Psicóloga formada pela PUC-SP (1989). Psicodramatista pelo Instituto Sedes Sapientiae. Especialista Clínica pelo CRP/SP,...
i"Prometo ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença". Será? Estava pensando nessa tão tradicional promessa que milhares e milhares de casais se fazem na cerimônia do casamento, a grande maioria deles repetindo as palavras sem se dar conta com o que eles estão realmente se comprometendo. Pelo número de divórcios que acontecem antes mesmo do casamento completar um ano - alguns não duram um mês sequer! -, vemos o quanto tais palavras não passam, muitas vezes, de um mero cumprimento de protocolo.
Algumas situações pelas quais o casal passa requerem especial dedicação, paciência e uma dose infinita de amor para que a relação não se desgaste logo no início. Problemas para engravidar encaixam-se nessa categoria.
Quando o casal decide que já é hora de constituir uma família e tenta, sem sucesso, a gravidez por um determinado tempo, uma luz amarela se acende para ambos: o que estará errado? Quem será o responsável pelo insucesso das tentativas de engravidar? Quem é o "problemático" do casal?
Iniciam-se inúmeros exames em busca de uma explicação para o problema e possível solução. Assim que detectado, é preciso lidar com a sensação de "impotência" daquele que carrega o peso da frustração, da responsabilidade por não ser capaz de proporcionar a si e ao outro a realização de um desejo, comprometendo um projeto de vida até então compartilhado por eles.
Este é o momento onde se acende uma luz vermelha, e o casal precisa decidir qual o melhor caminho a seguir. Adotar uma criança? Seguir sem filhos? Fazer um tratamento para tentar a gravidez? Qualquer uma das alternativas escolhidas exigirá muita conversa entre eles, maturidade. E a decisão terá que ser de comum acordo, pois estarão traçando para si um novo projeto de vida.
Ao optarem pelo tratamento, inicia-se uma fase bastante delicada para ambos, cheia de tensões, cobranças, expectativas, exames doloridos, procedimentos invasivos; alguns têm até "hora marcada para fazer amor". Toda a espontaneidade inicial das relações sexuais vai por água abaixo, pois cada vez que ficam juntos vem a "sombra" da cobrança: "Será que dessa vez conseguimos?" Difícil relaxar e apenas curtir o prazer do momento.
Todo mês a menstruação passa a ser símbolo do fracasso, de mais uma vez que a mulher não engravidou, do tempo correndo contra seu esforço e sacrifício na tentativa de ser mãe. A cada mês, um luto pela criança que não veio.
E haja estrutura emocional para suportar toda a frustração, as dores físicas de certos tratamentos invasivos, a cobrança da sociedade pelo filho que não chega, a instabilidade de humor e outros sintomas decorrentes de medicações cheias de efeitos colaterais. O casal deve se apoiar mutuamente e encontrar forças para seguir unido em seu propósito, pois a vontade de desistir no meio é frequente e tentadora!
Deu certo, e agora?
De repente, a tão esperada notícia: deu certo! Conseguiram, por meio da técnica da fertilização, o que tanto queriam, e a mulher carrega finalmente dentro de si seu sonho de, dentro em breve, tornar-se mãe. Porém, na grande maioria das vezes esses tratamentos têm uma consequência que todos nós sabemos: não raro nascem gêmeos, trigêmeos...
Quando tudo corre bem na gestação, ótimo! O casal vai se preparando para os bebês que logo inundarão a casa de alegrias, recompensando todo o investimento dos últimos tempos (em todos os sentidos: financeiro, de energia, físico, emocional etc.). Mas há gestações de múltiplos que exigem cuidados especiais. Algumas mulheres ficam de cama durante boa parte da gravidez para evitar que os bebês nasçam antes do tempo necessário para amadurecerem.
Durante a gestação podem acontecer algumas complicações, mas não é o caso citar aqui. E também não generalizo, visto que não é porque são gêmeos ou mais bebês que, necessariamente, algo sairá do normal. Apenas estou chamando atenção para os casos em que o amor do casal é testado em situações de dificuldades.
Depois do nascimento
E se a gestação foi difícil, o nascimento ocorreu antes do tempo previsto e um dos bebês tem complicações logo ao nascer, permanecendo na incubadora por algumas semanas? Mais essa: a mãe não pode amamentar seu filho como imaginou que faria, e nem levá-lo pra casa!
Com tudo isso, imagine como está o emocional da mãe após ter passado por todas as etapas anteriores - tentativas de engravidar, tratamentos, expectativas, cobranças, frustrações, medos, decepções, medicações, dores...E o marido que a acompanhou durante todo esse percurso, onde fica? É preciso uma dose infinita de amor para que um casal passe por todas essas etapas unido, mantendo o astral positivo, confiante, sem brigas e vencendo o estresse.
A permanência na maternidade além do tempo previsto é algo que exige do casal uma dose extra de confiança, resistência física e emocional. Acabam por compartilhar histórias de outras crianças que também foram vítimas de problemas ao nascer e pais que sofrem com casos complicados e doloridos, muitos deles vindo a óbito, apesar de todos os recursos da medicina moderna terem sido utilizados.
E aí está o nosso casal, convivendo com a dor da perda de outros pais, a incerteza de recuperação de seu filho em breve, a vontade de voltar pra casa o quanto antes, vivendo situações de desespero e tensão constante.
Médicos que trabalham em UTIs neonatais relatam a quantidade grande de casais que não suportam essa experiência, separando-se logo depois (e alguns até durante esse período). A tensão enorme requer amadurecimento de ambos, capacidade de superação, companheirismo, apoio mútuo e da família de origem, muita paciência e uma estrutura emocional minimamente desenvolvida.
Após passada a experiência, o casal pode sair fortalecido em seu vínculo, certo de que conseguirá enfrentar outros percalços que venham a atingi-los com tranquilidade. É sem dúvida uma situação de crescimento pessoal. Não dizem que temos que crescer pelo amor ou pela dor? Aqui se somam os dois!
Enfim, o casal deve estar ciente de que "nem tudo são flores" num casamento, e dificuldades sempre existirão. Para superá-las é necessário ter o amor como base, mas só ele não é o suficiente. Cada um deve investir na relação e em si próprio para conseguirem crescer juntos, evoluírem, e colherem os frutos disso durante os anos de convivência.
E assim, caso o amor perdure através dos tempos, podem viver fazendo jus à frase dita lá na cerimônia do casamento: "(...) amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida".
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