Cirurgião-geral formado pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e com especialização em Cirurgia Bariátrica e Metabóli...
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O que é Peritonite?
O peritônio tem a função de sustentar as estruturas abdominais, reduzir o atrito entre órgãos e a parede abdominal e armazenar gordura. Quando o peritônio é infectado por bactérias ou fungos, ou sofre outros tipos de lesões que levam à irritação do tecido, acontece a peritonite.
Quando médicos se referem a um quadro como peritonite aguda, a ideia é indicar que a infecção é recente – ou seja, está em andamento em sua fase mais expressiva. Além disso, é possível também falar em peritonite bacteriana espontânea, tipo de infecção causado por bactérias sem que haja uma perfuração da parede abdominal.
Causas
Diferentemente da conhecida peritonite infecciosa felina (PIF), doença que afeta gatos e é causada por um vírus, a peritonite humana é causada por bactérias ou fungos. Geralmente, o que causa a peritonite é uma ruptura na parede abdominal, que permite a passagem de microrganismos e pode ocorrer por complicação de problemas como:
- Úlcera péptica;
- Apendicite;
- Pancreatite;
- Diverticulite;
- Doença inflamatória pélvica;
- Cirrose hepática.
Além de doenças, perfurações abdominais que levam à peritonite também podem ter causas mecânicas. Conforme explica o cirurgião, ferimentos causados por armas de fogo ou armas brancas e cirurgias gastrointestinais, por exemplo, podem ocasionar a doença.
Em pacientes que têm problemas renais e realizam diálise peritoneal, há ainda outra forma de desenvolver peritonite. Caso seja realizada em condições inadequadas envolvendo falta de higiene ou equipamento contaminado, bactérias podem chegar ao peritônio através do cateter, causando a doença.
Em casos raros, a infecção no peritônio acontece sem que haja alguma perfuração ou entrada de bactérias por um cateter. Nestes casos, a doença é chamada de peritonite bacteriana espontânea, e pode ter relação, por exemplo, com cirrose.
Nos quadros de cirrose hepática avançada, pode ocorrer acúmulo de líquido na cavidade abdominal (chamado de ascite), algo que a torna suscetível a infecções bacterianas – e, consequentemente, à peritonite espontânea.
Tipos
De acordo com o especialista, há três tipos de peritonite:
- Peritonite primária: o mesmo que peritonite espontânea – ou seja, infecção sem causa intra-abdominal aparente;
- Peritonite secundária: tipo mais comum da doença, acontece por consequência de outra doença;
- Peritonite terciária: forma difusa e persistente de peritonite secundária, infecciosa ou não.
Sintomas
Para identificar a doença, é importante conhecer seus sintomas. Ela causa, por exemplo, dor – e a dor da peritonite tem suas particularidades. Veja abaixo os sintomas da peritonite:
- Dor abdominal (que piora com toque e movimento)
- Sensibilidade na região abdominal
- Inchaço abdominal
- Febre alta e repentina
- Náuseas e vômito
- Apetite reduzido
- Diarreia
- Prisão de ventre
- Pouca quantidade de urina
- Desidratação
- Excesso de sede
- Incapacidade de evacuar ou de expelir gases
- Fadiga
Diagnóstico
Para detectar a peritonite, o médico conversa com o paciente sobre seu histórico médico e faz um exame físico geral e abdominal. Quando a peritonite está associada à diálise peritoneal, os sinais e sintomas manifestados geralmente são suficientes para que o especialista possa realizar o diagnóstico.
No entanto, em casos de peritonite em que a infecção pode ser resultado de outras condições médicas (peritonite secundária) ou em que a infecção surge de acúmulo de líquido na cavidade abdominal (peritonite espontânea), o médico pode recomendar os seguintes exames para confirmar o diagnóstico:
- Análise do líquido peritoneal, usando uma agulha fina para recolher uma amostra do líquido localizado no peritônio para depois enviá-la para laboratório
- Exames de imagem, como radiografias, ultrassonografias e tomografias computadorizadas
- Exames de sangue
Fatores de risco
Fatores que podem aumentar o risco de peritonite incluem:
- Ascite (acúmulo de líquido na cavidade abdominal relacionado a outras doenças);
- Necessidade de realizar diálise peritoneal;
- Doenças inflamatórias intestinais e outras condições médicas, como cirrose, apendicite, doença de Crohn, úlceras estomacais, diverticulite e pancreatite;
- Histórico de peritonite (uma vez diagnosticado com peritonite, o risco de desenvolvê-la novamente é maior do que o de alguém que nunca a teve).
Buscando ajuda médica
Quando não é devidamente tratada, a peritonite pode apresentar risco à vida do paciente. Por isso, ao apresentar os sintomas indicados, a orientação é de buscar atendimento médico imediatamente.
Entre os especialistas que podem diagnosticar uma peritonite estão clínico-geral, nefrologista, hepatologista, gastroenterologista e cirurgião-geral. Não é preciso, porém, buscar um destes especificamente – basta ir ao pronto-socorro.
Tratamento
O tratamento da peritonite pode variar dependendo das causas da doença. No entanto, segundo o cirurgião bariátrico André Augusto Pinto, na maioria dos casos, o tratamento pode incluir:
- Uso de antibióticos;
- Hidratação endovenosa;
- Medicamentos para diminuir o processo inflamatório abdominal;
- Jejum de sonda nasogástrica para retirar o suco gástrico e intestinal;
- Jejum via oral;
- Tratamento cirúrgico em casos de necrose, perfuração ou abscesso na estrutura abdominal.
O especialista ainda detalha que, nos casos de peritonite como consequência de um processo inflamatório - como uma pancreatite, diverticulite ou de outras condições -, pode ser necessário tratar a doença inicial para que a peritonite seja curada.
O tratamento cirúrgico consiste em procedimentos convencionais, como a laparotomia e a videolaparoscopia, que tratam a causa primária da doença. Por exemplo, se o paciente está com apendicite, é realizada a retirada do apêndice. Já em casos de necrose, é feita a remoção do tecido necrosado.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de peritonite são:
- Amicacina
- Ceftriaxona Dissódica
- Ceftriaxona Sódica
- Ciprofloxacino
- Clocef.
É importante destacar que as orientações do especialista devem ser seguidas à risca, sem interromper o uso sem autorização médica ou tomar doses maiores.
Tem cura?
A peritonite pode ser curada quando o tratamento correto é administrado tanto para a doença em si quanto para aquelas que a ocasionaram. Em geral, este processo pode durar de 10 a 14 dias.
Prevenção
Muitas vezes, a peritonite associada com diálise peritoneal é causada por germes localizados ao redor do cateter. Para quem faz diálise peritoneal, as seguintes medidas são recomendadas para evitar peritonite:
- Lavar muito bem as mãos antes de tocar no cateter;
- Limpar diariamente a pele em torno do local em que o cateter está sendo aplicado, de preferência com um antisséptico;
- Armazenar os suprimentos em uma área sanitária;
- Conversar com a equipe de diálise sobre o cuidado adequado com o uso do cateter.
Para quem já teve peritonite espontânea antes ou tem acúmulo de líquido peritoneal devido a outra condição médica, como cirrose, o médico pode prescrever antibióticos para prevenir que a peritonite retorne.
No geral, a recomendação é manter uma alimentação adequada para que os órgãos abdominais sejam preservados, assim como o peritônio. Além disso, buscar uma rotina de vida saudável com alimentação balanceada e atividade física regular pode ajudar na prevenção de doenças que estão entre as causas da peritonite.
Complicações possíveis
Se não for tratada corretamente, a peritonite pode ir além do peritônio. Os riscos da peritonite incluem a infecção da corrente sanguínea (bacteremia) e infecção generalizada (sepse). Este quadro costuma ser progressivo e, quando não controlado, pode comprometer os órgãos e causar a morte.
Por isso, é muito importante que o diagnóstico seja feito a tempo e de forma precisa, de acordo com André Augusto Pinto.
Referências
Ministério da Saúde
Mayo Clinic
André Augusto Pinto, cirurgião geral e cirurgião bariátrico da Clínica Gastro ABC. CRM 78136
Dra. Cintya Miler De Faria Moler, gastroenterologista - CRM 93462 SP