Psicóloga formada pela PUC-SP (1989). Psicodramatista pelo Instituto Sedes Sapientiae. Especialista Clínica pelo CRP/SP,...
iAcabo de ler um livro que gostaria de recomendar a todos que gostam de aprofundar-se em questões pessoais: "A Alma Imoral", de Nilton Bonder. Leitura obrigatória para aqueles que estão questionando seus relacionamentos, que não sabem o que fazer ao reconhecerem-se num casamento já desgastado e sem prazer.
O livro fala sobre a traição da nossa Alma, o quanto não a ouvimos e optamos por permanecer no "correto" em detrimento do "bom" para nosso eu. Veja esse trecho: "Há casamentos que, apesar de se conduzirem aparentemente dentro de normas de fidelidade, já esboçam movimentos de traição. Esses são determinantes para a infidelidade posterior. Entenda-se por infidelidade tanto o rompimento de compromissos como a manutenção dos mesmos de forma destrutiva".
Quantos de nós permanecemos em relações visivelmente desgastadas, onde há um desequilíbrio grande entre os cônjuges, não há intimidade e troca, e não temos a coragem de dar o passo decisivo para recuperar nossa essência? Nesses casos, o ato de transgredir é fundamental: "O não encontro de si mesmo está na incapacidade de arcar com a transgressão. A vida de acordo com o manual, que indica a cada um de nós o que devemos fazer, é insuficiente para responder integralmente por nosso eu".
Ou seja, ficamos presos ao que achamos que a sociedade espera de nós, ao que os outros vão pensar, ao olhar alheio, e esquecemos de dar ouvidos a quem mais nos faria sentido: nós mesmos, nossos desejos e necessidades, nossos sonhos. O medo do julgamento alheio é um fator paralisante de ações consideradas arriscadas por serem desconhecidas, ou simplesmente novas, que estejam em contradição com o determinado pelo passado. O presente não me satisfaz mais, mas no passado eu me comprometi com isso, então não posso mudar de ideia no meio do caminho.
Todos nós nos deparamos em algum momento com lugares que um dia já foram bons e nos ajudaram a crescer, a nos desenvolver, mas que com o passar do tempo tornaram-se estreitos, apertados e limitadores. Aprisionam nosso ser sem que percebamos, fruto do medo de nos aventurarmos em lugares novos e experiências libertadoras.
Decisão difícil
Arcar com as consequências de uma separação nem sempre é fácil. Levamos em conta as pessoas envolvidas além do casal: filhos, parentes, amigos, sem contar o trabalho, a rotina familiar, situação financeira, moradia, contas. Quantas preocupações! E tudo parece intransponível, não se vislumbram alternativas possíveis para esses problemas, parece que colocaremos tudo a perder. Será? Será que não imaginamos uma série de obstáculos que tem como função nos defenderem do medo de enfrentarmos nossa necessidade real, de bancarmos uma decisão pautada em nosso eu mais profundo?
As pessoas mudam com o tempo, crescem, amadurecem, modificam suas necessidades, seus sonhos. Num casamento onde esse crescimento acontece unilateralmente, ou se cada um vai para um lado completamente diferente do outro, fatalmente em algum momento esse desequilíbrio aparecerá, e algo deverá ser feito para se restaurar a harmonia. E nesse ponto, ou se encara a questão e mergulha-se fundo para resolvê-la, exigindo um investimento pessoal grande de ambas as partes para continuarem juntos, ou separa-se, e cada um segue sua vida da melhor forma possível.
Uma última citação, que acho importante colocar em meu artigo, só pra dar vontade de ler todo o restante: "Quantos casamentos são uma traição profunda à promessa de busca de uma vida de enriquecimento afetivo mútuo? Viver esse tipo de casamento, decerto após se terem esgotado todas as medidas possíveis para curar a relação, é uma forma de traição à alma bem mais séria do que um possível adultério representa, traição ao corpo. Por corpo entenda-se o passado e o compromisso do passado. A fidelidade hipócrita é um compromisso com o passado que obstrui o presente e o futuro. Pode ser uma opção, mas é idólatra".
Quem não percebe a existência da própria alma perde certamente a experiência única e absolutamente transformadora do encontro com outra alma, que pode estar por aí em algum lugar à espera do momento apropriado para esse encontro. E quando ele acontece... é indescritível!