Endocrinologista graduada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e com especialização pelo Hospital das Clínicas...
iManuela Pagan é jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero (2014) e em fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2008).
iO que é Anemia perniciosa?
A anemia perniciosa é uma doença autoimune que faz parte do amplo grupo de anemias megaloblásticas. Embora “anemia” seja um termo geralmente relacionado à falta de ferro, a anemia perniciosa é caracterizada pela deficiência da vitamina B12 por incapacidade de absorvê-la no trato gastrointestinal.
Conforme a vitamina B12 não é absorvida, as células sanguíneas passam a se formar de maneira inadequada, tornando-se anormalmente grandes.
Nem toda deficiência de vitamina B12, porém, caracteriza anemia perniciosa. A condição só recebe este nome quando a falta da vitamina no organismo se dá por incapacidade de absorção.
Causas
A causa da anemia perniciosa é a ausência de uma proteína especial (fator intrínseco) necessária para a absorção de vitamina B12 pelo trato gastrointestinal. Esta deficiência pode ser motivada por inúmeras causas distintas, como:
- Gastrite atrófica autoimune (inflamação crônica do estômago);
- Histórico familiar de anemia perniciosa;
- Doença celíaca;
- Cirurgia bariátrica;
- Doença de Addison;
- Doença de Graves;
- Tireoidite de Hashimoto;
- Vitiligo;
- Diabetes tipo 1;
- Acidemia metilmalônica.
Além disso, mulheres grávidas que não se alimentarem corretamente durante os meses de gestação podem dar à luz a filhos com anemia perniciosa congênita. Os bebês com este tipo de anemia perniciosa não produzem o fator intrínseco ou, então, não são capazes de absorver a vitamina B12 corretamente.
Sintomas
Ainda que alguns pacientes não apresentem sinais da doença, os sintomas de anemia perniciosa mais comuns são:
- Fadiga;
- Fraqueza;
- Falta de ar;
- Palpitações;
- Tontura;
- Diarreia ou constipação;
- Náuseas;
- Azia;
- Inchaço abdominal;
- Palidez (especialmente nas palmas das mãos e na parte inferior das pálpebras);
- Língua inchada e dolorida;
- Dificuldade de concentração;
- Formigamento nas mãos e nos pés;
- Perda de apetite e de peso sem explicação;
- Sangramento na gengiva.
Em casos mais graves, quando a doença não é descoberta e o paciente passa longos períodos com níveis baixos de B12, pode haver ainda sintomas mais intensos, como confusão mental, depressão e perda de equilíbrio.
Diagnóstico
Os níveis de B12 no sangue podem ser analisados a partir de um exame de sangue simples. Caso ele não esteja satisfatório, é preciso descobrir então se a deficiência da vitamina se dá por incapacidade de absorção ou por outros motivos.
Nesta etapa, o especialista pode pedir um teste de deficiência de fator intrínseco para entender a causa da baixa nos níveis de B12. Este exame também é feito a partir de uma amostra de sangue.
Em alguns casos, pode ser preciso uma biópsia do estômago para identificar se há ou não incapacidade de absorção da vitamina.
Fatores de risco
Apesar de poder surgir em qualquer pessoa de qualquer parte do mundo, a incidência maior de anemia perniciosa ocorre no norte da Europa e em países escandinavos. Além disso, a doença costuma aparecer depois dos 30 anos de idade, mas também pode surgir antes, principalmente em crianças (anemia perniciosa juvenil) com menos de três anos.
Além disso, outras doenças também podem aumentar o risco de uma pessoa vir a desenvolver anemia perniciosa. São elas:
- Doença de Addison;
- Distúrbios de tireóide;
- Doença de Graves;
- Hipopituitarismo;
- Miastenia grave;
- Amenorreia;
- Diabetes;
- Disfunção nos testículos;
- Vitiligo.
Buscando ajuda médica
Ao apresentar um conjunto de sintomas condizentes com os de anemia perniciosa, incluindo especialmente a fadiga, palpitações e dor ou inchaço na língua, é indicado buscar atendimento médico. A indicação é ainda maior quando os sintomas perduram por longos períodos ou quando há sintomas mais graves, como confusão mental.
Médicos gastroenterologista, endocrinologista e clínico geral são indicados para diagnosticar anemia perniciosa.
Tratamento
A principal forma de tratamento para anemia perniciosa é a reposição de vitamina B12. A suplementação por via oral, no entanto, pode não ser eficaz devido à incapacidade do trato gastrointestinal em absorvê-la. Sendo assim, o tratamento mais comum envolve injeções intramusculares de B12.
Ainda que mudanças alimentares normalmente não sejam suficientes para corrigir a deficiência em B12, convém que pacientes com anemia perniciosa se alimentem bem, especialmente de fontes da vitamina (como carne vermelha e ovos).
O tratamento eficaz da anemia perniciosa também depende da possibilidade de tratar a doença de base caso ela seja causada por uma. Em casos de anemia perniciosa derivada da doença celíaca, por exemplo, é preciso tratar também a segunda.
Tem cura?
Como a anemia perniciosa é derivada da dificuldade em absorver a vitamina B12 no trato gástrico – e, por vezes, de maneira autoimune –, a suplementação com injeções não cura a doença. Ainda assim, ela garante os níveis saudáveis da vitamina, impedindo assim as possíveis complicações da anemia perniciosa.
Prevenção
Como há diversas possíveis causas da anemia perniciosa, não é possível afirmar que há prevenção para todos os casos. Quando a doença é autoimune ou genética, por exemplo, não há formas de prevenir seu desenvolvimento – e isso acontece na maior parte dos casos.
Já em casos de deficiências adquiridas a partir de, por exemplo, má alimentação ou cirurgia bariátrica, a suplementação periódica é indicada por toda a vida de forma a evitar a doença.
Além disso, é importante manter os exames em dia, especialmente em casos de histórico familiar de anemia perniciosa.
Complicações possíveis
Se não tratada corretamente, a anemia perniciosa pode causar danos irreversíveis ao sistema nervoso, gerando sintomas como dormência, formigamento, perda de equilíbrio, alterações de memória e até mesmo demência.
Além disso, pessoas com anemia perniciosa estão mais propensas a desenvolver problemas no trato gastrointestinal, como pólipos gástricos e, em casos mais graves, o câncer gástrico.
Referências
Dra. Thaís Mussi (CRM 27542/PR), endocrinologista pela Universidade do Vale do Itajaí (UIVALI) e com especialização pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. É titulada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
National Health Service (NHS), Reino Unido