Hepatologista e Gastroenterologista Clínico pelo HCFMUSP Mestre em gastroenterologia pela FMUSPCoordenador médico d...
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O que é Ascite?
Ascite, ou barriga d’água, é o nome dado ao acúmulo anormal de líquido na cavidade abdominal chamada peritoneal, um espaço entre os órgãos e os tecidos que revestem o abdômen. Não é considerada uma doença por si só, mas sim uma condição de saúde associada a outras doenças.
O líquido que se acumula tem origem nos vasos sanguíneos e pode ser formado por plasma sanguíneo, líquido do sangue, ou linfa, que faz parte da circulação das ínguas.
Causas
A ascite, geralmente, está relacionada à alguma doença hepática grave, causada pela alta pressão nos vasos sanguíneos do fígado (num processo chamado hipertensão portal) e baixos níveis da proteína albumina. Algumas das condições de saúde que podem estar associados à ascite são:
- Cirrose;
- Coágulos nas veias do fígado;
- Trombose;
- Tuberculose;
- Câncer de cólon;
- Insuficiência cardíaca congestiva;
- Pericardite constritiva;
- Hepatite A;
- Hepatite B;
- Hepatite C;
- Câncer de fígado;
- Síndrome nefrótica;
- Câncer do ovário;
- Câncer endometrial;
- Pancreatite;
- Câncer de pâncreas;
- Enteropatia perdedora de proteínas;
- Hemodiálise.
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Sinais
No início, a ascite é quase sempre assintomática. Além disso, pequenos acúmulos de líquido no abdômen não costumam levar ao aparecimento de sintomas. Porém, com a evolução do quadro, dependendo do volume de líquido retido no abdômen, podem surgir os alguns sintomas, como:
- Ganho de peso sem razão aparente;
- Inchaço;
- Crescimento da região da barriga e da cintura;
- Dor abdominal;
- Perda de apetite;
- Náuseas e vômito;
- Dificuldade para respirar;
- Abdômen rígido;
- Febre;
- Desorientação mental;
- Sonolência;
- Icterícia;
- Ginecomastia;
- Encefalopatia hepática;
- Edemas nas pernas e nos pés.
Diagnóstico
Na fase inicial de ascite, o exame físico no próprio consultório pode ser insuficiente para detectar a presença de líquido na cavidade abdominal. O diagnóstico definitivo depende da realização de alguns exames específicos, como:
- Exame de sangue;
- Exames de imagem: ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética;
- Paracentese ou punção abdominal: esse procedimento envolve o uso de uma agulha fina para extrair o líquido do abdômen. O líquido é examinado para determinar a causa da ascite.
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Fatores de risco
Condições de comprometimento hepático são os principais fatores de risco que levam ao desenvolvimento da ascite. Entre elas:
- Consumo excessivo de bebidas alcoólicas;
- Comprometimento do sistema imunológico;
- Não ter se vacinado contra as hepatites A e B;
- Consumo exagerado de sal na alimentação;
- Uso de medicamentos anti-inflamatórios não hormonais e diuréticos.
Buscando ajuda médica
Pessoas que apresentam os sintomas característicos da ascite relacionados ao acúmulo de líquidos na região do abdômen, principalmente em um aumento for repentino e progressivo, devem buscar ajuda médica. Também é válido procurar ajuda especializada em casos de febre relacionada.
“A ascite pode ser o primeiro sintoma dentro do quadro de cirrose”, diz Márcio Dias, hepatologista e coordenador do programa de transplante de fígado do Hospital Moriah.
Tratamento
O tratamento de ascite depende única e exclusivamente de sua causa. Nos casos de ascite muito volumosa e aparente, o especialista pode recomendar o uso de diuréticos para aumentar a vontade do paciente urinar e, também, restrições na dieta para reduzir a ingestão de sal.
Em caso de infecção, o médico poderá prescrever antibióticos. Além disso, o consumo de bebidas alcoólicas é estritamente proibido.
Em alguns cenários é feita a retirada de líquido abdominal por agulha (paracentese). Existe, também, a possibilidade de realização de procedimentos endovasculares, como a colocação de um dispositivo que diminui a pressão nos vasos portais do fígado (chamados TIPS).
O transplante de fígado é outra possibilidade para casos de ascite, utilizado no tratamento de doença hepática terminal e sem resposta adequada às medidas de controle clínico e medicamentoso.
Tem cura?
A ascite não tem cura. No entanto, com o tratamento adequado, é possível haver a recuperação dos sintomas de ascite e da causa subjacente. Pacientes que chegam ao estágio final de uma eventual doença hepática, e cuja ascite já não responde ao tratamento, possivelmente podem precisar de um transplante de fígado.
Prevenção
A prevenção, a recuperação e os bons resultados no tratamento podem ser alcançados mediante alguns cuidados no dia a dia:
- Não consumir sal em excesso;
- Evitar o consumo de bebidas alcóolicas;
- Vacinar-se contra as hepatites A e B;
- Pacientes com cirrose ou insuficiência cardíaca devem seguir rigorosamente a orientação médica quanto à restrição de sal e água a fim de evitar o surgimento ou piora da ascite.
Complicações possíveis
A causa subjacente de ascite, se não for devidamente tratada, pode evoluir para algumas complicações de saúde mais graves, como:
- Peritonite bacteriana espontânea (infecção do fluido ascético);
- Síndrome hepatorrenal;
- Insuficiência renal crônica;
- Perda de peso e desnutrição;
- Encefalopatia hepática;
- Complicações decorrentes de cirrose hepática;
- Derrame pleural.