição deficientes, que trazem dificuldades para a alimentação. Em alguns casos, o recém-nascido prematuro pode apresentar retinopatia, uma doença visual causada pela prematuridade e uma das principais causas de cegueira na infância, além de problemas neurológicos e Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Causas
O que pode causar o parto prematuro?
O nascimento de um bebê prematuro pode ocorrer por vários fatores — que, normalmente, estão ligados à condição de saúde da mãe. Entre eles, é possível destacar:
- Infecções
- Problemas na pressão arterial levando a pré-eclâmpsia ou eclâmpsia
- Descolamento prematuro de placenta
- Diabetes gestacional
- Distúrbios da tireoide
- Infecções congênitas, como toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e AIDS
- Uso de bebidas alcoólicas e drogas.
No entanto, algumas condições do bebê também podem levar ao nascimento prematuro, como:
- Malformações fetais
- Presença de síndrome genética.
Fatores de risco
Alguns fatores podem aumentar o risco de prematuridade. Conheça alguns deles e como evitá-los:
- Tabagismo: o fumo prejudica a circulação uteroplacentária na mulher grávida, o que causa uma menor oxigenação fetal. A diminuição do oxigênio que chega ao bebê faz com que seu crescimento se torne mais restrito, gerando uma interrupção prematura da gestação, isto é, a mulher entra em trabalho de parto antes da hora
- Desnutrição: futuras mães que não se alimentam de forma adequada durante a gravidez também correm o risco de ter um parto prematuro, principalmente se desenvolverem anemia durante este período. Ao consumir poucos nutrientes essenciais, não só a mulher se prejudica, como também pode haver uma restrição do crescimento do feto. Isso aumenta o risco de sofrimento fetal, o que leva à interrupção da gestação antes do tempo
- Obesidade: mulheres obesas apresentam uma gestação de maior risco. Neste caso, o dano é maior quando elas já apresentam o índice de massa corporal (IMC) muito acima do aconselhado antes da gravidez. Há maior risco de existirem quadros como diabetes e hipertensão arterial, que contribuem para a prematuridade
- Álcool: o consumo de bebida alcoólica durante a gravidez pode ter relação com o nascimento antes do tempo. Além disso, pode também causar malformações e prejuízos no desenvolvimento do bebê. O álcool é passado diretamente para o feto através da placenta, o que significa que o feto terá a mesma concentração sanguínea de álcool que a sua mãe
- Estresse: hábitos que cultivam o estresse aumentam o risco do trabalho de parto prematuro devido aos hormônios liberados por esse quadro emocional. A elevação da noradrenalina e do cortisol, que está presente nesses casos, podem desencadear contrações uterinas antes da hora
- Desidratação: pode levar a algumas complicações, incluindo defeitos do tubo neural (estrutura embrionária que dá origem ao cérebro e medula espinhal), baixa produção de líquido amniótico, produção inadequada de leite materno e até mesmo parto prematuro. Beber muita água, de 8 a 12 copos por dia, é recomendado para evitar a desidratação
- Abuso de açúcar: durante a gestação, a placenta produz hormônios que bloqueiam, em parte, a ação da insulina no corpo, hormônio que atua na redução da glicose do sangue. Isso pode gerar um quadro chamado de diabetes gestacional, que está ligado também a partos prematuros. Esse excesso de glicose gera um aumento do crescimento fetal e da produção de líquido amniótico, o que também pode causar complicações.
Saiba mais: Bebês prematuros possuem mais chances de contrair doenças?
Tratamento
O tratamento do bebê prematuro é feito na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), em uso de aparelhos que permitam acompanhar a evolução de sua saúde. Nesse local, ele geralmente é submetido a alguns procedimentos como:
- O bebê prematuro será colocado na incubadora, que tem como objetivo ajudar a manter a temperatura corporal ideal
- Monitoramento constante dos sinais vitais do bebê, como pressão arterial, batimentos cardíacos e respiração
- Provavelmente, o bebê prematuro receberá alimentação intravenosa ou leite materno, que poderá ser dado a ele através de um tubo que entra pelo nariz e vai até o estômago, até que o bebê tenha desenvolvido o reflexo de sugar e engolir adequadamente
- Algumas vezes, o bebê prematuro precisa receber transfusões sanguíneas, pois ele pode não ter a capacidade de produzir as células vermelhas de acordo com suas necessidades.
Os profissionais da saúde envolvidos avaliam individualmente cada criança para determinar cuidados específicos. Durante esse processo, alguns exames podem ser solicitados como por exemplo:
- Hemogasometria arterial, para verificação da concentração de oxigênio no sangue a fim de avaliar a performance dos pulmões
- Níveis sanguíneos de glicose, cálcio e bilirrubina
- Raio X de tórax
- Ultrassom para verificação dos órgãos internos do bebê
- Ecocardiograma (ultrassom do coração)
- Exame oftalmológico (uma das complicações possíveis é a retinopatia de prematuridade).
Em geral, alguns itens são avaliados antes de definir a alta do bebê: Ele deverá:
- Conseguir respirar sem ajuda
- Conseguir manter a temperatura corporal
- Conseguir mamar no peito da mãe ou na mamadeira
- Ganhar peso de forma estável e constante
- Não ter nenhuma infecção.
Cuidados com bebê prematuro após a alta hospitalar
O bebê prematuro precisa de uma série de cuidados especiais em casa, principalmente nos primeiros meses. Em geral, a equipe médica orientará os pais sobre como devem ser esses cuidados. Entender quais são os sintomas que podem significar uma emergência médica também é essencial.
Saiba mais: 5 medidas para proteger um bebê prematuro contra infecções
Veja quais são os principais pontos de atenção nos cuidados do bebê prematuro em casa:
- Alimentação: muitos bebês prematuros precisam de suplementação alimentar, seja com fortificadores do leite materno ou com fórmulas para bebês pré-termo — essa necessidade deverá ser discutida com o seu médico. Saber também com que frequência e qual quantidade que seu filho deve ingerir de leite é muito importante
- Proteção à saúde: bebês prematuros são mais vulneráveis a vírus e a outros micro-organismos presentes no ambiente. Portanto, evite locais lotados e garanta que as pessoas que entram em contato com seu bebê lavem as mãos ou use álcool gel. Essas atitudes são boas formas de prevenir infecções, já que os bebês prematuros são mais propensos a tê-las devido à imaturidade de seus órgãos e do sistema imunológico
- Vacinas de cuidadores e visitas: um bebê frágil como o prematuro pede cuidados que podem parecer incomuns, como se informar sobre a vacinação das pessoas que visitam o bebê e de seus cuidadores. Essa é uma atitude importante, já que a saúde frágil da criança não pode ser colocada em risco. Além disso, limite o número de visitas ao mínimo possível.
Saiba mais: Prematuro extremo: como cuidar do seu bebê em casa
Vacinação do bebê prematuro
Os bebês prematuros devem seguir um calendário de vacinação específico, que será orientado pelo pediatra, em geral seguindo a idade cronológica do bebê. Confira o calendário dos prematuros da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Os principais imunizantes que o bebê prematuro deve tomar são:
- BCG-ID: aplicada em recém-nascidos com peso maior ou igual a 2Kg
- Hepatite B: aplicada ao nascer no esquema habitual de três doses (0, 1 e 6 meses). Nas crianças nascidas com menos de 33 semanas e/ou com menos de 2 quilos, a vacina é fornecida em esquema de quatro doses (0, 1, 2 e 6 meses de vida)
- Profilaxia para o vírus sincicial respiratório (VSR): deve ser aplicada durante os meses de maior circulação do vírus que, no Brasil, ocorre entre os meses de janeiro a agosto, dependendo da região
- Pneumocócica: iniciar aos 2 meses, de modo que as doses devem respeitar a idade cronológica do bebê, sendo aos 2, 4 e 6 meses e um reforço aos 15 meses
- Poliomielite: em recém-nascidos internados na unidade neonatal, deve ser utilizada somente vacina inativada (vacina de vírus inativo), injetável. Aplicada aos 2, 4 e 6 meses, com reforço aos 15 meses e aos 4 anos de idade
- Haemophilus tipo B: no caso de prematuros extremos, na rede pública é aplicada depois de 15 dias que o prematuro recebe a Tríplice Bacteriana. O reforço deve ser dado aos 15 meses. As vacinas combinadas (DTPa-HB-VIP-Hib ou DTPa-VIP-Hib) na rede privada permitem a aplicação simultânea e são eficazes e seguras para os prematuros.
Idade cronológica x idade corrigida
Muitos pais podem ficar em dúvida sobre a idade cronológica e a idade corrigida do bebê prematuro. Esse conceito é importante para avaliação do desenvolvimento do bebê. A explicação é bem simples:
- Idade cronológica: é o tempo de vida real do bebê depois do nascimento. Um bebê que nasceu no dia 1 de janeiro terá 2 meses no dia 1 de março, por exemplo
- Idade corrigida: é a idade que o bebê teria se tivesse nascido com 40 semanas. Por exemplo, para um bebê que nasceu há dois meses com 29 semanas de gestação sua idade corrigida atual é 37 semanas (29 semanas de gestação + 8 semanas desde o nascimento = idade corrigida de 37 semanas).
Convivendo (Prognóstico)
Os cuidados com o bebê prematuro devem ir além dos prestados na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal. As visitas ao pediatra e a outros profissionais de saúde que acompanham seu bebê devem ser feitas na frequência correta, que pode chegar a ser semanal ou quinzenal inicialmente.
Isso é necessário para que o crescimento e desenvolvimento do bebê prematuro sejam acompanhados adequadamente. O bebê que nasce antes do tempo pode apresentar alguns problemas no desenvolvimento como:
- Perda ou deficiência auditiva
- Perda de visão
- Dificuldades de aprendizagem
- Atrasos no crescimento e desenvolvimento
- Atraso no desenvolvimento da linguagem.
Complicações possíveis
O bebê prematuro está sujeito a uma série de complicações que aumentam de risco conforme o grau de prematuridade, tais como:
- Icterícia: é caracterizada pela coloração amarelada da pele e mucosas, provocada pelo excesso de bilirrubina no sangue, um pigmento da bile que permanece no plasma (parte líquida do sangue) até ser eliminada junto com a urina
- Retinopatia da prematuridade: esse problema nos vasos sanguíneos da retina está relacionado não só à prematuridade como também ao baixo peso ao nascer. Na retinopatia da prematuridade, ocorre o crescimento desorganizado dos vasos sanguíneos. Caso o quadro não seja diagnosticado e tratado adequadamente, pode ocorrer descolamento da retina e até mesmo cegueira infantil
- Apneia: é a pausa respiratória superior a 20 segundos e, no caso do bebê prematuro, pode ocorrer porque o sistema respiratório não está desenvolvido o suficiente ou devido a outras complicações da prematuridade, como convulsões. A apneia pode causar sequelas no sistema nervoso central
- Problemas cardiovasculares: bebês prematuros podem ter problemas de hipotensão, que é a pressão arterial baixa, e persistência do canal arterial — isto é, o duto arterioso que liga o coração à aorta não se fecha após o nascimento, permanecendo o padrão de circulação fetal. O duto pode se fechar posteriormente sozinho, mas não tratar essa condição pode causar falência do coração.
Referências
Roberto Eduardo Bittar, professor associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (CRM-SP 39.632)
Sociedade Brasileira de Imunização
Sociedade Brasileira de Pediatria
Mayo Clinic
XXS - Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro.
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ministério da Saúde
Sociedade Brasileira de Pediatria
Journals of Pediatrics
Sociedade Brasileira de Imunizações
Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros.
Oxford Vaccine Group. Vaccine Knowledge Project.
Pastoral da Criança