Clínico geral e nutrólogo, diretor da clínica Dr. Roberto Navarro. Formado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz...
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O que é Prisão de ventre?
A prisão de ventre, ou constipação intestinal, acontece quando os resíduos de fezes se movem muito lentamente através do trato digestivo, ficando duros e ressecados. Isso exige um esforço muito grande na hora de evacuar, comumente associado a cólicas e desconfortos.
A constipação não é definida necessariamente pelo número de vezes que a pessoa vai ao banheiro, uma vez que a duração normal de tempo entre as evacuações varia muito de pessoa para pessoa.
A pessoa pode ir ao banheiro a cada dois ou três dias, por exemplo, mas se a evacuação não é desconfortável, não há prisão de ventre.
Algumas pessoas podem inclusive ir ao banheiro todos os dias, mas sofrerem de constipação justamente pela dificuldade ao evacuar ou pela sensação de não terem evacuado o suficiente.
A constipação costuma afetar mais mulheres, sendo comum ocorrer prisão de ventre na gravidez e em crianças e idosos, mas pode acontecer com qualquer pessoa.
Prisão de ventre em bebês
A prisão de ventre em bebês é mais comum a partir do primeiro ano de vida. Assim como em alguns casos nos adultos, a constipação está relacionada, geralmente, aos hábitos alimentares, como a baixa ingestão de fibras ou de água.
Por isso, é interessante investir em uma introdução alimentar com ingredientes ricos em fibras, como banana, mamão, batata-doce, cenoura, aveia e brócolis para aliviar os sintomas do bebê com prisão de ventre.
Porém, é importante lembrar que até os seis meses de vida, a alimentação do bebê deve ser feita exclusivamente através da amamentação. Por isso, em casos de prisão de ventre em recém-nascidos, uma dica é fazer massagens na barriga ou dar um banho morno para estimular os movimentos intestinais.
Causas
As causas da prisão de ventre são diversas, como:
Bloqueios no cólon ou reto
Bloqueios no cólon ou reto podem retardar ou parar o movimento das fezes. As causas incluem:
- Fissura anal
- Obstrução intestinal
- Câncer de cólon
- Estreitamento do cólon (estenose do intestino)
- Tumores na região abdominal que pressionam o cólon
- Retocele
Problemas neurológicos
Doenças que afetam os nervos do cólon e reto podem fazer com que esses órgãos não trabalhem de maneira eficiente para contraírem e movimentarem fezes através do intestino. As causas incluem:
- Neuropatia autonômica
- Esclerose múltipla
- Doença de Parkinson
- Lesão medular
- AVC
Problemas musculares
Doenças que afetam os músculos pélvicos podem causar constipação crônica. Esses problemas incluem:
- Incapacidade para relaxar os músculos pélvicos e permitir a evacuação
- Músculos pélvicos que não coordenam o relaxamento e a contração corretamente
- Músculos pélvicos enfraquecidos
Condições hormonais
Doenças e condições que perturbam o equilíbrio dos hormônios podem levar à constipação, incluindo:
Outras condições
Hábitos e estilo de vida também podem dificultar os movimentos intestinais, causando a prisão de ventre. Veja:
- Pouca ingestão de água e fibras
- Interrupção da dieta regular ou de rotina
- Viajar
- Sedentarismo
- Comer grandes quantidades de produtos lácteos;
- Estresse
- Resistir ao impulso de defecar
- Uso excessivo de laxantes
- Medicamentos antiácidos que contêm cálcio ou alumínio
- Medicamentos sedativos e narcóticos
- Medicamentos para baixar a pressão arterial
- Depressão
- Transtornos alimentares
- Síndrome do intestino irritável
Sintomas
Você está com prisão de ventre se tiver dois ou mais dos seguintes sintomas por pelo menos três meses:
- Esforço durante a evacuação
- Fezes mais duras do que o normal
- Evacuação incompleta
- Duas ou menos evacuações por semana
Outros sintomas de prisão de ventre podem incluir:
- Inchaço ou dor abdominal
- Vômitos
Diagnóstico
A maioria das pessoas não precisa de exames para diagnosticar prisão de ventre e apenas um pequeno número de pacientes com constipação tem um problema médico mais sério.
Para lidar com a prisão de ventre, procure realizar mudanças de estilo de vida para solucionar a condição. Se a prisão de ventre persistir mesmo após todas as alterações, consulte um médico para investigar a causa.
Os testes e procedimentos utilizados para diagnosticar constipação crônica incluem:
- Sigmoidoscopia
- Colonoscopia
- Avaliação da função músculo do esfíncter anal (manometria anorretal)
- Avaliação dos movimentos intestinais (estudo de trânsito no cólon)
- Raio-X do reto durante a defecação (proctografia)
- Exames de sangue para verificar possíveis alterações hormonais
Fatores de risco
Fatores que podem aumentar o risco de prisão de ventre crônica incluem:
- Estar na meia idade
- Ser do sexo feminino
- Baixa ingestão de água
- Dieta pobre em fibras
- Sedentarismo
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar prisão de ventre são:
- Clínico geral
- Nutricionista
- Nutrólogo
- Gastroenterologista
- Proctologista
Estar preparado para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à consulta com algumas informações:
- Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
- Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e medicamentos ou suplementos que ele tome com regularidade
- Se possível, peça para uma pessoa te acompanhar
O médico provavelmente fará uma série de perguntas, tais como:
- Quando os sintomas começaram?
- Os sintomas são contínuos ou ocasionais?
- Quão grave são os sintomas?
- O que, se alguma coisa, parece melhorar os sintomas?
- O que, se alguma coisa, parece piorar os sintomas?
- Os sintomas incluem dor abdominal?
- Os sintomas incluem vômitos?
- Você recentemente perdeu peso sem esforço?
- Quantas refeições você faz por dia?
- Quanta água e fluidos outros que você bebe por dia?
- Você vê sangue misturado nas fezes, na água do vaso sanitário ou no papel higiênico?
- Você tem algum histórico familiar de problemas digestivos ou câncer de cólon?
- Você tem quaisquer outras condições médicas?
- Você começou a tomar quaisquer novos medicamentos ou recentemente mudou a dosagem de seus medicamentos atuais?
Não hesite em fazer outras perguntas, caso elas ocorram no momento da consulta.
Tratamento
A maioria das pessoas com prisão de ventre precisará apenas fazer mudanças em sua alimentação e no estilo de vida para tratar a condição. É o caso da ingestão de alimentos ricos em fibras (legumes, verduras, frutas, cereais integrais, entre outros), beber bastante líquido e praticar atividade física.
No entanto, em alguns casos, podem ser necessários tratamentos mais específicos:
Laxantes
Se você está passando por uma dificuldade de evacuar eventual, os laxantes são uma solução rápida para prisão de ventre. No entanto, deve ficar atento caso a questão persista, pois a necessidade de uso contínuo (mais de três vezes na semana) destes medicamentos é sinal de que é preciso fazer outras alterações ou mudanças no estilo de vida para que o intestino passe a funcionar melhor.
Outros casos que obrigam o uso de laxantes são procedimentos como a lavagem intestinal. Há também casos em que o paciente está com uma constipação intensa e o médico irá receitar o laxante como medida paliativa para aliviar o intestino do constipado. Isso porque o medicamento é recomendado quando a prisão de ventre já está instalada, mas não faz parte do tratamento para reeducar o intestino.
Os laxantes podem ter origem natural ou sintética. Os primeiros agem regulando o funcionamento intestinal e no geral são feitos de fibras, como um suplemento alimentar.
Os laxantes sintéticos, por sua vez, são divididos em duas categorias: osmóticos e apáticos.
Laxantes osmóticos
Os osmóticos atuam puxando a água presente nas paredes do intestino para o meio do órgão, diluindo a massa fecal e eliminando-a.
Laxantes apáticos
Os laxantes apáticos agem causando uma irritação na parede do intestino, forçando a evacuação. É como se o intestino identificasse um corpo estranho e precisasse expeli-lo do corpo, o fazendo por meio das fezes.
Biofeedback
O biofeedback utiliza dispositivos para relaxar e apertar os músculos da pelve. Relaxar os músculos do assoalho pélvico na hora certa durante a defecação pode ajudar a passar fezes mais facilmente.
Durante uma sessão de biofeedback, um tubo especial (cateter) é inserido em seu reto. O terapeuta orienta através de exercícios para relaxar e apertar os músculos pélvicos, alternadamente. A máquina vai medir a tensão muscular usando sons ou luzes para ajudar você a entender quando você relaxou seus músculos.
Cirurgia
A cirurgia pode ser uma opção se você já tentou outros tratamentos e sua constipação crônica é causada por retocele, fissura anal, estenose ou câncer. Pessoas que já tentaram outros tratamentos sem sucesso e que têm o movimento intestinal anormal têm a cirurgia como opção. A cirurgia para remover o cólon raramente é necessária.
Medicamentos
A prisão de ventre crônica pode ter diversas causas, de modo que o tratamento varia de acordo com o diagnóstico estabelecido pelo médico.
Por isso, somente um especialista capacitado pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.
Os remédios para prisão de ventre mais comuns são:
- Brometo de Pinavério 100mg
- Brometo de Pinavério 50mg
- BuscoDuo
- Digestil (gotas)
- Digesan
- Dulcolax
- Fleet Enema
- Lactulona
- Muvinlax
Prevenção
A prisão de ventre pode ser prevenida por mudanças simples nos hábitos do dia a dia, como:
- Comer mais fibras
- Beber muita água
- Prática regular de exercícios físicos
- Mastigar bem os alimentos
- Evitar situações estressantes
- Ir regularmente ao banheiro e não segurar as necessidades
- Tomar mais probióticos
- Evitar alimentos ricos em açúcar, sódio e gorduras trans
Complicações possíveis
As complicações da constipação crônica incluem:
- Hemorroidas
- Fissura anal
- Acúmulo de fezes endurecidas que ficam presas em seu intestino
- Prolapso retal
Referências
Gastroenterologista Carolina Pimentel, do Núcleo de Gastroenterologia do Hospital Samaritano, em São Paulo
Gastroenterologista Cátia Rejania Ribeiro de Melo (CRM-SP 67677), do Núcleo de Gastroenterologia do Hospital Samaritano
Gastroenterologista Flavio Steinwurz (CRM-SP 38811), especialista do Hospital Albert Einstein
Gastroenterologista Roberto Rizzi (CRM-SP 45768), especialista do Hospital São Luiz