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![Colagem com diferentes imagens de japoneses usando máscara](https://static1.minhavida.com.br/articles/2b/c1/52/ed/colagem-com-diferentes-imagens-de-japoneses-usando-mascara-article_m-1.png)
É um dos grandes paradoxos do Japão. Também uma daquelas imagens de cartão postal da nação. Quando a primavera chega, um véu colorido de flores vibrantes e fragrâncias inebriantes cobre todo o país, a natureza se revela bela, mas por baixo dessa camada harmoniosa, uma estratégia implacável é executada e implantada para os humanos.
Quase ao mesmo tempo, milhões de pessoas começam a sentir espirros incontroláveis, olhos irritados e baixa produtividade. Hoje, a crise sazonal se tornou um problema social, e tudo devido a uma guerra.
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Um inimigo invisível
Em 2023, o então primeiro-ministro japonês Fumio Kishida disse que a chamada febre do feno, ou kafunshō (literalmente, "doença do pólen"), era, de fato, uma emergência nacional que exigia uma resposta imediata.
Com os níveis de pólen em Tóquio atingindo níveis recordes na última década, Kishida fez da crise uma prioridade do governo, anunciando um plano que não deixava espaço para diplomacia com o inimigo: as árvores.
Com 42,5% da população afetada e um impacto econômico estimado de 2,2 bilhões de dólares anuais, o problema atingiu uma escala nacional que forçou o governo a considerá-lo uma questão de política pública.
A origem de tudo: a guerra (e o homem)
Ao contrário de outros países onde a febre do feno é uma condição incômoda, mas controlável, no Japão seu impacto se deve a uma decisão política histórica. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Japão sofreu uma devastação sem precedentes. O bombardeio aliado destruiu grande parte dos edifícios de madeira da cidade, criando uma crise de materiais de construção no país.
Após o fim do conflito, o governo promoveu o reflorestamento em massa com cedros e ciprestes para impulsionar a indústria madeireira nacional. Fazia sentido: são espécies nativas que crescem rapidamente e têm troncos retos, ideais para a produção de madeira.
No entanto, com o tempo, a demanda por madeira diminuiu devido à importação de madeira barata do exterior e essas florestas foram abandonadas à própria sorte, com vastas áreas de florestas de monocultura abandonadas, se tornando gigantescas fábricas de pólen.
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Hoje em dia
Hoje, mais de 40% das florestas japonesas são dominadas por essas espécies altamente alergênicas, o que faz com que até mesmo pessoas sem histórico de alergias desenvolvam sintomas após apenas alguns anos de residência no país.
A situação é tão grave que algumas empresas começaram a oferecer subsídios para tratamentos médicos e produtos antialérgicos aos seus funcionários, já que a febre do feno reduz a produtividade de um terço da população.
Contra-ataque do Japão
A resposta do governo japonês foi radical: em 2023, ele ordenou a erradicação das árvores responsáveis pelo pólen. Em uma campanha sem precedentes, o país iniciou um grande plano para limpar e substituir florestas, substituindo cedros e ciprestes existentes por espécies que produzem menos pólen. Embora o processo leve anos, o objetivo é claro: enfraquecer a produção de pólen e aliviar o fardo dos milhões de japoneses afetados a cada ano.
Uma temporada de alergias mais intensa (e precoce)
O Japan Times informou que o Japão está enfrentando uma das temporadas de kafunshō mais severas de sua história neste ano, com níveis de pólen que podem dobrar em algumas regiões em comparação ao ano passado.
A detecção precoce de pólen de cedro em Tóquio em 8 de janeiro marcou o início de um período particularmente desafiador para milhões de pessoas que sofrem de sintomas como espirros, congestão, irritação nos olhos, conjuntivite, fadiga e problemas de pele. Diante dessa situação, a necessidade de medidas de proteção impulsionou uma transformação na indústria de produtos antialérgicos, unindo funcionalidade e estética.
Uma sociedade adaptada à guerra sazonal
Enquanto o governo avança com seu plano de desmatamento seletivo, a população desenvolve sua própria defesa contra a praga do pólen. No Japão, a febre do feno gerou toda uma economia de produtos especializados, que vão desde máscaras para filtragem de pólen até óculos de proteção, sprays repelentes e purificadores de ar pessoais.
As empresas levaram a luta contra a febre do feno ao próximo nível, incorporando tecnologia de ponta para minimizar os efeitos da alergia na vida cotidiana. Isso levou à integração de máscaras projetadas não apenas para filtragem de pólen, mas também para melhorar a estética facial e proteger a pele dos danos ambientais.
As máscaras, onipresentes na sociedade japonesa mesmo antes da pandemia, evoluíram de simples barreiras de filtragem para produtos que incorporam benefícios adicionais.
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