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Parte de um programa de emagrecimento do qual faz parte uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde, a cirurgia bariátrica revolucionou a forma como se trata a obesidade. Não é à toa que, em março de 2013, o Ministério da Saúde reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para realizar o procedimento pelo SUS, visto que o excesso de peso considerado prejudicial à saúde tem se tornado uma epidemia que atinge pessoas cada vez mais jovens.
Mesmo sendo tão divulgada, entretanto, ainda restam muitas dúvidas sobre a cirurgia. Muitas pessoas sequer sabem, por exemplo, que existem quatro técnicas diferentes de realizá-las reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM): Banda Gástrica Ajustável, Gastrectomia Vertical, Bypass Gástrico e Derivação Bileopancreática. Para saber como cada um funciona, portanto, conversamos com uma equipe de experts para esclarecer tudo sobre o assunto. Confira:
1. Quais os pré-requisitos para indicação de cirurgia para tratamento da obesidade?
"A indicação da cirurgia, independente da técnica, é baseada em quatro fatores: grau de obesidade, tempo de evolução da doença, tentativas de tratamentos anteriores e a presença de doenças associadas", explica o cirurgião do aparelho digestivo Denis Pajecki, membro do Departamento de Cirurgia Bariátrica da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
2. O que define a escolha de uma ou outra técnica?
Primeiramente, é necessário reforçar que a escolha da técnica a ser usada é do médico e não do paciente, afirma o cirurgião bariátrico Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). "Só ele saberá avaliar qual o melhor procedimento para tratar a obesidade e possíveis doenças associadas, como diabetes, sem oferecer grandes riscos ao paciente", aponta. Um paciente que precisa perder muito peso, por exemplo, deveria ser submetido ao tipo de cirurgia bariátrica mais invasivo, pois ele resulta em uma perda maior da porcentagem de peso. Se esse paciente apresentar idade avançada, entretanto, o médico pode optar por um procedimento menos complexo para não colocar a vida do indivíduo em risco. "A escolha é feita caso a caso e depende de inúmeras variáveis", complementa.
3. Qual o tipo mais complexo e o menos invasivo?
Segundo explica o cirurgião bariátrico Almino, a cirurgia bariátrica com Banda Gástrica Ajustável é a mais simples de todas e, consequentemente, a que leva a menor porcentagem de perda de peso. Em segundo lugar, vem a Gastrectomia Vertical, que já inclui corte, sutura e uso de grampos. Depois dela, a mais complexa é a cirurgia bariátrica com Bypass Gástrico que além da redução do estômago também cria um desvio no intestino do paciente. Por fim, a que leva a maior porcentagem de perda de peso, mas que também é a mais complexa é a cirurgia com Derivação Bileopancreática, pois o desvio do intestino é maior do que o da anterior. Veja na galeria ao fim desta matéria como funciona cada uma das técnicas.
4. Quanto tempo dura cada procedimento?
O tempo de duração de cada tipo de cirurgia bariátrica varia de acordo com as condições do paciente, de possíveis complicações e do médico que realizará o procedimento. De forma geral, entretanto, o cirurgião bariátrico Almino aponta que a banda gástrica leva cerca de 30 minutos, a gastrectomia vertical em torno de uma hora, o by-pass por volta de uma hora e meia e a derivação bileopancreática cerca de duas horas e trinta minutos.
5. Qual a anestesia usada em cada tipo de cirurgia bariátrica?
Segundo o endocrinologista Josivan Lima, membro do departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a cirurgia bariátrica pode ser uma cirurgia aberta ou realizada por vídeo-laparoscopia e, portanto, requerem o uso de anestesia geral.
6. Como ocorre a perda de peso?
De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Denis, a perda de peso ocorre por conta da restrição alimentar a que o paciente é submetido com a cirurgia, a menor absorção de nutrientes e do aumento do metabolismo. Com a Banda Gástrica há perda de 20 a 30% do peso inicial; com a Gastrectomia Vertical, 30 a 40% do peso inicial; com o Bypass é possível perder de 40 a 45% do peso inicial e com a Derivação Bileopancreática, o paciente perde de 40 a 50% do peso inicial.
7. Todos os tipos de cirurgia bariátrica ajudam no controle do diabetes tipo 2?
"Pacientes com obesidade e diabetes tipo 2 que se submetem a qualquer um dos tipos de cirurgia bariátrica apresentam melhora do quadro de diabetes, pois a própria gordura gerava resistência à ação da insulina", aponta o endocrinologista Josivan. Se o controle será total ou parcial, depende de inúmeros fatores, como idade, gravidade do diabetes, tempo de convivência do paciente com o problema, etc. De modo geral, as cirurgias com desvio intestinal (Bypass Gástrico e Derivação Bileopancreática) são as mais eficazes no controle da doença por meio do estímulo à produção de hormônios.
8. Como é o pós-operatório?
"Depois que a cirurgia bariátrica passou a ser feita com vídeo-laparoscopia, a recuperação do paciente melhorou muito, pois de incisões de 15 ou 20 centímetros, passamos a quatro ou cinco furinhos de um centímetro cada no abdômen", aponta o cirurgião bariátrico Almino. Assim, o tempo de internação costuma durar dois ou três dias e atividades rotineiras podem ser retomadas após um período de 10 dias. Carregar muito peso ou fazer exercícios intensos são liberados apenas depois do primeiro mês.
Em relação à dieta, há algumas recomendações básicas também. Na primeira semana, o paciente deve se alimentar apenas com líquidos. Na segunda, as refeições se tornam mais cremosas. Na terceira, podem ser consumidos alimentos com a consistência de um purê. A partir da quarta semana, começam a ser introduzidos alimentos sólidos na dieta. O objetivo é que o paciente tenha uma dieta equilibrada a partir das fases de adaptação. A suplementação costuma ser necessária também e deve ser alinhada com o profissional que participa do programa de emagrecimento do paciente.
9. Há risco de engordar novamente?
De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Denis, uma recuperação de 10 a 15 quilos do peso mínimo atingido é considerado normal. "Ganhos mais acentuados estão, na maior parte das vezes, relacionados ao abandono do programa e à adoção de maus hábitos, como consumo excessivo de carboidratos e intervalos grandes em jejum", explica.
Banda Gástrica
A Banda Gástrica é um dispositivo de silicone colocado no começo do estômago. Ela fica ligada a uma espécie de reservatório no qual é possível injetar água destilada para apertar mais o estômago ou esvaziar para aliviar a restrição. A vantagem do método é o fato de ele ser reversível, pouco invasivo, o que reduz a mortalidade, e permite ajustes individualizados. Por outro lado, há risco de rejeição da prótese ou infecção e a perda de peso é, muitas vezes, insuficiente para que a saúde do paciente seja considerada estável. Ela é inadequada ainda para pacientes com compulsão por doces, portadores de esofagite de refluxo e hérnia hiatal volumosa. Ela corresponde a 5% dos procedimentos.
Gastrectomia Vertical
A Gastrectomia Vertical remove de 70 a 85% do estômago do paciente, transformando-o em um tubo estreito. Desta maneira, há redução do hormônio grelina, associado à fome e a absorção de ferro, cálcio, zinco e vitaminas do complexo B não é afetada. Se não funcionar, pode ser transformada em Bypass Gástrico ou Derivação Bileopancreática, mas não é reversível, como a Banda Gástrica. Além disso, por envolver procedimentos mais complexos também está ligada a um risco maior de complicações. Corresponde a 15% dos procedimentos.
Bypass Gástrico
O Bypass Gástrico diminui para 10% a capacidade do estômago, restringindo a quantidade de comida ingerida e desviando esses alimentos para a primeira porção do intestino, chamada duodeno, até a porção intermediária do órgão, chamada jejuno. Dessa maneira, há redução do hormônio grelina, responsável pela fome e liberação de hormônios próprios do intestino que promovem saciedade. Com ele, o apetite do paciente é reduzido praticamente sem diarreia e desnutrição, e doenças associadas à obesidade apresentam rápida melhora. Os riscos incluem fístulas, embolia pulmonar e infecções. O Bypass corresponde a 75% dos procedimentos.
Derivação Bileopancreática
A Derivação Bileopancreática é uma associação da Gastrectomia Vertical, com 85% do estômago retirado, com desvio intestinal. Esse desvio faz com que o alimento venha por um caminho e os sucos digestivos (bile e suco pancreático) venham por outro e se encontrem somente a 100 cm de acabar o intestino delgado, inibindo a absorção de calorias e nutrientes. A vantagem é que a técnica possibilita maior ingestão de alimentos, reduz a intolerância alimentar e promove maior perda de peso. Por outro lado, pode ocorrer desnutrição de intensidade variável ao longo do tempo. Diarreia, flatulência e deficiência de vitaminas também são comuns. A Derivação Bileopancreática corresponde a 5% dos procedimentos.