Graduou-se em Medicina na Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2009, estando envolvida em atividades acadêmicas desde...
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O que é reposição hormonal masculina?
A terapia de reposição hormonal (TRH) é um tratamento que consiste na administração de andrógenos com o objetivo de compensar a deficiência de produção de testosterona em homens, normalmente em função do distúrbio androgênico do envelhecimento masculino (DAEM).
Conforme o homem envelhece, o progressivo declínio da produção de testosterona pode provocar sintomas que podem interferir diretamente em sua qualidade de vida — afetando desde o sistema musculoesquelético até a função sexual e causando prejuízos no âmbito psicocomportamental.
“Nos homens, a diminuição da secreção de andrógenos ocorre mais gradualmente do que o declínio na secreção de estrogênio em mulheres, e tem menos manifestações clínicas agudas”, aponta um estudo de revisão publicado em 2014 na revista Saúde.com.
É importante destacar que o distúrbio andrógenos do envelhecimento masculino não é um processo generalizado. Segundo pesquisas científicas, 33% dos homens acima dos 60 anos de idade podem apresentar esse problema.
A queda dos níveis de testosterona também pode ocorrer em função do hipogonadismo, uma doença na qual os testículos não produzem quantidades adequadas de hormônios sexuais. Nesse caso, o hipogonadismo pode ser causado por diferentes fatores e, ao contrário do DAEM, pode afetar homens em qualquer faixa etária. As principais causas de hipogonadismo incluem:
- Obesidade;
- Traumas ou infecções nos testículos;
- Síndrome de Klinefelter;
- Hipotireoidismo;
- Doenças autoimunes;
- Efeito colateral de algum medicamento.
Reposição hormonal natural
A reposição hormonal natural é uma alternativa buscada para aliviar os sintomas causados pelo declínio da produção de testosterona a partir do uso de hormônios naturais — mais conhecidos como fitohormônios, como ginko biloba, maca peruana, tribulus terrestres e outros derivados de plantas.
Todavia, não existem evidências científicas comprovando a eficácia do método e, por isso, ela não é indicada como tratamento médico e não deve substituir a reposição com testosterona.
“A reposição nunca é natural. A reposição é feita através do hormônio masculino testosterona, que tem a característica de ser um hormônio peptídico. Ou seja, é formado por uma proteína que não tem absorção intestinal porque ela é degradada no suco gástrico, somente com injeções intramusculares ou gel transdérmico”, explica Nelson Vinicius Gonfinetti, endocrinologista do Instituto Castro.
Para que serve?
Ao contrário das mulheres, o declínio das dosagens de testosterona não traz sintomas tão acentuados e nem afeta todos os homens da mesma forma.
Porém, quando a deficiência androgênica começa a prejudicar a qualidade de vida do paciente ou oferece riscos à sua saúde, a reposição hormonal é indicada para aliviar os sintomas causados e promover novamente o bem-estar.
“A testosterona é um hormônio de grande importância para o homem. Além da função relacionada ao desejo sexual, ereção e fertilidade, tem importância na proteção cardiovascular, no trofismo muscular e ósseo, na capacidade cognitiva, na produção de glóbulos vermelhos, dentre outras funções”, esclarece Marcos Tobias Machado, médico urologista do Instituto de Cuidados, Reabilitação e Assistência em Neuropelveologia e Ginecologia (Increasing).
Como a reposição hormonal masculina é feita?
Existem várias alternativas para o tratamento de reposição hormonal em homens e todas são sistêmicas. Segundo Lorena Lima Amato, endocrinologista e doutora pela Universidade de São Paulo, as opções incluem:
- Reposição de testosterona por via intramuscular, através de injeções;
- Reposição de testosterona por meio de implantes hormonais inseridos no subcutâneo e trocados a cada seis meses;
- Reposição via oral através da administração de comprimidos.
“A reposição hormonal é feita após o diagnóstico correto e principalmente quando se confirma entre os sintomas que o paciente tem. Quer dizer, ele tem que estar se queixando de disfunção erétil ou de disfunção na sua função de masculinidade, junto com baixa dosagem do hormônio masculino”, diz Nelson Gonfinetti.
Qual a duração da terapia?
A duração do tratamento de reposição hormonal irá depender do motivo pelo qual ele foi indicado. Em casos de hipogonadismo definitivo (em que a causa é uma doença que não é possível a recuperação do testículo), a terapia é para sempre.
Todavia, em casos de hipogonadismo funcional, em que a queda dos níveis de testosterona pode estar associada a doenças crônicas mal controladas, a endocrinologista Lorena Lima Amato explica que o tratamento adequado dessas doenças pode fazer com que o organismo do paciente volte a produzir testosterona — tornando dispensável a continuação da terapia de reposição hormonal.
“Nesses casos, a terapia duraria até o momento do controle da doença crônica e restauração da produção normal de testosterona”, acrescenta a especialista.
Para quem a reposição hormonal é indicada?
A terapia de reposição hormonal só deve ser indicada para indivíduos com testosterona sérica baixa associada aos sintomas causados pela deficiência do hormônio, tais como:
- Cansaço;
- Alterações de humor;
- Sensação de perda de energia;
- Insônia;
- Aumento de gordura abdominal;
- Depressão;
- Osteopenia;
- Sudorese;
- Diminuição da libido e disfunção erétil;
- Perda de massa óssea e massa muscular.
Benefícios da reposição hormonal masculina
O objetivo principal da terapia de reposição hormonal masculina é regular a função hormonal androgênica, diminuindo, por consequência, os sintomas associados à baixa de testosterona. Assim, os benefícios incluem:
- Restaurar a sensação de bem-estar;
- Melhorar o libido;
- Diminuir a sensação de fadiga;
- Potencial de melhora da disfunção erétil;
- Melhora de massa muscular (e da saúde óssea em geral).
Contraindicações
A terapia de reposição hormonal masculina é contraindicada para homens que estão tratando algum tipo de câncer, pois a doença pode ter seu crescimento estimulado pelos hormônios. Pacientes de alto risco cardiovascular ou com doenças crônicas descompensadas também devem evitar o tratamento.
O médico urologista Marcos Machado acrescenta que ela não deve ser utilizada por pacientes com níveis séricos de testosterona normais apenas com o objetivo de ganhar massa muscular.
Considerações
Riscos da reposição hormonal masculina
Segundo um estudo publicado em 2019 na Jama Internal Medicine, a terapia de reposição de testosterona aumenta o risco de tromboembolismo venoso, além de AVC e ataque cardíaco. Outros problemas associados à reposição hormonal incluem:
- Hipertensão;
- Elevação dos níveis do colesterol LDL (o “colesterol ruim”);
- Infertilidade;
- Trombose;
- Problemas no fígado;
- Alterações da próstata;
- Infarto do miocárdio.
Ademais, segundo um estudo de Schwarz et al, em ampla revisão da literatura, a terapia hormonal está relacionada ao aumento do risco de doença coronariana em pacientes cardiopatas.
“O aumento da chance de ocorrer uma doença cardíaca em idosos é notório, e diversos estudos apontam a importância do acompanhamento do tratamento desses pacientes que fazem uso da reposição hormonal, pois a alteração do medicamento ou até mesmo a suspensão do tratamento pode ser estabelecida”, explica o estudo de Rodrigues Filho.
Efeitos colaterais da reposição hormonal masculina
Quando a terapia hormonal é bem indicada e tem como proposta somente a elevação da testosterona para níveis fisiológicos, Lorena Lima Amato explica que é difícil o paciente apresentar efeitos colaterais relacionados à testosterona em si.
“Os efeitos colaterais podem estar associados aos métodos empregados, como infecções no local de colocação de um implante subcutâneo ou da injeção do medicamento quando intramuscular”, explica a especialista.
Todavia, é importante destacar o risco da administração em excesso da testosterona aplicada. Segundo o endocrinologista Nelson Gonfinetti, o hormônio sexual masculino é anabolizante. Em altas doses, o processo de anabolização de estende para todas as células do organismo e além de causar sérios danos ao organismo do paciente, a prática é ilegal.
Por isso, é essencial realizar o acompanhamento com um médico especialista, que poderá indicar a melhor abordagem para o tratamento de reposição hormonal, bem como a dosagem correta do hormônio e a duração, de modo que envolva menos riscos à saúde do paciente.
Referências
Lorena Lima Amato, endocrinologista e doutora pela Universidade de São Paulo - CRM 141594 / RQE 50079
Nelson Vinicius Gonfinetti, endocrinologista do Instituto Castro
Marcos Tobias Machado, médico urologista do Instituto de Cuidados, Reabilitação e Assistência em Neuropelveologia e Ginecologia (Increasing).