Médica hematologista atuante na área de onco-hematologia e transplante de medula óssea. Tem doutourado na área pela Univ...
iMarço é o mês de conscientização do mieloma múltiplo, segundo tipo de câncer do sangue mais comum no mundo¹. Para saber mais sobre o tema, o Minha Vida ao Vivo - com o apoio da biofarmacêutica Takeda - entrevistou a hematologista do Hospital Sírio Libanês e chefe do serviço de Hematologia do HUB/UNB (Universidade de Brasília), Dra. Flávia Xavier.
Durante a conversa, a especialista esclareceu dúvidas sobre o tema e respondeu perguntas dos internautas. Confira alguns trechos do bate papo:
Minha Vida: O que é o mieloma múltiplo?
Flávia Xavier: O mieloma múltiplo é uma doença originada na medula óssea a partir de células sanguíneas produtoras de anticorpos e, por isso, é um tumor do sangue. Temos no sangue células chamadas de plasmócitos, e são elas que produzem os anticorpos. Quando essas células sofrem uma mutação, atrapalham o bom funcionamento das demais saudáveis.
Minha Vida: Quais são os sinais desse tipo de câncer no sangue?
Flávia Xavier: Eventualmente o que se vê é a anemia, pois não sobra espaço para produzir o sangue de forma adequada. Às vezes as plaquetas e as células da imunidade caem também.
O mieloma múltiplo provoca "furinhos" nos ossos, que chamamos de lesões líticas. Isso pode levar a muita dor óssea, inclusive fraturas espontâneas. Esses são alguns sinais que temos de ficar atentos. Além disso, a proteína que é produzida pela doença pode também ser filtrada pelo rim e levar a uma piora da função renal.
Temos uma sigla que usamos - a CRAB - que é para lembrar dos locais que são acometidos por essa doença:
-C - Cálcio alto; R - Rim; A - Anemia; B - Bone (do inglês, osso).
Minha Vida: Quando falamos de mieloma múltiplo, nem sempre os sintomas são os mais claros e podem ser confundidos com outras doenças. Como lidar com isso? E qual a importância do diagnóstico precoce?
Flávia Xavier: O mieloma múltiplo é uma doença que atinge principalmente os idosos. Dor nas costas é uma coisa comum da idade, mas pode também ser sintoma de mieloma múltiplo, por exemplo. Sempre é bom buscar um auxílio médico para entender o que é.
E durante o mês da conscientização sobre esse câncer, nosso objetivo é fazer com que as pessoas procurem diagnóstico precocemente, frente aos sintomas, pois eu diria para vocês que, na minha área, é uma das doenças que a medicina mais avançou nos últimos anos. Hoje temos pacientes com mais de 10 anos de diagnóstico e que vivem bem com os tratamentos disponíveis.
Se o paciente demora muito para procurar ajuda, ele chega com complicações mais graves, como necessidade de transfusão, fraturas que levam à compressão de nervos ou até mesmo problemas renais que levam à diálise. Quando conseguimos diagnosticar precocemente esse paciente, conseguimos evitar o agravamento da condição de saúde que pode diminuir a sobrevida e atrapalhar o tratamento.
Minha Vida: Quem é o especialista que cuida do paciente com mieloma múltiplo?
Flávia Xavier: Quem trata o mieloma múltiplo é o hematologista, que é o médico especialista nos tumores do sangue. Porém, os pacientes costumam chegar por meio de outras especialidades, já que quem tem dor óssea e fratura vai procurar um ortopedista. Então vale a pena conscientizar todo mundo, ou seja, os médicos e os pacientes. Se o ortopedista identifica o paciente com uma lesão lítica (os buraquinhos nos ossos), iniciamos uma investigação com possível suspeita de que pode ser um mieloma múltiplo.
Às vezes o paciente chega através do clínico geral, pois o médico identificou que ele está com anemia. Ou chega pelo nefrologista, pois ele notou que o rim do paciente está alterado. O médico pode iniciar esse processo fazendo exames direcionados e, depois, indicar que o paciente visite o hematologista, pois é essa a especialidade que fará o tratamento.
Minha Vida: E já que estamos falando de câncer no sangue, uma dúvida é: quem tem mieloma múltiplo pode receber transfusão de sangue?
Flávia Xavier: Pode receber, mas não pode doar. O cuidado no caso de pacientes com mieloma múltiplo é que, como as células passam a produzir uma grande quantidade de anticorpos, o sangue pode ficar um pouco mais grosso.
Minha Vida: O mieloma múltiplo afeta a imunidade do paciente?
Flávia Xavier: O mieloma múltiplo muda os plasmócitos, que são as células que produzem os anticorpos. Se o corpo não produz anticorpos funcionantes ou de forma adequada, ou você direciona toda a sua produção para esse anticorpo que está anormal, acontece uma deficiência da imunidade, que chamamos de imunidade humoral. Pode ocorrer também deficiência de imunidade celular, pois isso pode acontecer em tratamentos oncológicos.
Pacientes com mieloma múltiplo têm de 7 a 10 vezes mais risco de infecções bacterianas e virais do que outros pacientes, e nos primeiros três meses do diagnóstico essa questão é bem acentuada.
Minha Vida: É possível fazer alguma prevenção em relação a esse tipo de câncer?
Flávia Xavier: Infelizmente não tem um método de prevenção. O que pode acontecer é o paciente ter uma proteína relacionada ao mieloma, detectado em exame de rotina. Quem tem essa proteína identificada sem ter os outros sinais da doença têm 1% de chance ao ano de desenvolvê-la. Nesse caso, vale fazer um acompanhamento médico periódico, a cada seis meses ou pelo menos uma vez ao ano.
Quer saber mais sobre o mieloma múltiplo? Assista ao vídeo completo com o papo com a Flávia Xavier no Facebook do Minha Vida.
Referências
1 - International Myeloma Foundation Latin America [Internet], Mieloma Múltiplo: segundo tipo de câncer sanguíneo mais frequente no mundo. Disponível em: https://www.myeloma.org.br/conteudo_detalhes.php?conteudo=eventos&id_conteudo=752. Acesso em: 08 de fevereiro de 2021
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