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Professor de Cardiologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). Cardiologista dos Hospitais Albert Einstein, Vila Nova...
iO que é Cardiomegalia?
A cardiomegalia (CID 10 - I51.7), também chamada de “coração grande”, é uma alteração estrutural caracterizada pelo aumento do tamanho do coração. Ela geralmente está associada a outras doenças cardíacas, que podem causar a dilatação dos ventrículos direito, esquerdo ou de ambos, além das artérias.
De acordo com o cardiologista Denilson Campos de Albuquerque, membro do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), quando uma doença acomete o músculo cardíaco e ele fica dilatado, as fibras miocárdicas (ou seja, do músculo do coração) perdem seu poder contrátil e elas ficam frouxas. Isso faz com que o coração distenda e aumente de tamanho.
Por ter diferentes causas, a cardiomegalia pode acometer pessoas de diferentes faixas etárias. O mais comum, segundo o especialista, é atingir pessoas a partir dos 50 anos de idade que já tenham cardiopatias, como hipertensão ou insuficiência cardíaca. Porém, é possível que uma pessoa mais jovem tenha essa alteração devido a doenças congênitas ou hábitos de vida pouco saudáveis, relacionadas ao uso de drogas ou consumo excessivo de álcool.
Cardiomegalia é grave?
Embora represente uma alteração substancial no coração, a gravidade da cardiomegalia depende do tamanho do órgão. “Como essa condição significa o aumento do tamanho do coração, ela pode ser grave ou não. Se você tiver uma cardiomegalia importante, a condição clínica é mais grave. Porém, se o órgão não estiver muito grande, pode ser menos grave”, explica o cardiologista.
Causas
Existem múltiplas causas para a cardiomegalia. Entre elas estão:
- Doença arterial coronariana, como infarto do miocárdio e isquemia cardíaca;
- Hipertensão;
- Doenças valvulares cardíacas, como estenose aórtica, estenose mitral e endocardite bacteriana subaguda;
- Cardiopatias congênitas, como defeito do septo atrial, defeito do septo ventricular, tetralogia de Fallot, persistência do canal arterial, anomalia de Ebstein e coarctação da aorta;
- Doenças pulmonares, como hipertensão pulmonar primária, embolia pulmonar, apneia do sono, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
- Miocardites infecciosas decorrentes de infecção viral, como HIV, Doença de Chagas e coronavírus;
- Hipotireoidismo, acromegalia, hemocromatose, amiloidose e sarcoidose;
- Uso excessivo de álcool, cocaína e outras toxinas e agentes quimioterápicos;
- Cardiomiopatia autoimune, como miocardite eosinofílica, miocardite idiopática de células gigantes e doença vascular do colágeno;
- Anemia, hipertireoidismo, deficiência de vitamina B1;
- Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva;
- Cardiomiopatia idiopática.
Segundo Denilson de Albuquerque, a causa mais comum de cardiomegalia no Brasil é o infarto. “Quando o paciente tem um infarto, uma parte do coração fica necrosada, para de funcionar e dilata. Com isso, o músculo do coração perde sua elasticidade e dilata, aumentando de tamanho”, explica o cardiologista.
Outro exemplo que ficou bastante comum após a pandemia do coronavírus é a cardiomegalia causada por miocardite, que é uma inflamação no coração, decorrente da COVID-19. “Quando a infecção acomete o coração, ele perde sua força contrátil e fica dilatado. Isso faz com que a pessoa tenha uma cardiomegalia denominada de miocardite inflamatória”, esclarece o especialista.
Além disso, de acordo com o cardiologista Fernando Menezes, diretor da Medicina Interna Personalizada (MIP) e médico assistente da Unidade Coronária do InCor/FMUSP, outra causa comum da cardiomegalia é a hipertensão.
“Pacientes hipertensos acabam tendo uma sobrecarga no coração que, a longo prazo, pode hipertrofiar para vencer essa pressão. Ou seja, com o aumento da pressão do corpo, o coração hipertrofia para fazer circular o sangue e, na sequência, dilata”, explica.
No caso do infarto do miocárdio, ambos os cardiologistas afirmam que o tratamento ineficiente é um dos principais fatores de risco para o aumento do coração.
Álcool e drogas são fatores de risco
O uso excessivo de álcool e drogas, como o cigarro e a cocaína, também são fatores de risco para a cardiomegalia. Isso acontece porque essas substâncias possuem efeitos nocivos para a estrutura e funcionamento do coração.
“O principal problema do cigarro é que ele causa um estresse oxidativo em radicais livres e de oxigênio. Isso aumenta a incidência de placas que causam obstruções nos vasos sanguíneos, levando ao infarto”, explica Fernando Menezes.
Já o álcool, segundo o especialista, além de contribuir para a formação de placas causadoras de infarto, também pode intoxicar células cardíacas.
Entre as drogas ilícitas, a cocaína é uma das mais perigosas, de acordo com o cardiologista, pois causa a vasoconstrição, ou seja, obstrução das artérias coronárias. “Isso provoca um efeito muito parecido com a obstrução por placa, podendo levar, também, ao infarto”, afirma.
Sinais
Sintomas de cardiomegalia
A cardiomegalia, muitas vezes, não apresenta sintomas em seu estágio inicial. “A pessoa acaba desenvolvendo a condição e não descobre ao longo do tempo, porque não faz nenhum tipo de check-up. Então, ela pode passar anos sem sentir nada. Até que, um dia, pelo coração estar muito grande, ele para de funcionar adequadamente”, explica Denilson de Albuquerque.
Quando isso acontece, os principais sintomas da cardiomegalia percebidos, segundo os especialistas, são:
- Falta de ar (dispneia);
- Cansaço excessivo ao fazer exercícios físicos;
- Inchaço nas pernas;
- Distenção abdominal;
- Ingurgitamento das veias do pescoço;
Diagnóstico
O diagnóstico de cardiomegalia deve ser feito por um cardiologista através de exames de rotina, como eletrocardiograma e radiografia de tórax. O histórico do paciente, segundo os especialistas, também é um fator importante para entender se existe um quadro de cardiomegalia.
Outro exame fundamental para o diagnóstico preciso de cardiomegalia é o ecocardiograma. “Ele vê se a válvula do coração está funcionando, se esse coração está muito dilatado, como está o lado esquerdo e o direito. Em resumo, fornece um panorama geral”, explica Denilson de Albuquerque.
Ao identificar o aumento do tamanho do coração, o médico deve estudar qual é a causa da cardiomegalia. “O mais importante é conhecer a história clínica do paciente”, acrescenta o cardiologista.
Tratamento
O coração grande não tem cura, mas pode ser tratado. De acordo com o médico Fernando Menezes, os tratamentos para cardiomegalia devem ser feitos de maneira individualizada. “Em alguns casos, é preciso colocar marcapasso. Em outros, fazer cirurgias e, nos mais graves, existe o transplante como última opção”, elenca o cardiologista.
Por isso, a primeira etapa do tratamento é investigar a causa da alteração. Em casos assintomáticos, diagnosticados precocemente, uma alternativa para reduzir os riscos é modificar o estilo de vida: seguir uma alimentação balanceada, limitar o consumo de álcool, cessar o tabagismo e praticar atividades físicas regularmente.
“É difícil ter uma cardiomegalia que possa ser revertida completamente, mas é possível impedir que ela evolua e, até mesmo, fazer com que ela reverta um pouco. Mas não é possível zerar essa dívida”, completa Denilson de Albuquerque.
Medicamentos
O cardiologista também pode prescrever medicamentos para tratar a cardiomegalia. Em geral, a conduta envolve o uso de:
- Diuréticos: ajudam a remover o excesso de líquidos no organismo, reduzindo o inchaço nas pernas, abdômen, pés e tornozelos;
- Anti-hipertensivos: ideais para cardiomegalia causada por hipertensão;
- Vasodilatadores: ajudam a melhorar o fluxo de sangue, facilitando o transporte de oxigênio e nutrientes para os músculos.
Cirurgias
Em alguns casos de cardiomegalia, também é possível realizar procedimentos mais ou menos invasivos, como:
- Colocação de marcapasso: tratamento adjuvante em casos de cardiomegalia com insuficiência cardíaca avançada;
- Colocação de stent: para casos de artérias coronárias entupidas, para evitar a obstrução total dos vasos;
- Substituição da válvula do coração: caso a cardiomegalia seja causada por um problema na válvula, sendo possível reduzir o tamanho do coração.
Prevenção
A melhor maneira de prevenir o aumento do coração, segundo os especialistas, é fazer exames periódicos. “A partir deles, é possível prever o risco de essa pessoa se tornar um cardiopata”, ressalta o cardiologista Denilson de Albuquerque. Além disso, entre as medidas importantes para evitar a cardiomegalia, estão:
- Não fumar;
- Evitar bebidas alcoólicas;
- Não usar drogas como cocaína e opióides;
- Fazer exercícios físicos regularmente;
- Manter uma alimentação saudável;
- Manter o peso adequado.
Convivendo (Prognóstico)
Tempo de vida
Apesar dos avanços para o diagnóstico precoce e tratamento, a mortalidade de pacientes com cardiomegalia e insuficiência cardíaca é alta: 30% vêm a óbito em um ano após a descoberta da condição e 50%, em cinco anos.
Segundo os especialistas, o tempo de vida de uma pessoa com cardiomegalia é de 5 anos. “Porém, se o paciente está em uma etapa precoce, é possível reduzir a taxa de mortalidade com os tratamentos atuais e melhorar muito a qualidade de vida dessa pessoa”, afirma Denilson de Albuquerque.
“Além disso, é preciso trabalhar o lado psicológico e entender que não é uma sentença de morte”, completa Fernando Menezes. “Temos bastante ferramentas para modular essa condição: medicamentos, procedimentos cirúrgicos, alimentação balanceada e atividade física, que é tão importante quanto os remédios”, acrescenta.
Referências
Denilson Campos de Albuquerque, membro do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) - CRM 144319 RJ
Fernando Menezes, Cardiologista da Medicina Interna Personalizada (MIP) - CRM 133711
STATPEARLS. Cardiomegaly. 2021. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK542296/>. Acesso em 7 de abril de 2022.