Dermatologista, é membro efetivo e diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (RJ), coordenadora m...
iA relação das pílulas anticoncepcionais com o cabelo é bastante estreita! Isto ocorre porque o medicamento atua e influencia nas taxas hormonais do organismo, e as alterações dos hormônios estão intimamente ligadas aos cabelos. Portanto, o início ou a suspensão do seu uso costuma na maioria das mulheres exercerem algum tipo de modificação nos fios.
Entretanto, é importante destacar que o uso oral do medicamento não exerce uma influência linear positiva ou negativa no sexo feminino. Isto é, seu mecanismo funciona de modo distinto em cada pessoa, podendo até comprometer a ação de outros hormônios, além de poder causar até reações colaterais e adversas em alguns casos.
Logo, sua prescrição deve ser realizada somente pelo ginecologista, de acordo com o histórico do paciente e jamais ser aplicada com o único objetivo de agir teoricamente de forma benéfica para os cabelos.
Hormônios e cabelo
Primeiramente é preciso saber que geralmente os anticoncepcionais utilizam em sua formulação os hormônios estrógeno e progestágeno, o que enfraquece a carga operacional da testosterona, um hormônio masculino.
O hormônios masculinos, sobretudo a DHT (dihidrotestosterona), agem na rarefação dos fios e, deste modo, facilitam o surgimento da alopecia androgenética (calvície). Quanto mais houver este hormônio na corrente sanguínea, uma maior tendência à miniaturização acontecerá no fio.
Por isso, como as pílulas anticoncepcionais conseguem reduzir a ação da testosterona, elas contribuem no processo para que os cabelos se prolonguem e permaneçam mais na fase anágena, ou seja, de crescimento e, assim podem favorecer num determinado grupo o aumento progressivo do volume deles.
Além disso, os anticoncepcionais muitas vezes ainda possuem em sua formulação a ciproterona e a drospirenona, dois componentes que também produzem um significativo efeito antiandrogênico.
Mas vale lembrar que essa condição não é homogênea e dependerá da reação do organismo de cada um. Em contrapartida, é essencial citar que o contraceptivo DIU hormonal, que usa o recurso da progesterona chamada levonorgestrel em seu dispositivo, pode causar um efeito inverso e gerar perda capilar em mulheres com predisposição genética.
Parei de tomar anticoncepcional! E agora?
Em algumas situações a interrupção do anticoncepcional poderá trazer efeitos como a queda por períodos curtos, porém essa particularidade em geral é comum e está associado ao fato do cabelo entrar na fase do eflúvio telógeno, já que não recebe mais a estimulação do hormônio estrogênio.
Após essa etapa do ciclo, que tem em média uma duração que varia de três a seis meses, tudo volta ao normal. Mas se persistir e ocorrer uma forte perda capilar é recomendado se consultar com um médico tricologista para diagnosticar o quadro, pois pode se tratar de uma alopecia androgenética feminina.
Outra possibilidade é de que a paciente tenha alguma outra alteração no organismo que favoreça a queda de cabelos e, com essa desregulação hormonal, provocada pela interrupção do contraceptivo oral, pode ser agravada ou prolongada o eflúvio (queda de cabelos).
Anticoncepcional no shampoo
Existe uma crença infundada de que dissolver o anticoncepcional no shampoo irá fazer o cabelo crescer, porém isso não tem nenhum fundamento científico e não passa de mais uma lenda.
Os shampoos têm a função de lavar os cabelos e o couro cabeludo, não penetram no organismo e, portanto, o anticoncepcional não será absorvido pela pele. Logo, não traz benefício algum para uso com shampoo.
Cada organismo é único e temos substâncias diferentes para uso contraceptivo. A história clínica de cada paciente fará a diferença para a melhor escolha feita pelo médico.
Primeira menstruação, a regularidade (ou não) entre os ciclos, a intensidade do fluxo sanguíneo menstrual, a presença de acne, de ovários policísticos, de pelos em excesso na face e corpo, são sinais e sintomas muito importantes no histórico de cada mulher.
Eles serão o diferencial na escolha do anticoncepcional ideal em cada caso. E todos eles interferem no eixo dos hormônios femininos e masculinos, que possuem influência sobre os ciclos capilares.
Para quem observa que o cabelo está com dificuldade de crescer ou notou alguma queda ou rarefação desproporcional o indicado é sempre buscar um especialista para uma avaliação médica.