Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde também realizou mestrado em Psiquiatria. Doutor e...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O que é Delírio?
O delírio é um estado mental caracterizado por uma alteração no pensamento, na percepção e na consciência, resultando em uma interpretação distorcida da realidade. Ele pode se manifestar de diversas maneiras, mas normalmente envolve crenças falsas e irracionais que não são compartilhadas pela maioria das pessoas. O paciente pode ter sensações de perseguição, conspiração, grandiosidade ou ciúme patológico, por exemplo.
O delírio é um sintoma comum de diversas condições médicas e psiquiátricas, como demência, intoxicação por substâncias e privação do sono. Ele também pode estar associado a outros sintomas, dependendo da causa subjacente, como confusão, agitação, alucinações e ansiedade.
Os episódios de delírio podem durar de alguns minutos ou horas até semanas. Normalmente, quanto mais novo o paciente, mais rápido ele se recupera. Pacientes mais velhos ou com condições de saúde mais graves podem demorar mais tempo para se recuperar e ter momentos de delírio recorrentes.
Causas
O delírio acontece quando os sinais enviados e recebidos pelo cérebro se tornam comprometidos, debilitados ou confusos. Embora a causa desse comprometimento não seja clara, o mais provável é que seja ocasionado por uma combinação de fatores que tornam o cérebro vulnerável, implicando no mau funcionamento da atividade cerebral.
Qualquer condição que faça com que o paciente fique internado em um hospital aumenta o risco dele ter episódios de delírio. Além disso, falta de sono, uso de certos medicamentos ou drogas, infecções e febre alta podem estar relacionados ao sintoma.
Dentre as principais condições de saúde ligadas ao delírio estão:
- Desidratação
- Infecções do trato urinário
- Pneumonia
- Infecções abdominais e de pele
- Demência
- Nutrição deficiente
- Esquizofrenia
- Tratamento com muitas medicações diferentes ou em doses altas
- Doenças graves ou em fase terminal
- Período de abstinência das drogas
Dentre as medicações que podem ocasionar o delírio estão:
- Analgésicos
- Remédios para dormir
- Antialérgicos
- Medicações para alterações de humor, como as usadas para tratar ansiedade e depressão
- Remédios para doença de Parkinson
- Drogas para tratar espasmos ou convulsões
- Medicamentos para asma
Os episódios de delírio também estão bastante relacionados ao tempo em que o paciente está acamado, com restrição de mobilidade, ao uso de cateter na bexiga e a uma combinação de vários dos fatores anteriores.
Sintomas
Os sintomas de delírio aparecem em pouco tempo e normalmente desaparecem, retornando durante o dia (flutuam), então a pessoa pode passar algum tempo sem apresentar sintomas. Dentre os sinais que o paciente com delírio pode apresentar estão:
- Incapacidade de ficar focado em um tópico ou situação ou em mudar de tópico
- Atenção vaga
- Ficar preso a apenas uma ideia ou tópico e não conseguir responder questões normais de uma conversação
- Ser “retirado” do ambiente em que se encontra com pouca ou nenhuma resposta às situações ao seu redor
- Ser facilmente distraído por coisas não importantes
- Memória fraca, principalmente dos eventos recentes
- Desorientação, incluindo não saber o local em que as coisas estão, quem é quem ou em qual período do dia, mês ou ano está
- Dificuldade para falar ou para se lembrar do que falou
- Dificuldade em compreender as falas das outras pessoas
- Dificuldade em ler ou escrever
- Linguagem estranha ou sem sentido
- Ter alucinações
- Não conseguir descansar e ficar agitado
- Irritabilidade e comportamento agressivo
- Problemas para conseguir dormir e acordar nos horários normais
- Estar com as emoções — como medo, ansiedade, raiva ou depressão — muito afloradas, extremas
“Os delírios, nos pacientes sem tratamento, costumam ser não contra-argumentados, isto é, por mais que se mostrem evidências contrárias à pessoa, ela continua acreditando em suas ideias irreais”, explicou o psiquiatra Ivan Mario Braun previamente.
Diagnóstico
O diagnóstico de delírio é feito a partir do histórico médico do paciente, da verificação do estado mental e da identificação dos possíveis fatores que contribuíram com o quadro. Os testes incluem:
- Avaliação do estado mental: o especialista avalia consciência, atenção e capacidade de raciocínio do paciente através de uma conversa informal ou de testes mais formais, com o uso de listas e outros instrumentos de avaliação
- Exames físicos: o médico verificará a possibilidade de desidratação, infecção, abstinência de álcool ou outros problemas de ordem física. Os exames físicos têm como objetivo encontrar condições de saúde que podem estar causando o problema, uma vez que o delírio pode ser o primeiro sinal de uma condição mais séria, como insuficiência respiratória ou insuficiência cardíaca
- Exames neurológicos: verificarão visão, equilíbrio, coordenação e reflexos do paciente, o que pode determinar a presença de alguma doença neurológica que está ocasionando o delírio
- Outros exames: se a causa do delírio não tiver sido descoberta com os exames anteriores, o médico pode solicitar exames de sangue, exames de urina e exames de imagem e do cérebro
Fatores de risco
As seguintes condições de saúde ou características elevam a propensão de episódios de delírio:
- Demência
- Idosos
- Crianças com infecções que causam febre alta
- Ter problemas de visão ou audição
- Desnutrição e desidratação
- Estar fazendo tratamento com múltiplas medicações
- Fazer uso excessivo de álcool e/ou drogas ou estar no período de abstinência
- Ter realizado uma cirurgia recentemente
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar delírio são:
- Clínico geral
- Geriatra
- Pediatra
- Psicólogo
- Psiquiatra
As pessoas que estão mais próximas ao paciente com delírio são muito importantes no momento da consulta. São elas quem devem fornecer a maior parte das informações ao médico.
Buscando ajuda médica
Caso algum parente, amigo, ou alguém próximo esteja apresentando os sintomas de delírio, é indispensável procurar ajuda médica imediatamente. Pessoas idosas que estão internadas em hospitais ou com doenças que demandam tratamentos constantes são particularmente mais propensas a apresentar episódios de delírio.
Se o paciente já tem demência, é necessário ficar atento a mudanças repentinas no geral e no seu envolvimento com o ambiente, pois esses fatores podem indicar episódios de delírios.
Tratamento
O tratamento do delírio depende da causa subjacente e pode variar de acordo com a condição específica que está causando os sintomas. Os quadros causados por uma infecção podem ser tratados com o uso de medicamentos antibióticos. Se a causa for uma condição psiquiátrica, como a esquizofrenia, o especialista pode receitar o uso de antipsicóticos, que também ajudam a reduzir a intensidade e a frequência dos delírios.
Além disso, o suporte emocional e psicológico é fundamental para pacientes com delírios e pode ajudar a lidar com os sintomas e a desenvolver estratégias de enfrentamento. Com base nisso, o tratamento requer uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, psicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde.
Medicamentos
Os medicamentos mais usados para o tratamento de delírio são:
- ZAP.
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
O grau de recuperação do paciente com delírio, depois de tratado o problema, dependerá muito da condição dele antes do surgimento do problema. Pacientes com demência normalmente apresentam uma piora acentuada nas habilidades de raciocínio e de memória depois dos episódios de delírio.
Para pessoas com condições de saúde graves ou potencialmente fatais, também pode haver complicações, mesmo depois de tratados. Já em pessoas com condições física e mental melhores, são maiores as chances de uma recuperação completa.
Cuidados
Durante o tratamento de delírio pode ser necessário usar de cuidados especiais para que o paciente se oriente, como:
- Manter relógios e calendários por perto
- Manter o ambiente em que ele está o mais calmo o possível, com a presença dos seus pertences e daquilo que é familiar para ele
- Conversas regulares sobre lembranças do lugar e o tempo em que ele está
- Manter os membros da família por perto e evitar a presença de estranhos
- Não fazer barulhos nos momentos em que o paciente deve dormir e deixar o ambiente iluminado fracamente
- Manter nutrição e hidratação adequadas
- Suprir a necessidade de equipamentos que se fizerem necessários, como óculos ou aparelhos auditivos
- Fazê-lo sair da cama nos horários normais e realizar atividades leves, como caminhadas em casa, se possível
Sobre as medicações que podem estar ocasionando o delírio, converse com o médico sobre a possibilidade de diminuir as doses ou trocá-las, visando a melhor qualidade de vida do paciente.
Prevenção
A prevenção do delírio pode ser feita evitando que os fatores de risco da doença possam ocasionar os episódios. Isso num contexto de internação hospitalar é mais difícil, por causa das mudanças constantes de quartos, procedimentos mais invasivos, iluminação, falta de luz natural e barulhos. Contudo, algumas atitudes podem ser tomadas para minimizar os problemas:
- Manter o paciente hidratado e comendo normalmente
- Fazer atividades que o estimulem e levar objetos familiares a ele para o hospital
- Caso ele use óculos ou aparelhos auditivos, incentive que os use mesmo estando internado
- Conte sobre as novidades das pessoas que ele conhece usando frases simples e lembrando de situá-lo no tempo em que ele está vivendo e no lugar que está
- Tente reduzir as interrupções durante a noite, além de diminuir a intensidade das luzes, se possível
Complicações possíveis
As principais complicações do delírio estão ligadas à demência e à possibilidade de perda de memória e de agressividade. Por essa razão, é bom identificar os sintomas para se buscar a causa e realizar o tratamento o quanto antes.
Referências
Sociedade Americana do Delírio
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP)
Universidade Federal de Santa Catarina
Clínica Mayo