Médico endocrinologista graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com residência em Endocrinologia no Instit...
iHoje vamos falar um pouco sobre "restrição energética intermitente". Não! Não é a mesma coisa que "jejum intermitente". É parecido, mas não é igual. Calma que eu vou explicar melhor. A restrição energética intermitente funciona da seguinte forma: períodos de uma a cinco semanas de restrição calórica são intercalados com períodos semelhantes de dieta à vontade. Ou, simplificando: períodos de dieta são alternados com períodos sem dieta (e com ingestão alimentar totalmente liberada).
A ideia é que, com estes blocos de interrupção na dieta, o paciente tenha períodos de "repouso metabólico" nos quais seria possível, em tese, atenuar alguns dos mecanismos que são acionados pelo organismo diante de uma perda de peso importante ou quando há uma restrição alimentar considerável. Tais mecanismos atuam de forma a devolver o indivíduo ao seu peso corporal inicial.
É como se o corpo defendesse um peso que julga ser o peso correto para você. Mesmo que não seja. Teoricamente, durante um processo contínuo de perda de peso, sem as tais pausas, estes mecanismos compensatórios seriam mais intensos e com isso, a manutenção do peso que foi perdido se torna mais difícil.
Saiba mais: Jejum Intermitente: confira o guia para começar a dieta
Mas isso realmente funciona?
A fim de estudar mais a fundo esta teoria, pesquisadores conduziram um estudo com 47 pacientes obesos que ficou conhecido como "estudo MATADOR". Da sigla inglesa "Minimizing Adaptive Thermogenesis And Deactivating Obesity Rebound". Em tradução livre algo como "Minimizando a termogênese adaptativa e desativando o rebote da obesidade". O próprio título do trabalho já ajuda a entender o objetivo dos pesquisadores: desativar a chamada termogênese adaptativa, um dos mecanismos citados acima que são acionados quando se perde muito peso ou quando fazemos uma restrição energética importante. A termogênese adaptativa é a redução da taxa metabólica basal que acontece quando perdemos peso e que dificulta a manutenção do peso que foi perdido. Vale lembrar que este é apenas um dentre vários destes mecanismos.
Voltando ao estudo: metade dos participantes recebeu uma dieta convencional, com restrição energética contínua durante 16 semanas seguidas. A outra metade foi submetida a uma restrição na ingestão alimentar de mesma monta, porém, intercalando períodos de duas semanas em dieta com duas semanas sem dieta. Entretanto, diferente dos demais estudos nesta área, ao invés de permitir uma dieta livre, nestes intervalos a dieta era desenhada para manter o peso (evitando o reganho de peso). Esse grupo recebeu, portanto, uma intervenção por um período total de 30 semanas (oito blocos de duas semanas cada de restrição energética intercalados com sete blocos de duas semanas cada de dieta visando um equilíbrio no peso). Após este período, ambos os grupos foram acompanhados sem qualquer dieta específica por mais 6 meses a fim de se avaliar a capacidade de manutenção do peso perdido com cada estratégia.
Os resultados foram surpreendentes: houve uma maior perda de peso no grupo que recebeu a restrição energética intermitente (perda de 14,1 kg, contra 9,1 kg no grupo dieta convencional) com maior perda de massa gorda e com a mesma perda de massa magra. Pode ser comprovada uma redução menos expressiva da taxa metabólica basal no grupo intermitente. Em outras palavras houve atenuação da termogênese adaptativa. Além disso no período de extensão do estudo (lembram do acompanhamento de 6 meses?) houve menor recuperação do peso.
Conclusão: a dieta intermitente pode funcionar!
Sendo assim podemos concluir que a restrição energética intermitente parece atenuar alguns dos mecanismos que dificultam a manutenção da perda de peso, em especial a chamada termogênese adaptativa. Mais estudos são necessários, pois nem todos os trabalhos realizados com tal técnica mostram o mesmo resultado.
Além disso vale lembrar que o estudo MATADOR foi feito em um ambiente altamente controlado, muito diferente do dia-a-dia dos pacientes, onde entre outras características, até mesmo as refeições dos pacientes eram fornecidas pelos pesquisadores facilitando muito a adesão ao tratamento proposto. Provavelmente a reprodução de tais condições no mundo real (nos consultórios médicos) não será tarefa das mais fáceis. A restrição alimentar intermitente é uma ferramenta diferente do chamado jejum intermitente e merece mais estudos.
Outro ponto a ser ressaltado diz respeito ao aspecto motivacional de tal abordagem. É comum os pacientes desanimarem quando diante de uma dieta ?tradicional? mantida por períodos muito prolongados. Fazer pequenas pausas (controladas) pode favorecer a adesão uma vez que quebra a monotonia das restrições energéticas contínuas. Quem sabe? Isto ainda não foi comprovado por estudos clínicos, mas parece fazer sentido, não é mesmo? Afinal de contas, quem é que aguenta a mesma dieta o tempo todo? Vamos então aguardar e ver no que vai dar. Só o tempo, e as pesquisas, vão nos dizer!
Bons treinos!